As cidades são hoje mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas, situação que tem vindo a agravar-se, fruto do elevado grau de artificialidade do território, das infraestruturas de fraca qualidade e até da concentração populacional. Segundo Manuel Gameiro da Silva, da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) “nas áreas urbanas é frequente ocorrer uma diminuição média da velocidade do vento na ordem dos 20 a 30%. O comportamento do vento é algo que não pode ser negligenciado na construção e organização das modernas cidades, uma vez que estamos perante um elemento que influência a dispersão de poluentes e o conforto dos cidadãos. Se por um lado a disposição dos edifícios em torres isoladas favorece positivamente a circulação de ar e remoção de poluentes, por outro a disposição de edifícios em torno de espaços fechados acaba por surtir o efeito contrário, dificultando a dispersão de poluentes e outros resíduos”.
“Hoje sabemos que o espaço urbano provoca o agravamento de algumas alterações climáticas. O aumento da temperatura, a redução da velocidade média do vento e a emissão mais localizada de contaminantes devido ao trânsito de veículos, contribuem para o aquecimento das cidades e a degradação da qualidade do ar. A combinação do efeito de ilha de calor com a diminuição da velocidade do vento são fatores que, inevitavelmente, vão agravar os efeitos negativos das alterações climáticas que se fazem notar nas estações mais quentes, provocando o crescente desconforto da população, o maior consumo de água, o incremento da poluição e até o aumento da morbilidade e mortalidade”, esclarece Almerindo Ferreira, investigador da Universidade de Coimbra.
O impacto das alterações climáticas em espaços urbanos é um dos temas que tem sido alvo de estudo pelo CentroAdapt – Centro de vanguarda em adaptações às alterações climáticas, que tem vindo a realizar, desde o início de 2018, inúmeras formações na área das alterações climáticas. As próximas formações subordinadas ao tema “Vento nas Cidades”, estão marcadas para dia 29 de janeiro, no Hotel Montebelo Viseu e dia 18 de fevereiro, na Casa Costa Alemão, na Universidade de Coimbra.
Para João Carlos Marques, responsável pelo CentroAdapt, “as alterações climáticas constituem uma ameaça global para os ecossistemas naturais e humanos a nível ambiental, social e económico. Implementar estratégias concertadas e sustentáveis para mitigar os seus efeitos e potenciar a adaptação a um clima em mudança, constitui uma prioridade a curto prazo. Neste sentido, o CentroAdapt assume o papel de facilitador de informação entre a academia e as empresas/entidades, estimulando a potencial definição de necessidades dos agentes e a procura de alternativas para os desafios futuros face às mudanças climáticas”.