Numa sessão plenária intitulada “Resiliência em contexto de extremos climáticos”, no âmbito do 17.º Congresso da Água, diferentes entidades juntaram-se para debater problemas e potenciais soluções para a pressão que os recursos hídricos estão a sofrer.
Rodrigo Proença de Oliveira, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, começou por mencionar a preocupação com a seca e a escassez em Portugal, explicando que será preciso “investir muito na melhoria da gestão dos recursos hídricos”, além da necessidade de “mais obra hidráulica para satisfazer os vários usos”, como é o exemplo da agricultura. Desta forma, defendeu que terão de haver escolhas consoante as regiões do país, mas que a “decisão será sempre política”.
Na sua exposição falou ainda da relevância de analisar os benefícios das infraestruturas face aos custos de investimento, deixando em cima da mesa a questão “quem vai pagar?”.
Por sua vez, Alexandra Serra das Águas de Portugal, afirmou que “a incerteza alavanca a nossa criatividade, a inovação e colaboração entre setores” e concordou que é preciso uma re-engenharia, mas numa lógica de olhar para os sistemas e perceber onde é realmente preciso modernizá-los. Neste tópico, a Águas de Portugal tem planeado um investimento de mil milhões de euros até 2030.
Além disso, defendeu que é fundamental “olhar para o sistema na perspetiva do território”, aliado a um “planeamento integrado e adaptativo”, que inclui infraestruturas com “ferramentas de monitorização em tempo real”.
Noutro pronto, Alexandra Serra frisou que “só infraestruturas não chega” e que é importante “novos modelos de regulação e políticas”, colocando igualmente em causa “quem é que vai pagar a resiliência?”. Mesmo assim, considera que “o Algarve será um farol inspirador no caminho para a resiliência”, face às medidas que tem aplicados nos últimos tempos.
Alfeu Sá Marques, das Águas de Coimbra, acredita que “há um problema de escala” e que “a Águas de Portugal devia estender-se a todo o território” para existir uma “gestão mais profissional”. A isto acrescentou a “falta de informação para gerir”, sendo que os cadastros das redes estão “incompletos”.
Na sua exposição defendeu ainda mais aproximação às universidades e aposta em mais projetos de investigação, além de realçar o problema da mão-de-obra envelhecida e que está a ser difícil substituir.
Já José Saldanha Matos crê que a solução passará por “trabalhar as interdependências dos setores” e por “simular situações de eventos extremos para tomar decisões”. “Para ter resiliência claro que se tem de gastar mais dinheiro”, mas a mesma será aumentada com conhecimento e não necessariamente com infraestruturas.
Outro interveniente neste debate foi Rodrigo Maia da FEUP, que percebe que um dos maiores desafios na resiliência hídrica é “ser antecipatórios”, as atuais infraestruturas e a “desigualdade social”. Também a digitalização e a inteligência dos sistemas é outra questão que é preciso ter em conta.
Da perspetiva tecnológica, Hélder Pereira da Tecnilab AV, considerou que “para medir e controlar tem de ser com gestão” e que é precisa uma “estratégia de manutenção no pós-eventos extremos”, que passe por estender a vida útil dos ativos, seja infraestruturas ou recursos humanos.
Sendo uma empresa que dá soluções para o setor, o orador explicitou que “há investimentos com pouco custo que trazem grande impacto” e ainda questionou porque é que os efluentes líquidos não têm de ser reportados como os gasosos.
Por fim, os SMAS de Sintra, provaram como o território tem sido resiliente, expondo alguns exemplos práticos da sua atividade.
O Congresso da Água, organizado pela APRH (Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos), acontece de 8 a 11 de abril, no Hotel Vila Galé em Lagos, no Algarve, com a presença de mais de 400 participantes.