Por: António Ferreira da Silva (PhD), Unidade de Engenharia Industrial da CTCV (Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro)
A indústria dos Recursos Minerais de Portugal, materializada por atividades de prospeção, exploração, transformação e de recuperação paisagística que promovem e alimentam importantes cadeias de valor da Economia do séc. XXI está, como qualquer outra, dependente do respetivo capital humano e tecnológico e das inerentes matérias-primas minerais não renováveis.
A reconhecida consciencialização global acerca da importância de se minimizarem em larga escala os riscos ambientais e sociais decorrentes das atividades extrativas e transformadoras de bens minerais e da otimização da sua recuperação e reciclagem, determinou o recente desenvolvimento de instrumentos e de técnicas de rastreabilidade mas também as melhores soluções que comprometam as empresas com ações concretas de governança ambiental, social e corporativa ou ESG – Environmental, Social and corporate Governance.
Nesse âmbito, destacam-se os novos princípios da União Europeia – UE para a sustentabilidade das matérias-primas que visam a uniformização dos conceitos de operações de extração (da exploração até ao pós-encerramento) e de transformação sustentáveis assim como a definição de uma orientação geral rumo aos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, aplicáveis a todo o ciclo de vida das suas cadeias de valor bem como a produção de matérias-primas secundárias ou subprodutos. Os princípios são de natureza Social (direitos humanos e laborais, envolvimento dos stakeholders, saúde e segurança), económica e de boa Governança (integridade comercial, transparência, idoneidade e contributo económico mais alargado) e Ambiental (gestão ambiental justa e atenuação de impactos).
É neste contexto de mudança de atitude e de reforço das melhores práticas que se apresenta o modelo do setor da Pedra Natural Portuguesa. Este tem vindo a demonstrar, através de projetos colaborativos como o Stone4.0 Age, o sucesso da implementação de atividades inovadoras e de metodologias de produção mais ecoe- cientes e da circularidade dos rejeitados minerais (resíduos) noutros processos industriais, alicerçadas por importantes políticas favoráveis ao seu desenvolvimento (e.g., Plano Regional de Ordenamento do Território na Zona dos Mármores de Extremoz e áreas de Intervenção Específica do Plano de Ordenamento do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros).
A produção de resíduos representa um dos principais constrangimentos, quer na componente extrativa quer na transformadora (blocos e restos de pedra em escombreiras e as lamas ou slurries nas unidades de transformação) e daí o desafio da sua valorização. Portanto, em conformidade com os atuais mecanismos de promoção de políticas ambientais e de sustentabilidade da UE, um dos grandes desígnios das empresas e para o qual a ASSIMAGRA e o CTCV estão ativamente envolvidos, é o encontro de alternativas ambientalmente sustentáveis para a valorização dos resíduos e para a sua circularidade em vários tipos de produtos cerâmicos, culminando numa avaliação de ciclo de vida e subsequente categorização como matéria-prima secundária.
Outro propósito é respeitante à conceção de uma metodologia para a georreferenciação da Pedra Natural Portuguesa, através das suas assinaturas petrológicas, geoquímicas e físico-mecânicas com vista à atualização dos requisitos da marca Stone.PT Origin.
Por fim, destacam-se ainda as atividades desenvolvidas pela ASSIMAGRA nos principais núcleos de exploração nacionais de onde se distingue a adoção de práticas colaborativas de compensação e compatibilização da indústria com a Natureza.
Este artigo foi incluída na edição 92 da Ambiente Magazine