“A forma como te alimentas é o teu superpoder contra as alterações climáticas”. Este é o claim da campanha “Eat4Change” (Comer pela Mudança), lançada oficialmente, esta quinta-feira, dia 14 de outubro, pela ANP | WWF Portugal. Trata-se de um projeto de âmbito internacional, coordenado pela WWF Finlândia e implementado em 12 países, dos quais Portugal faz parte. Financiado pelo programa da Comissão Europeia DEAR, o projeto arrancou em maio de 2020 e terminará em abril de 2024. Promover a transição da dieta sustentável, procurando trabalhar não só com o consumidor, mas também com as empresas e autoridades para que sejam adotadas práticas de produção sustentável é o grande objetivo da campanha.
Ângela Morgado, diretora executiva da WWF Portugal, iniciou a sua intervenção abordando a “alimentação” como um todo: “É um tema muito caro a todos os portugueses, onde há muitas ideias preconcebidas, uma vez que alimentação faz parte da cultura, tradição ou vivência social”. Por isso, além de ser um tema que requer “coragem” para o abordar, também requer “determinação” para obter resultados: “Não podemos ficar aquém daquilo que o planeta está a precisar sob pena de perdermos a nossa condição de viver num planeta saudável”. A questão da alimentação é, assim, vista como “fulcral” para se atingir uma “natureza positiva” e, consequentemente, “travar as alterações climáticas” e a “perda da natureza”. E para a WWF, a nível internacional, é também uma prioridade: “Se conseguirmos mudar a dieta das pessoas vamos travar a perda da natureza. Esta é já uma questão que vai além das preocupações da ONG: é uma preocupação dos cidadãos”, assegura. E a importância “alimentação” é justificada pelo facto de se tratar de um tema que toca numa multiplicidade de áreas, desde a “disponibilidade da água”, a “qualidade dos solos”, a “perda de biodiversidade”, a “qualidade da saúde”, os “direitos humanos”, até à “educação”. Desta forma, através do Eat4Change pretende-se ainda uma “colaboração conjunta” entre os diferentes setores, sem focar apenas os (setores) ambientais: “Queremos envolver todos para fazer a mudança”, refere.
Citando alguns dados, Ângela Morgado refere que a forma como, hoje, o cidadão se alimenta é uma das principais “causas de degradação do ambiente” a nível internacional e nacional: “Os maus hábitos alimentares foram considerados o quinto fator de risco que mais contribui para perda de anos de vida saudável em Portugal”. Na visão da responsável, o tema “dieta sustentável” ainda não está como deveria estar a agenda política nacional: “Há algumas abordagens que fazem parcialmente e não na totalidade como este tema merece”. Mas, afinal o que é uma dieta sustentável? “É uma dieta que é boa para o planeta e que é boa para as pessoas”. Por um lado, promove a produção de alimentos que “protege, conserva e não degrada a natureza” e, por outro lado, “utiliza os recursos naturais de forma saudável e sustentável”, acrescenta.
Voltando à campanha, Ângela Morgado fez questão de sublinhar que a WWF não defende a “eliminação total de qualquer alimento”, seja a carne ou o peixe: “Somos a favor de produtos produzidos responsavelmente e das escolhas melhores para a saúde do planeta e para as pessoas”. Uma das propostas do projeto é que, daqui a cinco anos, os portugueses consigam ter uma alimentação diferente, tendo como consequência, uma “melhor saúde mental e física” e uma “melhor natureza”. Por isso, o Eat4Change quer contribuir para que a agricultura deixe de “ocupar cerca de 40% das terras habitadas do planeta” e, que deixe de ser o “principal motor da perda da biodiversidade”. Além disso, quer que a “produção alimentar deixe de contribuir com cerca de 25% de gases com efeito de estufa”. E o mais desafiante: “Que a dieta seja mais diversificada daquela que é praticada hoje onde se opta quase sempre pelos mesmos produtos”. E os números são assustadores: “A dieta de hoje utiliza de 80% das terras agrícolas e contribui para 60% das emissões de CO2”. Por isso, se a tendência não for invertida, uma das (muitas) áreas que será fortemente atingida é sobre exploração dos recursos hídricos: “O nosso país é um hotspot onde vai existir seca extrema”, alerta.
Para que as pessoas em Portugal tenham uma alimentação baseada na “dieta sustentável” e que vivam em “harmonia com a natureza”, a diretora executiva do WWF Portugal não tem dúvidas da importância de “consumidores conscientes”, “empresas e organizações conscientes do esforço em produzir de forma sustentável” e “Governos empenhados em promover a regulamentação adequada para este processo todo”.
No âmbito da Eat4Change está previsto, em 2021, o lançamento de um Guia de Consumo de Proteína Animal onde se pretende ajudar a compreender o impacto que determinado produto de origem animal tem no planeta. Posteriormente, a criação de uma aplicação com conteúdos do Guia e com algumas receitas. Já em 2022, será lançado um cabaz com produtos alimentares sustentáveis, bem como ações de formação – workshops – em parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Também para o próximo ano, a Eat4Change vai ser presença assídua em vários festivais de verão.
A campanha Eat4Change, dirigida aos jovens entre os 15 e os 35 anos, tem uma grande presença digital, mas conta também com elementos físicos, nomeadamente, em mupis perto das instituições escolares.