Desculpas de mau separador
Por: Joana Xavier, da Área Técnica da EGF
No setor dos resíduos, lidamos com algumas ideias fortes que afastam muitas pessoas de assumirem hábitos de reciclagem nas suas vidas. São ideias que, por vezes, têm uma parte de verdade, mas não são totalmente verdadeiras e que são difíceis de esclarecer.
Aqui fica uma tentativa:
- Nós separamos os resíduos e depois eles misturam tudo na mesma viatura. Por isso de nada serve separar!
Este é o maior mito da reciclagem e não corresponde à verdade. Nós próprios já vimos acontecer e há várias razões para que isto aconteça, desde o camião ter uma divisória interior (o cidadão não vê com os seus olhos que as viaturas têm compartimentos internos), até existirem problemas graves de contaminação já dentro dos ecopontos e colocados pelos cidadãos, o que depois não nos permite enviar o seu conteúdo para reciclar.
Mas como diz o ditado “Uma andorinha, não faz a Primavera”. A verdade é que a Primavera, neste caso, são 22 de Centros de Triagem, um pouco por todo o país, que recebem todos os anos, cerca de 377 000 toneladas de papel e cartão; plástico, metal e embalagens de vidro que são triadas para serem enviadas para reciclagem. Para que reciclagem aconteça todos os elementos da cadeia têm de estar a funcionar. Em casa ou no trabalho temos de reciclar; alguém tem que depositar no ecoponto certo e quem recolhe o ecoponto, tem que o recolher adequadamente. A si só lhe pedimos que faça a sua parte e que confie no resto da cadeia.
- Os resíduos domésticos são um grande negócio e valem muito dinheiro!
Infelizmente esta não é a realidade. O setor dos resíduos urbanos movimenta grandes quantias de dinheiro porque gere 5 milhões de toneladas de resíduos todos os anos em Portugal e o seu transporte e tratamento envolve grandes investimentos. Mas não é, de forma alguma, um negócio rentável “per se”. O que queremos dizer é que as receitas que os resíduos domésticos geram (com a venda dos recicláveis, a venda da eletricidade e a venda do composto) não pagam os custos e os investimentos necessários para tratar, com todas as exigências da União Europeia, os nossos resíduos. Para que o sistema funcione foi sempre preciso contar com investimento público na construção das infraestruturas e o pagamento de tarifas à entrada das instalações, por parte dos municípios, ou seja, por parte de todos nós. A tendência é para os custos se agravarem, com cada vez maiores exigências ambientais para cumprir, sendo que as receitas não irão acompanhar esse crescimento na mesma proporção. Assim, teremos todos mais custos com o correto tratamento dos nossos resíduos, mesmo estando a fazer mais reciclagem como, por exemplo, a reciclagem dos biorresíduos. A reciclagem não é feita para alguém ganhar dinheiro. É feita pelo Ambiente e porque a União Europeia o impõe. Mas é claro que podemos e devemos conseguir instituir mecanismos de “pay as you throw” para promover a prevenção de resíduos.
- Com os impostos que eu pago eles é que têm que separar o lixo, não eu. Eu já pago muito, não vou trabalhar para eles!
Infelizmente, quando recolhemos o lixo de forma indiferenciada e, posteriormente, numa instalação, separamos os biorresíduos ou as embalagens para reciclar, mas ao já terem estado misturados no lixo comum, os materiais perdem alguma pureza e a indústria da reciclagem ou o setor da agricultura não podem usar estes produtos em todas as aplicações. Por esta razão, a União Europeia deixará de considerar como “reciclagem”, qualquer processo proveniente de resíduos de recolha indiferenciada. Posto isto, nós misturarmos em casa e alguém separar à posteriori deixou de ser uma opção para o futuro. Temos mesmo que separar as nossas embalagens e os nossos biorresíduos.
Ajudem-nos a valorizar e dar uma segunda vida aos produtos. Devemos ter em conta que a extração dos recursos naturais e os processos industriais que os transformam em bens de consumo são atividades poluentes e invasivas para o Ambiente. Ao tentarmos prolongar o ciclo de vida útil do produto antes de restituí-lo ao ambiente sob a forma de resíduo estamos a contribuir para o Desenvolvimento Sustentável definido no Relatório Brundtland de 1987 – “responda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras darem resposta às suas próprias necessidades”