“É necessário intensificar a descarbonização e a defesa dos ecossistemas e da biodiversidade”

A sociedade mobiliza-se, cada vez mais, para diminuir os impactos diretos e as repercussões das alterações climáticas. Ainda assim, os desafios são muitos quando o tempo é cada vez mais escasso. Por isso, no rumo à sustentabilidade, todos são chamados a fazer a sua parte. A Ambiente Magazine esteve à conversa com Cristina de Sousa, diretora do Mestrado em Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade (MEAS) do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, que falou da importância das instituições de ensino e das faculdades na investigação que contribui para a melhoria do meio ambiente e da sociedade.

  • Faça uma pequena descrição do Mestrado em Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade.

A relevância e atualidade do ambiente e da sustentabilidade é hoje incontestável, existindo urgência em encontrar soluções que tornem a relação sociedade-ambiente mais sustentável. O Mestrado em Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade (MEAS) oferece uma formação multidisciplinar, reunindo o contributo de várias ciências sociais e recorrendo a uma pluralidade de abordagens e de metodologias. A sua organização curricular oferece oportunidades para a integração interdisciplinar dos vários conhecimentos na busca de resposta aos desafios do ambiente e sustentabilidade.

  • Quando surgiu?

O MEAS nasceu da vontade do Iscte de fazer convergir as suas competências de investigação e de ensino para formar profissionais capazes de contribuir para aumentar a sustentabilidade da relação sociedade-ambiente. Teve a sua primeira edição no ano letivo de 2013-2014 e, desde então, a sua procura tem crescido de forma sustentada, confirmando o interesse das temáticas, a originalidade do programa e a qualidade do corpo docente.

  • Qual o seu objetivo?

O MEAS visa formar profissionais que possam contribuir para as respostas aos desafios da transição para sociedades mais sustentáveis. Os estudantes exploram uma multiplicidade de temas como a adaptação às alterações climáticas, a economia circular, a conservação de recursos, a produção de energias renováveis, a proteção da biodiversidade e o planeamento sustentável do território, entre outros.

  • Que mais-valias traz este curso para o formando?

A perspetiva multidisciplinar, que acompanha o estudante ao longo dos dois anos do mestrado, através unidades curriculares que abordam os vários níveis de análise (cultural, institucional, social e individual) associados a diferentes ciências sociais (sociologia, antropologia, psicologia, economia), proporciona uma compreensão global das dimensões sociais e humanas da sustentabilidade e do ambiente, permitindo a formação de profissionais que sejam agentes de mudança na construção de um futuro mais sustentável. Este facto tem sido reconhecido pelos seus graduados, quer sejam jovens a preparar-se para a entrar no mundo do trabalho, quer sejam profissionais integrados em empresas, organismos públicos e outras instituições e que procuram aprofundar os seus conhecimentos e/ou adquirir novas competências.

  • Este mestrado integra uma “perspetiva multidisciplinar pioneira” no contexto português e do ISCTE. Porquê?

A reformulação da relação sociedade-ambiente numa direção mais sustentável, central nas temáticas do mestrado, exige mudanças a vários níveis interrelacionados, cuja compreensão requer abordagens holísticas.

No panorama nacional, o MEAS é um curso único na sua capacidade de apresentar e articular os contributos das várias ciências sociais para o ambiente e a sustentabilidade, integrando-as com outros campos relevantes.

Os estudantes recebem formação avançada numa multiplicidade de disciplinas e competências para mobilizar o conhecimento em torno de temáticas centrais – como a conservação de recursos, a adaptação à mudança climática, minimização de resíduos, as energias renováveis, a proteção da biodiversidade, o planeamento sustentável do território e da cidade, a reorganização da mobilidade urbana ou inclusão das comunidades nas decisões.

O mestrado tem assim uma perspetiva pioneira por destacar as mudanças ao nível da cultura e das mentalidades, ao nível dos grupos e da sua divergência de interesses e projetos, ao nível das instituições e das políticas públicas, ao nível do comportamento das empresas e agentes económicos, e ao nível dos indivíduos e das suas representações, atitudes e comportamentos.

  • Como é que avalia a relação sociedade-ambiente em Portugal? Há cada vez mais, uma maior preocupação por parte das pessoas, empresas ou organizações sobre estes temas?

Atualmente, a emergência climática é cada vez mais evidente na sociedade e há uma crescente consciencialização dos indivíduos, empresas, decisores políticos e instituições para a urgência de mudanças efetivas nos comportamentos. Existem a nível internacional e nacional objetivos e metas ambiciosos e têm sido realizados alguns progressos. Mas existe consenso de que é necessário intensificar a descarbonização e a defesa dos ecossistemas e da biodiversidade. Essa consciência é muito clara na motivação dos nossos estudantes, quer no momento do ingresso, quer nos temas que escolhem para desenvolver as suas dissertações ou projetos.

  • Que papel deve ter as instituições de ensino nestas matérias?

As instituições de ensino em geral e as universidades em particular podem e devem desempenhar um importante papel no desenvolvimento de soluções que tornem a relação sociedade-ambiente mais sustentável, quer pela via do ensino, quer pela via da investigação. No contexto nacional, o Iscte está na linha da frente destas preocupações não só em termos de investigação e ensino, mas também ao assumir a sua responsabilidade institucional na promoção da sustentabilidade e do alinhamento com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas.

*Este artigo foi publicado na edição 88 da Ambiente Magazine.