“É uma insensatez que a Europa continue dependente essencialmente de um fornecedor de energia”
A aposta nas energias renováveis é algo que o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, tem vindo a reforçar constantemente. Desta vez, o alerta foi feito na sessão “Europa e América Latina: Energias alternativas ou velhas soluções perante a crise energética, em contexto de pós-pandemia” promovida no âmbito do Seminário “América Latina e União Europeia: dois parceiros estratégicos na cena mundial. O Brasil, motor da recuperação pós-Covid”, realizado na passada sexta-feira, 4 de março, pela Casa da América Latina e a Fundacíon Euroamerica: “Mesmo num tempo tão estranho como este, mais do que nunca aposta que temos de fazer é a aposta nas energias renováveis”.
Em 2021, 59% da eletricidade consumida em Portugal teve como origem as fontes renováveis: “Se tivéssemos 100% dessa mesma eletricidade produzida a partir de fontes renováveis, certamente que a questão da energia, em consequência daquilo que é a guerra, hoje seria uma questão muito menos relevante para o país”. Para o chefe da pasta do Ambiente, não restam dúvidas de que “é a partir da produção de eletricidade a partir de fontes renováveis que conseguiremos cumprir as metas de redução de emissões, ter eletricidade mais barata e uma maior estabilidade de preços”. Este é o caminho que garante “uma muito maior independência energética”, defende Matos Fernandes, constatando que “Portugal, sendo um país que tem recursos naturais suficientes para produzir 100% da sua eletricidade, não pode deixar de fazer essa aposta: é isso que temos vindo a fazer”.
Para o ministro, é no “investimento” que Portugal vai conseguir combater os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente nas “novas formas de mobilidade, nas novas energias, nas novas formas e nos novos processos na indústria, bem como no setor electroprodutor”r para garantir que, em 2050, 100% da eletricidade é produzida a partir de fontes renováveis: “É um investimento a cada ano de 2 mil milhões de euros a mais para além do cenário business as usual”. Sabendo que nem todos os processos industriais ou os sistemas de mobilidade conseguem viver “diretamente da eletricidade”, Matos Fernandes defende que o país deve desenvolver o seu próprio setor de gases renováveis, onde biometano e hidrogénio têm um papel essencial.
Apesar do papel central da Europa e do compromisso assumido em ser o primeiro continente neutro em 2050, o ministro do Ambiente atenta na importância dos produtos e dos processos desenvolvidos serem também uma ferramenta fundamental para o crescimento da própria economia e da distribuição do bem-estar que daí poderá resultar: “O combate às alterações climáticas é um combate que nenhum país ganha sozinho e é essencial que esta vontade e compromisso envolvam todos os continentes, países e, necessariamente, a América Latina”. É precisamente na América Latina que Matos Fernandes lembra os “exemplos excecionais” que têm sido promovidos, por exemplo, na Costa Rica, em prol da “sustentabilidade ambiental”, assim como no Brasil, com uma “tradição muito rica na produção de eletricidade a partir de fontes hídricas e das barragens”. O Brasil é ainda um país que conta com empresas e com know-how de portugueses que têm vindo a expandir negócio com foco na produção de eletricidade a partir da fonte eólica: “Tudo isto são investimentos no sentido certo que, não só ajudam o mundo como um todo a cumprir os seus objetivos de neutralidade e carbónica, como são investimentos que fazem crescer a economia e criam emprego cada vez mais qualificado”.
Num altura em que o mundo é confrontado com uma guerra na Europa, João Pedro Matos Fernandes parece não ter dúvidas das duas apostas que têm de ser feitas simultâneamente: “Naquilo que são as fontes renováveis para a produção de energia como um todo, de maneira a substituir o gás natural por gases renováveis; e de estarmos todos ligados de maneira a que possamos partilhar e defendermo-nos daquilo que possa ser a escassez de fonte de energia, ou seja, do gás [vindo da Rússia], do qual a Europa depende muito”. E aqui Portugal pode ter um papel fundamental num Porto: “Através do Porto de Sines, (o país) tem capacidade para receber todo os gás natural que consome”. Num investimento de “330 mil milhões de euros”, Portugal pode ser mais um posto de abastecimento para a Europa: “É um projeto pensado para os gases renováveis e que, durante um par de décadas, será utilizado para o gás natural, procedendo-se depois a essa transferência. É uma insensatez que a Europa continue dependente essencialmente de um fornecedor de energia”.