As mentalidades estão a mudar, alguns comportamentos também, mas nas praias continuam a existir beatas, palhinhas, cotonetes e, só no ano passado, uma iniciativa de recolha permitiu juntar 1,5 toneladas de plástico. No sábado, 21 de setembro, assinalou-se o Dia Nacional de Limpeza de Praia, com dezenas de autarquias a organizarem iniciativas para tornar os areais mais limpos, conta a Lusa.
“Tem havido melhorias, mas também há ainda quem não queira saber, algumas pessoas continuam a achar que espaço público não é o mesmo que espaço privado, porque dentro de casa não deitam lixo para o chão, como fazem na rua”, disse à agência Lusa Susana Fonseca, da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
As melhorias são resultado de um conjunto de fatores: por um lado, o investimento que autarquias e concessionários das praias têm feito nos últimos anos, por outro, a sensibilização para o problema dos plásticos nos oceanos, nomeadamente nas escolas, porque “há cinco ou 10 anos não havia nem preocupação, nem mesmo conhecimento” sobre essa questão. “Há menos tendência para se sujar o que está limpo, as pessoas têm orgulho por a ‘sua’ praia estar bem classificada”, explicou Susana Fonseca.
Contudo, continuam a existir as pequenas embalagens, disse a ambientalista, lembrando o projeto-piloto que irá ser implementado durante ano e meio para incentivar os consumidores a devolverem aos supermercados as garrafas de plástico usadas. A ideia é premiar os consumidores com talões de desconto em função das devoluções.
“O sistema funciona muito bem, tem funcionado muito bem noutros países e devia ser desde já alargado, estar um ano e meio em regime de projeto-piloto é tempo perdido”, salientou. Questionada sobre se um sistema de multas poderia desincentivar as pessoas a sujar as praias, Susana Fonseca defendeu ser “mais eficaz quando é a própria sociedade a ajudar a implementar regras de civismo”.
ABAE quer “TransforMar”
Educar e sensibilizar é também um dos objetivos do programa “Praia mais limpa com…”, promovido pela Associação Bandeira Azul de Europa (ABAE) e que é destinado a empresas e associações, que durante um dia ajudam a recolher os “pequenos resíduos” que foram deixados no areal, como beatas e cotonetes.
Embora tenha sido criado já há alguns anos, segundo Márcia Vieira, em 2018 e 2019 “notou-se um boom” no interesse em relação a este programa. “Há uns anos eram atividades muito pontuais, este ano temos promovido uma a duas atividades por mês”, disse a responsável da ABAE, reconhecendo que, infelizmente, não se nota uma diminuição deste tipo de lixo.
Outro dos programas promovidos pela ABAE, em conjunto com o Eletrão – Associação de Gestão de Resíduos e o Lidl, é o “TransforMar”, que promove a recolha de plásticos. O objetivo é precisamente transformá-los em equipamentos para a comunidade, tendo no ano passado sido criados equipamentos de desporto.
Em 2018, em 15 praias de norte a sul, foram recolhidas 88 mil unidades de plásticos, o que correspondeu a cerca de 1,5 toneladas. Só na praia de Carcavelos, no concelho de Oeiras, distrito de Lisboa, em três dias foram recolhidos 400 quilos de plástico. Sobre a recolha deste ano ainda não existem números, mas Márcia Vieira estimou que o número de plásticos seja muito semelhante ao ano passado ou mesmo um pouco superior.
Patrulheiros das praias
Além destes programas, a ABAE tenta envolver neste tipo de ações “as pessoas que fazem parte da praia”, como os concessionários, nomeadamente através de um concurso que promove “as boas práticas”. “O problema do lixo nas praias é um assunto que cada vez está mais presente, nas redes sociais, na comunicação social. Agora, se isso vai traduzir-se em mudanças de comportamento ainda não sabemos. Mas, falando-se mais, pelo menos temos essa esperança”, disse a responsável da ABAE.
Pelo menos os 3.500 “patrulheiros” registados na aplicação lançada oficialmente em janeiro de 2019 – através da qual alertam para a ocorrência de atentados ao meio ambiente – deverão ser pessoas mais atentas para estes problemas.
Segundo dados enviados à agência Lusa sobre a atividade dos “patrulheiros” registados, o maior número de ocorrências relatadas tem que ver com a falta de capacidade dos caixotes e ecopontos que não dão vazão ao lixo deixado em praias e zonas balneares. Especialmente na costa alentejana são relatados muitos casos de lixo em praias desertas e detritos deixados em zonas onde se faz caravanismo selvagem. Do Algarve também chegaram relatos de despejos de lixo orgânico em trilhos e até de sofás.
Os dados mostram que “99% dos municípios com praias de bandeira azul reagem em 24 horas” e também se tem verificado “o aumento das respostas positivas e das rápidas resoluções dos municípios em relação aos problemas ambientais registados na aplicação”.