COPPEREPLACE pretende testar o uso de novos produtos com formulação biológica que substituam o uso do cobre no setor vitivinícola 

O uso de produtos fitofarmacêuticos derivados do cobre para prevenir e curar doenças na videira possui um impacto ambiental indesejável, estando as vinhas de algumas regiões entre as culturas que concentram a maior quantidade de cobre nos solos. Este é um problema crítico, sobretudo nas vinhas biológicas onde o cobre é o único produto autorizado que protege com eficácia a videira das principais doenças fúngicas. É neste sentido que surge o projeto COPPEREPLACE. Arrancou no dia 1 de novembro de 2020 e, até ao dia 28 de fevereiro de 2023, 13 entidades francesas, espanholas e portuguesas do setor do vinho estão juntas para reduzir, de forma significativa, o uso do cobre na viticultura, assim como o seu impacto ambiental. A Sogrape é uma das empresas envolvidas neste projeto.

Em entrevista à Ambiente Magazine, António Graça, diretor I&D da Sogrape, afirma que o objetivo do COPPEREPLACE assenta em “validar soluções integradas, inovadoras e viáveis” para reduzir o uso de cobre e o seu impacto ambiental nas vinhas da região do sudoeste da Europa: “As soluções devem ser transferíveis e duradouras, capacitando o setor vitivinícola para cumprir os novos regulamentos da União Europeia e promover uma produção ambientalmente sustentável”. O projeto visa assim responder a esta problemática usando uma abordagem inovadora baseada na “validação de tecnologias facilitadoras essenciais (do inglês: KETs) em biotecnologia”, usando “produtos alternativos, agricultura inteligente e de precisão e estratégias de gestão e despoluição do solo já contaminado”. Além destas componentes, o responsável indica que a abordagem também passa pela “implementação de itinerários de gestão integrada das culturas que sejam sustentáveis, compatibilizando a redução do impacto ambiental com a viabilidade económica” e na “criação de uma rede de conhecimento” para promover a transferência e aceitação dos resultados por um elevado número de viticultores: “Estas abordagens irão gerar soluções com uma visão muito prática”, adianta.

Enquanto entidade também responsável pelo projeto, a Sogrape vai oferecer ao projeto “parcelas de vinha ideais para testar alternativas” com vista a reduzir o uso do cobre, controladas por diferentes indicadores: “A empresa possui uma equipa técnica de viticultura e enologia experiente em projetos de investigação, e um departamento de I&D com mais de 15 anos de atividade e inúmeros trabalhos publicados e prémios atribuídos”, declara o responsável. De acordo com António Graça, é muito importante “participar” e “estar envolvido” neste tipo de projetos, uma vez que o Grupo vai obter, em primeira mão, “conhecimento sobre produtos e estratégias alternativas ao uso excessivo” e “impacto negativo do cobre na viticultura”, de forma a “implementá-los nos seus roteiros de gestão sob produção integrada”.

Ao nível ambiental, o COPPEREPLACE vai fornecer ao setor produtor de vinhos biológicos do sudoeste europeu alternativas ao cobre, de baixo impacto ambiental, mediante a “implementação de novas tecnologias” como os “bioprodutos, estratégias de precisão agrícola e substâncias alternativas para otimizar o uso cobre na viticultura”. A isto acresce os “testes para identificação dos tipos de solos mais vulneráveis e de métodos de remediação de solos contaminados”, adaptados às particularidades de cada região, bem como a “criação de uma rede de conhecimento na mesma região para aplicação dos resultados obtidos após o final do projeto, garantindo uma produção de vinho sustentável”, descreve. Dividido em grupos de trabalho, o projeto já conta no terreno com os grupos 1, “onde serão testados novos produtos de origem biológica para substituir os efeitos protetores do cobre”, e 2, que “classificará os solos relativamente à sua vulnerabilidade à contaminação por cobre”. O grupo 3 arrancará em breve e vai desenvolver “novas estratégias de aplicação dos produtos de proteção de plantas, adaptando a quantidade usada ao tamanho da folha enquanto reduz a quantidade perdida no ar e no solo”, explica.

