Desconhecimento sobre a reparação é um obstáculo à sua prática, revela estudo
A CEP (Circular Economy Portugal) e a Ambiente Cascais juntaram-se para colocar a “Reparação” no centro da discussão. Partindo do conceito “Repair Café” (ou Café Conserto), as entidades querem replicar este projeto ao nível nacional, juntando todos os atores em prol do setor. O “Repair Café” junta num evento comunitário e gratuito vários reparadores voluntários com pessoas que têm algo a reparar e vontade de aprender. No âmbito desta comunhão, as entidades promoveram esta terça-feira, 15 de dezembro, um seminário onde deram a conhecer os resultados do inquérito do “projeto RE-PARAR”, realizado a 354 pessoas.
Marta Brazão, gestora de projetos da CEP, e voluntária do Repair Café, confirma a dificuldade que existe quando algum equipamento avaria, havendo poucas soluções disponíveis: “Este é o sistema que está implementado nos dias de hoje e acreditamos que a economia circular é uma alternativa a este modelo”. Há pelo menos dois problemas que se destacam no atual sistema e que consistem num “consumo excessivo de bens” com as marcas a praticarem um “marketing agressivo”, bem como os “preços relativos baixos” dos equipamentos, onde o consumidor é persuadido a adquirir novos produtos de forma desnecessária. O facto da reparação não surgir como primeira opção, deve-se ainda ao facto do custo da reparação ser alto, da falta de conhecimento em reparar e dos profissionais e lojas que fazem reparação: “Isto tudo origina um grande desperdício quer de matérias primas, quer de recursos de energia utilizada”, precisa. No entender da responsável, a economia circular pretende assim “manter os produtos o máximo tempo possível”, que “circulam na melhor qualidade possível” e, muitas vezes, pelo “maior número de pessoas”.
Os resultados agora revelados são a prova de que a estratégia da economia circular é de extrema importância para o contexto português: “Apesar de não sermos grandes produtores deste tipo de equipamentos e de não conseguimos controlar o início da cadeia e a forma como são desenhados, temos o poder de melhorar a fase de uso e de descarte”. O projeto “RE-PARAR” focou-se, primeiramente, em implementar atividades que podem ser promotoras de uma maior utilização dos serviços de reparação. Para tal, foi feito, no município de Cascais, um mapeamento de lojas e reparadores profissionais que existem: “Conseguimos mapear – só numa pesquisa inicial – mais de 50 pequenas lojas e reparadores , ou seja um ecossistema de reparação no município”. Apesar de ser uma “atividade piloto”, Marta Brazão deixa o repto de que deve e pode ser implementada em qualquer autarquia do país: “Queremos pegar nesta experiência piloto e desafiar outras entidades públicas e provada a trabalhar neste conceito e que nos apoiem neste caminho”. No âmbito deste projeto, foi desenhado e criado um site – projeto-reparar – dedicado exclusivamente à reparação: “Detectamos que existe pouco conteúdo sobre reparação na língua portuguesa e queremos disponibilizar mais informação em várias áreas”. Em relação ao inquérito, a gestora revela que das 354 pessoas, 78% são do sexo feminino. Apesar de 94% do inquiridos consideraram que reparar é muito importante, 52% afirma que é difícil fazer a reparação. Outro dado partilhado por Marta Brazão é que “42% afirmam que usam o serviço de reparação” e, uma parte dos inquiridos referem que colocam os equipamentos nos pontos eletrão: “Contudo, reciclar ou guardar em casa não é reparar”, atenta. Mais uma vez, os portugueses apontam o “desconhecimento sobre a existência de reparadores profissionais”, a “falta de formação sobre a reparação” e o “custo das reparações” como obstáculos à sua prática. Em contraponto, foram partilhadas medidas para mitigar e resolver os problemas: “Mais conhecimento sobre a reparação, haver um mapeamento e base de dados de reparadores e serviços e uma redução do próprio custo poderia desencadear uma dinamização ao setor”.
Com este projeto, as entidades estão dedicadas em fazer mais em prol do “R” de reparação: “Acreditamos e sabemos que muito mais pode ser feito em Portugal neste âmbito”. E olhando agora para as políticas fiscais, a responsável partilha algumas das boas práticas europeias: “Na Bélgica, o IVA para pequenas reparações (bicicletas) foi reduzido de 21% para 6%; Alguns estados austríacos cobrem até 50% do valor reparação até 100 euros de pequenos e grande eletrodoméstico”. Nestes “bons exemplos”, Marta Brazão acredita que é possível criar uma “rede nacional de reparadores profissionais”, uma vez que “não existe uma entidade que representa este setor”. No fundo, é conseguir “reivindicar” o papel deste setor na transição para uma economia circular, remata.