Numa conferência organizada pela Goldenergy e pela Axpo, esta semana, foram debatidos os desafios e as oportunidades do biometano em Portugal – um gás CH4, de composição semelhante à do gás natural, que poderá ser um dos elementos fundamentais à transição energética no nosso país.
Gabriel Sousa, CEO da Floene, foi um dos oradores da sessão e defendeu que a introdução deste gás na rede poderá ser facilitada exatamente pela composição semelhante ao gás natural, permitindo a cada fornecedor “a capacidade de controlar a injeção e a qualidade” do gás. Além disso, o biometano poderá representar uma oportunidade de “diversificação de pontos de injeção na rede”, espalhados por todo o território nacional.
Para o responsável da Floene, o biometano apresenta outras vantagens como “reduzir os custos associados aos objetivos de descarbonização” e “as indústrias não têm de substituir equipamentos ou mudar o processo de fabrico”, por se tratar de um composto semelhante ao gás natural já utilizado.
“A tecnologia existe e é madura”, mas “2030 é amanhã” e é preciso “correr” para cumprir as metas. Gabriel Sousa exemplificou com o caso da França, que por semana está a ligar duas a três centrais de biometano à sua rede de gás.
No caso da Floene, garantiu existir interessados no biometano, “mas vemos como essencial os regulamentos, os mecanismos e um quadro legislativo enquadrado e estável”, pois os “investidores precisam desta estabilidade”.
Desta ideia partilhou Jorge Lúcio, presidente da APEG (Associação Portuguesa de Empresas de Gás), que frisou que “ninguém vai investir se não tiver uma garantia” e que defendeu que o financiamento em projetos de biometano deve ser feito com a identificação dos pontos mais críticos.
Já Ricardo Aguiar, investigador na Direção-Geral de Energia e Geologia, baseou o seu discurso na importância da valorização económica do biometano, pois este gás será “muito importante no horizonte temporal de 10 anos”, quando se fala em transição energética.
Todavia, será necessário identificar onde se irão instaladas as centrais de biometano, porque “é preciso ter escala”, e isso dependerá da concentração dos resíduos agrícolas, orgânicos e agroindustriais no território nacional.
Posto isto, Gabriel Sousa da Floene pediu ao setor da energia que “saia da caixa” e se misture com o setor dos resíduos e da agropecuária, pois a solução virá da triangulação destes três setores de atividade. Se tal acontecer, numa visão otimista, em 2050 poderá substituir-se 60% a 70% do consumo de gás natural pelo consumo de biometano.
A Conferência “Qualificar Portugal para uma Economia do Biometano” aconteceu esta terça-feira, 25 de março, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, sob a presença de diferentes players dos setores da energia, dos resíduos e da agricultura.