“Cuidar dos nossos rios é também estarmos atentos e ativos” ao desafio das alterações climáticas
“Isto não está fácil!”. O alerta foi de Hugo Pires, secretário de Estado do Ambiente, para relembrar que a falta de água é um problema verdadeiramente sério no planeta: “Hoje, temos menos água do que tínhamos há 100 anos”. E algo que parece ser ainda mais demonstrador deste grave problema é que “Itália, França e Reino Unido estão hoje em seca”, atenta o dirigente, lembrando os períodos de seca severa e extrema que algumas zonas de Portugal enfrentaram no ano passado: “Temos problemas de abastecimento de água no Barlavento, no Alentejo, no Tejo, em Viseu e em Trás-Os-Montes”, algo que se deve às “alterações climáticas”, mas também “àquilo que, enquanto sociedade, fazemos”.
No Dia Internacional pela Ação dos Rios, assinalado na passada terça-feira, 14 de março, a VITRUS Ambiente escolheu o Parque da Ínsua, em Ponte, Guimarães, para comemorar a efeméride e, ao mesmo tempo, lançar as “VITRUS Talks”, uma iniciativa mensal, que pretende ser palco de debates e partilha de conhecimento sobre o Ambiente e a Sustentabilidade.
Na sua intervenção, Hugo Pires reforçou que o “chavão” das “alterações climáticas” é, realmente, o maior desafio que a sociedade tem pela frente, defendendo que “cuidar dos nossos rios é também estarmos atentos e ativos” para fazer face a esse desígnio: “Os rios sempre foram fundamentais para a vida das pessoas, aliás as grandes civilizações fixaram-se ao longo de grandes rios, que tinham como função servir para o consumo humano, energia ou agricultura”.
“As autarquias têm também que fazer o seu papel”
Hugo Pires
Nas respostas do Governo para fazer face à falta de água em algumas zonas de Portugal, o secretário de Estado do Ambiente destaca os vários programas hidrológicos, como as soluções recentemente apresentadas para o Tejo: “50 a 80% da água consumida vai para a agricultura e temos que sensibilizar o setor – essencial para vida – de que é possível exercer e dinamizar a atividade com menos água e com mais racionalização da água, mudando a forma como a atividade é feita”. Por exemplo, “temos algumas reservas de água secundárias que, hoje, estão contaminadas por causa do exercício da agricultura”, alerta.
Para aquelas pessoas que estão a demorar a acreditar na realidade, considerando que são “conversas que não são para já”, Hugo Pires deixa o alerta: “No ano passado, em Viseu, um camião de cisterna teve de abastecer as pessoas. No Sotavento, no Algarve, estão a ser feitas interligações para que as pessoas possam ter água e, no Barlavento, foi dito aos agricultores que, se nada mudar, ficam sem poder usar água porque deixa de haver para consumo”. Trata-se de um “problema muito sério” e “todos nós temos que fazer o nosso papel”, apela Hugo Pires. O secretário de Estado do Ambiente destacou ainda a “postura muito ativa da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) na defesa dos rios, na qualidade das massas de água e na preservação da água necessária para o consumo”, deixando um repto aos municípios: “As autarquias têm também que fazer o seu papel”. E nesta ordem de ideias, o responsável deixou um desafio à cidade de Guimarães para que comece a centrar a aposta na “reutilização da água” que, “se atingir um bom nível de qualidade”, poderá servir a “agricultura, a indústria, a rega de jardins ou a limpeza urbana”.
“(temos de) preparar o território para as cheias e secas que vão acontecer”
Não restam dúvidas do notável caminho que Portugal tem feito em prol da recuperação dos rios: “Nos anos 80, quando se detetavam determinadas situações, fechavam-se os rios”, relembra José Pimenta Machado, vice-presidente da APA, louvando a “mudança de paradigma” registada nos últimos anos: “Entre 2015 e 2016, foram recuperados mais de 1200 km de rede hidrográfica usando soluções de base natural, como árvores resilientes que funcionam como um tampão para aquilo que é a propagação dos incêndios”.
Ainda assim, há desafios na gestão da água que já são inevitáveis: “Ou vamos ter água a mais, ou vamos ter água a menos”. Estas são as duas dimensões afetas ao setor: “O tema das secas e das cheias é uma realidade que temos pela frente”, atenta o especialista da APA, acrescentando que a questão da qualidade de água é também um fator que tem estar em cima da mesa: “Apesar de virada a página da despoluição, esta é uma tarefa que nunca é acabada, havendo sempre negligências, como uma descarga não controlada”.
Outro dos desafios que Portugal enfrenta são as suas assimetrias: “Um país muito pequeno, mas muito diferente e com problemas muito diferentes. Divido o país através de uma linha que percorre o rio Tejo que divide o Norte e o Centro mais húmido e a sul, o Alentejo e Algarve muito seco”. E as barragens não podem ser motivo de ilusão: “A barragem do Barlavento que abastece três concelhos está com 13% de nível de água”. Mesmo com a futura Dessalinizadora para o Algarve que prevê dar resposta à falta de água, o vice-presidente da APA atenta na necessidade de se “preparar o território para as cheias e secas que vão acontecer”.
📸 Facebook da VITRUS Ambiente
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