Covid-19 traz mobilidade mais económica, eficiente e personalizada
Passado um ano, que incluiu dois prolongados períodos de confinamento, será que há aspetos positivos a retirar desta pandemia? Fala-se em teletrabalho, viagens evitadas ou recurso ao e-commerce como tendências que vieram para ficar. A primeira sessão do Portugal Mobit Summit 2021 deu destaque às mais recentes tendências de mobilidade, com especialistas a constatar que a tomada de consciência sobre a sustentabilidade saiu verdadeiramente reforçada.
Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, parece não ter dúvidas de que a Covid-19 trouxe mudanças que se tornarão permanentes: “Durante a pandemia, podemos viver aquilo que é uma experiência de cidade muito diferente: uma cidade com menos trânsito, ruído e poluição”. Estes são “benefícios que muitos de nós queríamos ver prolongados”, acredita, constatando que, há também um outro tipo de motivação daquilo que é o modelo de mobilidade. Neste momento, a redução do risco de infeção tornou-se a “principal motivação” na escolha de uma forma de mobilidade, sendo que “o veículo privado ou individual, em detrimento do transporte coletivo, tem sido o preferido”. Aliás, segundo o barómetro pelo qual a EDP se orienta, “40% dos inquiridos vai continuar a utilizar menos os transportes públicos” e os “jovens que, antes da pandemia, pensavam não adquirir veículo, reconsideraram a decisão”. Por isso, as alterações na forma como as pessoas escolhem deslocar-se terão “impacto naquilo que será o padrão de mobilidade” daqui para frente: “Temos o carro a substituir o avião e o comboio em deslocações de longa distância, trazendo implicações ao nível de mobilidade elétrica, nomeadamente nos postos de carregamento”. Mais uma vez, por força da pandemia, Vera Pinto Pereira acredita que há um ecossistema de mobilidade a nascer, “desde logo, que promete viagens mais rápidas, económicas, limpas, seguras e eficientes e mais personalizadas”.
Olhando para a tomada de consciência, a CEO da EDP Comercial considera que a dimensão “sustentabilidade” aumentou: “E o setor da mobilidade é um dos que sai mais reforçado, na medida em que é também o que mais contribui para a pegada de carbono”. E esta tomada de consciência tem vindo a fazer com que as vendas de veículos elétricos tenham disparado: “Se assistimos a um decréscimo de vendas de veículos a combustão ao longo dos últimos meses, o mesmo não se verifica nos veículos elétricos”, diz, constatando que a “penetração de veículos elétricos está a ganhar cada vez mais força”.
Já Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, olha para o atual momento como sendo de “rutura” e não de transformação, pelo que o futuro está mesmo marcado pelas “pandemias social e económica” que se vão prolongar por muito mais tempo. A aposta da autarquia cascaense assenta acima de tudo em apoiar as populações, reforçando para tal os transportes públicos: “Cascais não é diferente do resto do país e também nós aproveitamos este período de confinamento para promover não só o uso da bicicleta como dos transportes públicos rodoviários que, em virtude da conclusão do concurso internacional, serão gratuitos a partir de 25 de maio, duplicando a oferta no concelho.”
Apesar das vantagens da tecnologia, o autarca não deixou de fazer um alerta: “A tecnologia só vale se for a favor das pessoas e os dados não podem violentar o próprio conceito democrático”. O conceito de “smart cities” já era uma tendência e agora é uma necessidade mais impactante, refere.
[blockquote style=”2″]As pessoas vão querer deslocar-se e têm uma ânsia de sair[/blockquote]
A visão de Eduardo Ramos, administrador executivo da Brisa é que, por muitas alterações surgidas devido à pandemia, o “desejo das pessoas estarem juntas e de viajar” não vai desaparecer: “O medo com que temos visto as deslocações, aos poucos, deixará de existir”. E, apesar da “cidade mais limpa” ser uma realidade, a mobilidade vai ter uma tendência natural de crescimento: “As pessoas vão querer deslocar-se e têm uma ânsia de sair”, declara. Com isto, também é evidente uma “consciencialização muito maior sobre a pegada de carbono”, diz, constatando que é visível, por exemplo, na “adoção de veículos muito mais amigos do ambiente”.
Algo que parece ser mais “crítico” é a convivência entre os modos mais suaves e os modos menos suaves e a forma como se vai envolver numa mobilidade normal das cidades: “Preocupa-nos porque a sinistralidade é um tema bastante relevante e esta convivência causa situações que podem levar a acidentes com vítimas graves. Temos que encontrar uma forma de o fazer melhor com ajuda da tecnologia”.
Na visão de Eduardo Ramos, a preferência pelo transporte individual é fruto do atual momento, acreditando que a “mobilidade partilhada voltará”, tal como a “partilha de soluções entre parceiros envolvidos na mobilidade” vai ser fundamental: “Trabalhar em parceria vai ser ainda mais o novo normal”, sustenta.
Por seu turno, José Rui Felizardo, CEO do Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA), acredita que as “soluções de mobilidade” nas cidades surgirão “na lógica entre compensar as emissões geradas com as emissões evitadas”. A sustentabilidade ambiental é, assim, vista como sendo uma “estratégia central dos futuros modelos de negócio” que irão “valorizar determinado tipo de ativos e de comportamentos”, dando-lhe uma “dimensão” que deve ser encarada no seu todo, olhando para a forma como “cruza com a energia para nos deslocarmos de A para B”, sem esquecer a chamada “componente digital”.