“A E-REDES passou de uma empresa que geria fios e postos de transformação para uma empresa que gere dados e que acaba por ser um ator na silvicultura (…) e [que] tem acabado por alargar as atividades, com novas áreas de preocupação e de atenção”. Este foi o ponto de partida para José Ferrari, presidente do Conselho de Administração da E-REDES, destacar a grande importância da gestão da vegetação, algo que se tem agravado na última década: “É a necessidade de gerirmos muito pró-ativamente e é com o acompanhamento de especialistas que conseguimos dedicar-nos a uma tarefa que não estava no core da nossa atividade, que é muito importante para nós e que não conseguimos fazer sozinhos”.
O responsável, que falava na sessão de encerramento da conferência que a E-REDES promoveu esta quarta-feira, 24 de janeiro, quis ilustrar o problema, dando o exemplo do tamanho da rede de média e alta tensão gerida ou detida pela empresa: “De Lisboa a Pequim, são 12 mil quilómetros de carro. A nossa rede tem sete vezes essa distância e tem dos lados e em baixo vegetação que é preciso gerir, uma tarefa com uma dimensão muito grande e que tem levado a um custo progressivo para o país”. Com isto, José Ferrari destaca a necessidade de se mudar a perspetiva da “eficácia” para uma de “eficiência”, ou seja “estratégias sustentáveis que, na prática, se traduzem naquilo que não podemos fazer contra a natureza, mas com a ajuda da natureza: e aqui entram as pessoas com quem temos estado a falar, no sentido de pedir ajuda à natureza para aquilo que esteja adjacente a esta enorme infraestrutura, sejam espécies colaborativas e que não sejam espécies que seja contraditórias” do objetivo de “resguardar esta rede dos incêndios”, atenta.
Mas o tema não se esgota à vegetação, considera o responsável, chamando a atenção para a questão do “pastoreio” ou de “outros intervenientes que nos consigam controlar esta questão e ter a tal ajuda da natureza” para controlar a vegetação nas faixas: “Há obviamente que ter em consideração que, para termos uma abordagem sustentável ao problema, temos de ter especialistas do ponto de vista de vegetação”, mas também as dimensões do “poder local e os proprietários”. Neste último, José Ferrari atenta na dificuldade que o país tem na sua identificação: “Estes imensos quilómetros de rede atravessam muitas áreas (rurais) em que, por vezes, é difícil identificar proprietários”. No fundo, “estamos a falar de algo que tem que contar com a vontade de um conjunto alargado de intervenientes e algum racional económico para que seja sustentável”, sustenta.
Num panorama que tem vindo a agravar-se, o CEO da E-Redes está confiante: “Quando as coisas são difíceis, tem que se começar e, passo-a-passo, dar a direção no sentido de as alcançarmos, com a ajuda de especialistas e conjugação de vontades e mobilização”. E neste âmbito a E-REDES está muito interessada em participar na questão: “Conseguimos ser mobilizadores, criar discussão e temos contactos muito frutuosos de grande abertura e colaboração”. Ainda assim, José Ferrari atentou na questão da “escala”: “Nas sete vezes que nos separa daqui a Pequim, conseguir ter escala e mobilizar o país para que consigamos resolver o problema de forma eficiente” é um desafio, até porque, “se projetarmos no tempo aquilo que temos vindo a gastar em gestão de vegetação nos últimos cinco anos, acredito que daqui a 20 anos, se continuarmos nesse caminho, vamos ter um problema bicudo para resolver (…) e temos a responsabilidade para agora iniciarmos essa resolução”, remata.
O tema do debate centrou-se na gestão da vegetação e biodiversidade e decorreu no Salão Nobre da Tapada de Mafra.
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