A poucas horas do arranque oficial da Conferência dos Oceanos, das Nações Unidas, que começa em Lisboa e se prolonga até sexta-feira, Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, fará parte do painel de abertura do simpósio que tem como tema “Salvar os Oceanos Proteger o Futuro”.
“É um dos mais importantes eventos laterais associados a Conferência dos Oceanos”, disse o ministro do Ambiente, em entrevista à Agência Lusa, destacando que o objetivo da conferência centra-se em “construir nexos entre aquilo que é a importância da salvaguarda da água doce” e a preservação dos oceanos e a luta contra as alterações climáticas.
Para o ministro, Portugal, tem trabalho feito nesta matéria, porque passou de 15% das águas residuais tratadas em 1990 para 99% na atualidade. “E isso tem um reflexo imediato ao nível, por exemplo, das praias de bandeira azul”, este ano cerca de 430. Ou seja: “Ao mar vai parar água tratada, o que se reflete na qualidade das águas costeiras, o que se reflete também na biodiversidade marinha”, declara Duarte Cordeiro, citado na Lusa.
Nas palavras do dirigente, o simpósio, cuja sessão de abertura contará, também, com intervenções de quatro ministros e do subsecretário-geral da ONU para a Economia e Questões Sociais, Liu Zheenmin, servirá também para debater temas como as alterações climáticas, a adaptação à falta de água ou as novas fontes de captação.
“O simpósio é a ligação entre a água doce e salgada. Queremos fazer a relação da importância que o tratamento e preservação da água doce tem para a qualidade dos oceanos”, salientou Duarte Cordeiro, acrescentando que quando se fala da despoluição dos oceanos, da necessidade de preservação da biodiversidade, é importante ter a noção da importância da qualidade da água.
E essa relação com a água está também ligada, de acordo com o dirigente, às alterações climáticas, à subida do nível das águas do mar, ao impacto na orla costeira, aos fenómenos meteorológicos extremos, mas também à capacidade de adaptação a situações de menos água e à gestão da seca, temas igualmente da reunião de alto nível.
No encontro desta segunda-feira vão ser assunto os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas relacionados com a água mas também as possibilidades de cooperação entre Estados. E nele participam mais de uma dezena de ministros e de responsáveis de organizações internacionais, entre eles o comissário europeu do Ambiente, Virginijus Sinkevičius.
A reunião antecede a Conferência da Água da ONU, em Nova Iorque em março do próximo ano, e visa contribuir para o processo preparatório dessa conferência, diz o ministro português.
Na entrevista à Lusa o ministro Duarte Cordeiro lembra que atualmente 34% do continente está em seca severa e 66% em seca extrema, e diz que em julho vai iniciar-se uma campanha de sensibilização sobre a matéria. E não tem dúvidas, essas campanhas não podem parar. “Todo este trabalho tem de ter dimensão de continuidade, não podemos dizer que temos de preparar-nos para menos água e não ter um trabalho de sensibilização constante”, rematou.
[blockquote style=”1″]”…vamos ter que nos habituar a viver com menos agua”[/blockquote]
Os portugueses vão ter de se habituar a viver com menos água, alerta o ministro do Ambiente, que deixa também um aviso a investidores: o Governo “não tem qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições” de consumo.
Em entrevista à Agência Lusa, numa altura em que o país vive uma das maiores secas de que há registo, o ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, salienta que o mais importante é haver água para consumo das pessoas, e que se começar a faltar água o Governo aplica “as restrições que forem necessárias”. Para o ministro, “não vale a pena, quem promove determinado tipo de investimentos ou infraestruturas, não ter em consideração que a água é um recurso escasso. E não temos qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições quando tal é necessário. É o que temos feito”.
À Lusa, Duarte Cordeiro deixou o aviso de que quem investe sem ter em conta a escassez de água pode ter consequências: “É importante explicar que vamos ter que nos habituar a viver com menos agua, todos, as atividades agroindustriais também, os setores económicos, e temos todos que olhar para aquilo que são as oportunidades que temos”.
À questão dos campos de golfe, Duarte Cordeiro apela aos investidores que olhem para o território e se salvaguardem. “Setores económicos que precisam de água é bom que invistam naquilo que lhes permite ter água, que é captações no mar, águas reutilizáveis, aproveitar a eficiência… têm mesmo de o fazer não e uma questão de escolha”.