Um grupo de ambientalistas está a testar, em Portugal, um modelo de regeneração de ecossistemas para combater as alterações climáticas. Na prática, a comunidade, integrada no movimento “Primal Gathering”, promove “retiros criativos junto de proprietários com vista à recuperação de florestas, em ações que, além de valorizarem recursos da terra, promovem o bem-estar mental”, lê-se num comunicado.
Desde o início do projeto, em 2018, o grupo reuniu cerca de quatro mil pessoas em diferentes retiros para reflorestação e promoção da sustentabilidade ecológica. Entre as ações mais significativas, destaca-se, por exemplo, a restauração de uma floresta em Odemira, através da plantação de 400 árvores num único dia com a ajuda de 70 participantes; a construção de um jardim numa quinta em Sintra; ou a plantação de 800 árvores de fruto e vegetais, na mesma região. Esta última iniciativa, em particular, permitiu gerar um retorno de mais de 500 euros com a venda local de frutas e hortícolas, refere a comunidade.
O próximo retiro da comunidade vai decorrer entre os dias 12 e 14 de novembro, em Monchique, no Algarve, e o objetivo passa por plantar mil árvores, em parceria com a Reflorestar Portugal. A expectativa do grupo é que, durante os próximos 5 anos, sejam plantadas 10 mil árvores em diferentes zonas do país. “Cada árvore pode sequestrar até 22 quilos de Dióxido de Carbono por ano. No espaço de 5 anos, estamos a falar de 220 mil quilos de CO2 sequestrados”, explica a fundadora do projeto, Nicole Bosky, numa alusão ao potencial que as atividades têm para mitigar os efeitos negativos das alterações climáticas.
Para Nicole Bosky, “Portugal é o maior produtor e exportador de pasta de eucalipto. A plantação de monoculturas desta árvore em todo o país potenciou incêndios que queimaram até 2,5 milhões de hectares de floresta entre 1990 e 2017. Uma vez que 97% da Floresta em Portugal está em mãos privadas, a melhor maneira de mudar é abordar esses proprietários e incentivá-los a plantar espécies florestais biodiversas. Essa é a nossa missão enquanto Primal Gathering”.
Com o projeto, juntam-se os proprietários a participantes motivados a aprender mais sobre ecologia e atende-se às necessidades de todos. “Os participantes, muito particularmente, desenvolvem, em comunidade, rotinas diárias e ferramentas práticas para adotarem comportamentos amigos do ambiente, ao mesmo tempo que trabalham em prol da saúde mental individual e coletiva”, explica a fundadora,
A par dos trabalhos a favor da sustentabilidade ecológica, nos encontros, os participantes são capacitados com conhecimento para adotarem um estilo de vida sem desperdício, cultivar alimentos de origem local e para criarem produtos naturais. Na vertente de promoção de saúde mental e de mindfulness, desenvolvem-se sessões de ioga, de relaxamento e de música – algumas das quais já dinamizadas pela dupla “Port do Soul” -, bem como workshops direcionados ao desenvolvimento pessoal, precisa o comunicado.
O programa está a ser atualmente implementado em Portugal, mas o objetivo é replicar este modelo de regeneração ambiental no resto do mundo, a começar no Reino Unido, em parceria com a rede Rebuild, já no próximo ano, e em Nova Iorque, em 2023. A fundadora tenciona ainda tornar o projeto “Primal Gathering” numa plataforma de pedagogia para cidadãos e empresas. Para tal, o foco centrar-se-á em apostar na criação de guias práticos de apoio à adoção de práticas sustentáveis em casa e no trabalho, cursos online e em atividades com empresas de diferentes setores, através de sessões de team building com foco na restauração de ecossistemas e no bem-estar mental.