O descarte incorreto pode parecer um erro pequeno, mas muitos dos resíduos que hoje vão parar ao mar poderiam, na verdade, ser transformados em energia renovável. A Associação de Bioenergia Avançada (ABA) lança o alerta: para combater a poluição e acelerar a transição energética, basta sabermos onde colocar os resíduos certos.
“É urgente inverter a lógica do desperdício. Os resíduos orgânicos e óleos alimentares usados não são lixo inútil – são recursos valiosos. Cabe a todos nós dar-lhes o destino certo, de forma a promover um amanhã sustentável e descarbonizado, que pode começar nos nossos lares”, afirma Ana Calhôa, Secretária-Geral da ABA.
Neste sentido, a associação partilha um guia prático em cinco passos para ajudar os cidadãos a fazer a diferença:
1 | Reconhecer os resíduos com potenciais
O primeiro passo é mudar o olhar que temos sobre aquilo que costumamos deitar fora. Há resíduos que, longe de serem lixo, são verdadeiras matérias-primas para a produção de biocombustíveis. Falamos de óleos alimentares usados, restos de molhos, margarinas fora de validade, gorduras alimentares ou até das borras do café. Todos estes resíduos têm um elevado potencial energético e, quando corretamente recolhidos e encaminhados, podem ser valorizados em unidades tecnológicas que os transformam em combustíveis sustentáveis. Em vez de poluírem os solos ou contaminarem as águas, passam a ser parte da solução para um planeta mais limpo.
2 | Separar é o primeiro passo
Depois de reconhecido o valor destes resíduos, é essencial garantir que são separados corretamente. O óleo alimentar usado deve ser guardado em garrafas de plástico bem fechadas, de forma a evitar derrames, maus odores ou a sua mistura com outros resíduos. Já as gorduras e restos alimentares devem ser recolhidos em recipientes adequados, também eles fechados, para facilitar o transporte e evitar contaminações. Um dos maiores erros é misturar este tipo de resíduos com o lixo indiferenciado, sendo que, quando isto acontece, perdem-se recursos e oportunidades de valorização. Separar é um gesto simples, mas com um impacto enorme no processo de transformação e no ambiente.
3 | Levar ao destino certo
Separar em casa não basta. É preciso garantir que os resíduos chegam ao local certo para poderem ser aproveitados. O óleo alimentar usado deve ser depositado nos oleões públicos, que estão espalhados por supermercados, escolas, juntas de freguesia ou pontos de recolha municipais. Já os resíduos orgânicos, como restos alimentares, podem ser entregues em sistemas de recolha municipal: alguns concelhos oferecem recolha porta a porta ou pontos de entrega comunitários. Quando os resíduos chegam ao sítio certo, entram na cadeia de transformação que os torna parte da economia circular.
4 | Valorizar os resíduos
Após a recolha, os resíduos seguem para unidades industriais onde, através de tecnologia avançada, são convertidos em biocombustíveis. Este processo, além de altamente eficiente, é um dos pilares da transição energética. Os biocombustíveis avançados, produzidos a partir de resíduos, substituem os combustíveis fósseis e podem ser usados em veículos pesados, transportes públicos, maquinaria agrícola ou industrial, sem necessidade de adaptar motores ou infraestruturas. O seu impacto ambiental é incomparavelmente mais reduzido: entre 84% e 97% menos emissões de gases com efeito de estufa, segundo dados da Comissão Europeia. Cada litro de óleo usado ou quilo de resíduo alimentar pode fazer a diferença na construção de um futuro mais sustentável.
5 | Partilhar as boas práticas
Tão importante como agir é partilhar. A maioria das pessoas ainda não sabe que resíduos como o óleo alimentar ou as borras do café podem ser reaproveitados, ou continuam a descartar mal por simples falta de informação. É aqui que o nosso papel enquanto cidadãos ativos se torna fundamental. Ao falarmos com os nossos vizinhos, amigos, colegas ou familiares estamos a multiplicar o impacto positivo.
Deitar óleo usado na banca ou deitar restos no lixo comum não é só um problema de canalizações. É uma ameaça real para rios, solos e oceanos, visto que um único litro de óleo pode contaminar até um milhão de litros de água.