É verdade que o setor agropecuário poderá ser um dos mais importantes para a produção de biometano em Portugal, daí Cláudia Pereira da Costa da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) considerar que trazer este setor para a discussão sobre uma economia deste biogás “faz todo o sentido”.
Numa conferência organizada pela Axpo e pela Goldenergy, a responsável garantiu que o “setor agrícola olha para a energia enquanto utilizador e com preocupação da redução de custos” da mesma. Além disso, felicita “a nova perspetiva onde o setor surge como ajuda à produção de energia”.
Sendo o setor agropecuário cheio de subprodutos que podem ter uma dupla finalidade, é extremamente fundamental “contribuir para diminuir a dependência das energias fósseis e apoiar a descarbonização da economia”.
Afirmando que “há potencial e interesse do setor agrícola” nesta dinâmica, Cláudia Pereira da Costa referiu ainda que a produção de biometano poderá depender da disponibilidade da matéria-prima e da sua quantidade para justificar a instalação de uma central.
Também o setor dos resíduos foi chamado à equação e Nuno Soares, presidente da Tratolixo, defendeu o seu enorme potencial para o biometano, mas também o proporcional desafio, que estará essencialmente ligado com a recolha seletiva de resíduos orgânicos.
Só desde 1 de janeiro de 2024 que a recolha de biorresíduos é obrigatória por parte de todos os municípios portugueses, mas foram ainda dados “passos muito curtos” nesta matéria. No caso da Tratolixo, o investimento neste segmento começou bem antes, mas mesmo assim 76% dos resíduos que chegam ainda são indiferenciados e com 65% destes a serem de origem orgânica.
Desta forma, pediu “investimento, incentivo e mais informação” para melhorar a recolha de biorresíduos, pois estes orgânicos poderão ter uma contribuição muito forte na produção de biometano. Internamente, na Tratolixo, o resíduo orgânico já está a ser usado para a produção de energia elétrica.
Por sua vez, Paulo Almeida da Primus Ceramics e vice-presidente da APICER, afirmou que o uso de biometano na indústria da cerâmica e vidreira não representa uma “transição energética tão linear” e dependerá de garantias de origem e de outras questões burocráticas.
O responsável considerou urgente que o uso de gases renováveis na indústria a tornem mais competitiva, mas o processo ainda é “muito embrionário e há metas europeias a cumprir”, havendo “dificuldade para quem quer realmente descarbonizar”. “Há poucos meios para fazer este caminho”, concluiu ainda.
A Conferência “Qualificar Portugal para uma Economia do Biometano” aconteceu esta terça-feira, 25 de março, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, sob a presença de diferentes players dos setores da energia, dos resíduos e da agricultura.