As preocupações dos empresários de que o investimento sustentável possa dificultar o desempenho das suas carteiras de investimento caiu pelo quarto ano consecutivo, à medida que a crise da Covid-19 ampliou o foco nesta dimensão, revelam os dados do Schroders Institutional Investor Study 2021.
O estudo institucional anual da Schroders, lançado pela primeira vez em 2017, apurou que os receios em torno da capacidade de os fundos sustentáveis proporcionarem retornos robustos continuam a diminuir: “Cerca de 38% das instituições apontaram preocupações de desempenho em relação ao investimento sustentável, o que representa uma redução de 45% face há um ano e uma queda acentuada relativamente aos 48% registados em 2019”. Tal como confirma o estudo, “este é mais um sinal de que os receios de que investir de forma sustentável poderiam dificultar o retorno estão a diminuir entre os investidores”.
A crise da Covid-19, em particular, “intensificou a atenção sobre o investimento sustentável entre as instituições”, com “52% a considerá-lo, agora, como um fator mais importante devido à pandemia”, indica o estudo, partilhado pela gestora Schroders.
Na Europa, as opiniões foram particularmente fortes: “62% dos investidores a atribuírem agora um maior significado ao investimento sustentável como resultado da Covid-19”. Ao mesmo tempo, “apenas 8% dos investidores a nível mundial referiram não acreditar nos benefícios de investir de forma sustentável, o que representa uma queda substancial em relação aos 23% de investidores registados em 2018”, refere o estudo.
Antecipando a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2021, que decorrerá em novembro, quase dois terços (64%) dos investidores a nível mundial acreditam que o envolvimento em questões ambientais como as alterações climáticas ou a utilização de combustíveis fósseis são os temas de gestão mais importantes.
Segundo o estudo, o foco no ambiente foi ainda mais pronunciado entre os investidores europeus e foi também o principal aspeto destacado pelos investidores da América do Norte e da Ásia-Pacífico. Curiosamente, para os investidores latino-americanos, satisfazer as necessidades dos clientes de uma forma sustentável era o foco mais importante da administração.
Os desafios sustentáveis permanecem
No entanto, quando se trata de investir de forma sustentável os desafios permanecem aos olhos dos investidores. O tema do Greenwashing continua a ser a maior questão para os investidores, com “59% a destacá-lo como o obstáculo mais significativo, pouco mudando em relação aos 60% reportados há um ano atrás”.
Além disso, “46% dos investidores a nível mundial ainda permanecem com dúvidas sobre a capacidade de medir e gerir o risco ao investir de forma sustentável, fator que revela um aumento significativo em relação a 33% dos investidores auscultados em 2020”. Também, a falta de transparência também viu crescer a percentagem de referência enquanto desafio, tendo sido citada por 53% dos investidores como uma preocupação, destaca o estudo.
Para Andy Howard, chefe global de Investimento Sustentável da Schroders, “a pandemia tem impacto em todos os aspetos das nossas vidas e o investimento sustentável não é exceção. A Covid-19 tem intensificado o foco dos investidores em garantir que os seus ativos estão a ser dirigidos de forma mais sustentável. A economia global tem um longo caminho a percorrer para regressar aos níveis pré-pandémicos, mas assegurar que a recuperação seja sustentável é agora um objetivo chave para muitos”. Ainda assim, o responsável reconhece que há um trabalho que ainda tem de ser feito para apoiar mudança: “Precisamos de assegurar que quaisquer preocupações ou desafios que os nossos clientes possam sentir quando se trata de investir de forma sustentável sejam completamente dissipados, através de relatórios e comunicações cada vez mais claros. Contudo é, evidentemente, encorajador ver que as preocupações de longo prazo dos investidores em relação ao desempenho do investimento sustentável continuam a diminuir. Temos defendido durante ao longo de muitos anos que investir de forma sustentável com um forte enfoque em retornos robustos não deveria ser mutuamente exclusivo. Na verdade, abordagens ponderadas e orientadas para a sustentabilidade estão no cerne da obtenção de retornos de investimento a longo-prazo”.
Perspetivas dos investidores em 2021
As expectativas de retorno aumentaram nos últimos 12 meses, à medida que os investidores começam agora a olhar para além da pandemia: “82% dos investidores esperarem retornos anuais de pelo menos 4% nos próximos cinco anos, em comparação com 72% há um ano atrás”. De facto, “47% dos investidores esperam que o seu rendimento médio anual seja superior a 6%, em comparação com 35% há um ano atrás”. E na sua maioria, em alta, “a proporção de investidores globais que prevêem rendimentos anuais superiores a 9% também aumentou de 5% em 2020 para 13% em 2021”, precisa o estudo.
A confiança para satisfazer as expectativas de retorno também recuperou para 46% em relação aos 33% de há um ano atrás, sendo os investidores na Europa (53%) os mais otimistas, seguidos pelos da América do Norte (44%).
De acordo com o estudo, a pandemia e o abrandamento económico global continuam a ser as “maiores preocupações dos investidores”, assim como o “afunilamento da política monetária, destacado pelo aumento das preocupações inflacionistas com o aumento dos custos dos empréstimos a assumir um risco significativo”. Embora a partir de uma base baixa, o risco das alterações climáticas também aumentou substancialmente como um dos fatores que pode influenciar o desempenho do investimento, destaca o estudo.