No primeiro dia 17.º Congresso da Água, organizado pela APRH (Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos), uma sessão plenária debateu a estratégia Água que Une, recentemente apresentada pelo Governo português.
Depois de uma breve apresentação do plano e dos principais objetivos por parte de António Carmona Rodrigues das Águas de Portugal, algumas entidades manifestaram a sua posição, como é o caso da ERSAR – Vera Eiró frisou desde logo que, olhando até para o exemplo da nossa vizinha Espanha,”não é só pela legislação que conseguimos alcançar resultados”.
“Destacaria a previsão de cerca de 40 milhões de euros para monitorização e reforço da fiscalização dos recursos hídricos nos próximos seis anos. Este valor é muito superior ao que foi investido nesta área nos últimos 30 anos e eu não canso de referir que as medidas e o sucesso das medidas estará intimamente relacionado com a atividade de medir. E, portanto, é fundamental nós quantificarmos todos os consumos de água e fazermos a atualização dos tipos de utilização dos recursos hídricos”, afirmou a responsável.
Além disso, mostrou preocupação com algumas soluções da estratégia que, a par da eficiência, “implicam investimentos relevantes associados” e que deveriam ser o ultimo recurso, daí haver “muito a fazer antes de chegar aí”.
Por sua vez, Pedro Pedrigão, CEO da Indaqua, considerou que a estratégia precisa de mais reconhecimento do setor privado, pois este não servirá apenas para interesses de financiamento. Noutro ponto, o orador referiu que “as perdas de água não são problema de engenharia, mas sim problemas de gestão”, e reduzir estas permitirá sim “financiar as reabilitações das condutas”.
Do outro lado, Catarina Sousa da Aquapor concordou com o CEO da Indaqua na questão do papel dos privados e da gestão dos recursos hídricos. Também mencionou o papel da digitalização como um passo importante, mas que esta vem “dar apenas um boost ao processo, não vem resolver o problema “.
Já Joaquim Poça Martins do CNA (Conselho Nacional da Água), disse que em pleno 2025 “é inaceitável que a renovação das infraestruturas seja praticamente zero” e que a média de perdas de água nacional seja de 35%.
Por exemplo, no caso da agricultura, o orador explicou que neste setor só 10% da água é medida, logo 90% não é faturada, o que constitui um problema que precisa de ser rapidamente solucionado.
Sobre este setor em particular falou Rogério Ferreira da DGADR, que apontou questões como a heterogeneidade do país no que diz respeito a regadios e a grande extensão de pequenas concessões de regadios, que em Portugal são mais de 2.000.
Além disso, referiu a necessidade de fazer uma revisão em relação aos aproveitamentos hidroagrícolas, pois a documentação associada já tem mais de 40 anos e precisa de ser readaptada ao cenário atual.
O Congresso da Água acontece de 8 a 11 de abril, no Hotel Vila Galé em Lagos, no Algarve, com a presença de mais de 400 participantes.