Dia de Sobrecarga do Planeta evidencia as “desigualdades” entre os países no acesso aos recursos naturais
A partir desta quinta-feira, 28 de julho, a humanidade passa a acionar o “cartão ambiental”, ou seja, está a usar recursos que, supostamente, não deveriam estar a ser usados. O Dia de Sobrecarga do Planeta tende, de ano para ano, a diminuir: “No ano passado, foi a 29 de julho”, começa por dizer Susana Fonseca, representante da Associação ZERO, lembrando que este é um “indicador agregado” que junta vários fatores que condicionam a “pegada ecológica” e que demonstra o “momento do ano a partir do qual nós, enquanto humanidade, estamos a usar recursos naturais que só poderíamos mobilizar e precisar a partir de janeiro do próximo ano”.
À Ambiente Magazine, a responsável alerta que o Dia de Sobrecarga do Planeta reflete a tendência de agravamento das alterações climáticas, da biodiversidade ou da poluição: “Desde os anos 70 que temos dados e os mesmos indicam que a última década em que nós, enquanto humanidade, estivemos em equilíbrio, ou seja, não acionamos o “cartão de crédito ambiental”, foi a década de 70”. Desde então, “temos vindo a piorar. Este indicador deve, por isso, servir de reflexão de como podemos transformar a nossa realidade e inverter a tendência, alternando a forma como organizamos o nosso dia-a-dia”. E isto pode ser conseguido através de diversas formas, começando pelas áreas da alimentação, mobilidade e consumo e que são aquelas que têm maior impacto.
Começando pelo setor da alimentação, a representante da ZERO lembra que os cidadãos, no geral, consomem proteína animal acima do recomendado: “Se compararmos a nossa balança alimentar com aquilo que é defendido na roda dos alimentos em termos de pescado, carne e ovos, consumimos quase três vezes mais”. Em relação a outros setores da roda alimentar (legumes, frutas e leguminosas), o consumo está abaixo do recomendado: “Há um desequilíbrio na nossa balança alimentar que acaba por ser um indutor de uma pegada ecológica maior. Se cumpríssemos a roda dos alimentos, conseguiríamos dar um impulso na redução da nossa pegada na área ambiental”, afirma. E esta é uma questão que, apesar de depender de todos, também cabe às políticas públicas, permitindo um “acesso fácil” a estes produtos, indica Susana Fonseca, constatando que “Portugal, em comparação com outros países, tem vantagens acrescidas, pelo facto da gastronomia portuguesa ter a presença de leguminosas e vegetais”.
Outra área é a mobilidade e a forma como se fazem as deslocações, optando-se pelo “transporte público” e “modos suaves”, bem como a priorização de “reuniões online ou teletrabalho”, evitando-se deslocações, exemplifica.
O Modelo de produção e consumo é outra área onde se podem fazer mudanças no sentido de “sermos mais rigorosos e criteriosos na forma como decidimos ou não comprar”, isto é, “questionar mesmo se precisamos”, optando pelo “alugar em vez de comprar”, ou adquirir em “segunda mão em vez do novo”, por exemplo. No fundo, é a “lógica de reduzir a quantidade de coisas que habitualmente temos ao nosso redor e achamos que precisamos para ter uma boa qualidade de vida”, sucinta.
Tão importante, de acordo com Susana Fonseca, é que o indicador de “Sobrecarga do Planeta” acaba por evidenciar as “desigualdades” entre os países no acesso aos recursos: “Os países desenvolvidos têm uma pegada muito maior do que os países em desenvolvimento”. Sendo Portugal um país mais desenvolvido, quando comparado com outros, a responsável considera que o país tem uma “quota de responsabilidade superior”, no sentido de “alterarmos o sentido de fazermos as coisas para que outros possam até aumentar: muitos países não têm o mínimo indispensável para o bem-estar”, alerta. “É vital uma melhor divisão dos recursos”, remata.