[blockquote style=”2″]Viticultura cada vez mais em harmonia com a natureza[/blockquote]

Questionado sobre os perigos do cobre para a viticultura e para o meio-ambiente, António Graça explica que, ao longo dos anos, a “utilização repetida do cobre” causa impactos negativos ao nível da “poluição nos solos” e consequente “toxicidade em organismos aquáticos”, provocando uma “disrupção dos equilíbrios ecológicos nos microrganismos do solo”. Depois, há também um perigo relativo para a saúde do homem e animais, atenta. As vinhas biológicas estão entre os “agroecossistemas” que apresentam “maiores concentrações de cobre nos solos”, afirma o responsável, dando nota que “os produtores de vinho biológico da região do SUDOE”, que estão entre os maiores do mundo, enfrentam o “desafio de reduzir, otimizar ou substituir” o uso do cobre na “gestão de doenças” sem impactos na produção, “contribuindo para a proteção dos solos, da sua biodiversidade e funções”, assim como dos “recursos aquáticos adjacentes”.

Atualmente, segundo António Graça, não existem produtos no mercado ou estratégias eficazes para substituir o uso de cobre em viticultura biológica: “O COPPEREPLACE vai, por isso, testar o uso de novos produtos com formulação biológica (ainda não homologados para o uso na vinha) e que se espera que substituam os efeitos do cobre”.

Para o futuro, o diretor I&D Sogrape deseja uma “viticultura cada vez mais em harmonia com a natureza”, dando origem a “uvas e vinhos de elevada qualidade”, suportada em “sólido conhecimento científico” e que “alimenta uma atividade económica equilibrada e sustentável”.

O COPPEREPLACE tem um orçamento superior a 1,6 milhões de euros e recebeu um financiamento acima de 1 milhão de euros por parte do Programa de Cooperação Interreg V-B Sudoeste Europeu (Interreg Sudoe).

Conheça as soluções do COPPEREPLACE:

  • Uso inovador da biotecnologia para permitir o controlo do míldio nas vinhas do sudoeste europeu, aplicando eficazmente doses de cobre abaixo de 4kg/ha/ano, o limite atualmente imposto pela União Europeia:
    • Obtenção de, pelo menos, três agentes de biocontrolo, confirmação da sua eficácia, menor impacto ambiental (em alternativa ao uso de cobre) e segurança para espécies neutras ou auxiliares da cultura e para as funções do solo.
  • Implementação de técnicas eficazes de remediação de solos de acordo com a vulnerabilidade dos mesmos à contaminação por cobre:
    • Identificação e categorização de solos com maior vulnerabilidade à poluição por cobre;
    • Obtenção de, pelo menos, três técnicas de remediação do solo e confirmação da sua eficácia;
    • Uso de Micotecnosols, plantas extrativas e coberturas verdes;
    • Melhoria da aplicação de fitofármacos através de técnicas de pulverização de precisão e microencapsulação;
    • Teste dos novos métodos de aplicação dos novos agentes de biocontrolo;
    • Avaliação do impacto ambiental;
    • Obter, pelo menos, três alternativas integradas de gestão vitícola (gestão de culturas, produtos e técnicas) e confirmação da sua eficácia e menor impacto ambiental.
  • Maximização do impacto geral do COPPEREPLACE e transferência de resultados, novas técnicas e metodologias para atingir o número máximo de viticultores na Europa, bem como as instituições regulatórias regionais, nacionais e europeias:
    • Realização de testes-piloto (2 em cada país) com todas as técnicas, produtos e caracterizações a serem testadas;
    • Publicação de um método abrangente de gestão de vinhas que otimiza o uso de cobre e evita os seus efeitos negativos;
    • Publicação de um estudo de viabilidade económica, tecnológica e de investimento que meça e estabeleça retornos tangíveis (económicos) ou intangíveis (ambientais), dependendo das técnicas a serem implementadas e adaptados a cada região;
    • Formação e estabelecimento de uma rede internacional de conhecimento e uma plataforma de cooperação para o uso racional do cobre. Website COPPEREPLACE, que incluirá uma base de dados de acesso aberto com informações atualizadas e contactos europeus relevantes;
    • Desenvolvimento de ações de formação prática no setor sudoeste, com a participação da administração pública.