Climáximo luta por uma sociedade mais justa num ambiente justo
Nasceu em 2015 luta pela justiça climática. O Climáximo é um grupo aberto e horizontal que apoia ideias novas e sustentáveis para o bem-estar do planeta, nomeadamente o consenso científico: “A sociedade tem de substituir urgentemente os combustíveis fósseis por fontes de energia sustentáveis e todos os novos projetos de exploração e extração têm de ser parados”.
É com ideais verdadeiramente ambientalistas que Andreia Ferreira, elemento deste grupo, refere à Ambiente Magazine que o Climáximo tem o desígnio de resistir a soluções de “capitalismo verde”, considerando que urgem “mudanças estruturais” nos comportamentos da sociedade. “Acreditamos que a mercantilização da natureza e dos recursos do planeta causará sempre ciclos crescentes de exploração e destruição”, sustenta a responsável.
Foi precisamente para combater o “vírus” que está a atormentar a sociedade e o planeta que este grupo lançou o manifesto “Nós Somos os Anticorpos” que, atualmente, conta com cerca de 300 subscritores. Neste documento, o destaque vai para as “três reivindicações” que, do ponto de vista de Andreia Ferreira, são urgentes e precisas. Com base em dados científicos, a responsável diz que, “para se ter um planeta habitável” e a “manutenção da civilização”, é preciso “reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para metade até 2030”. No entanto, este manifesto “exige” neutralidade carbónica em 2030: “zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 2030”, reclama o documento. Nos serviços básicos incondicionais, este manifesto requer que seja garantida a “saúde”, a “educação”, a “habitação”, a “alimentação”, a “energia renovável” e os “transportes” de forma “gratuita” e, no “setor público, para todas as pessoas”. Em matérias de energia, o documento propõe também que, para se financiar uma “transição energética justa e garantir serviços públicos para todas as pessoas”, é fundamental “fixar um novo escalão de IRS máximo, aplicado aos rendimentos acima dos 150 mil euros anuais brutos, com a taxação fixada em 99%”.
No clima não se negoceia
Para Andreia Ferreira, não restam dúvidas de que as alterações climáticas afetam já “milhões de pessoas” por todo o mundo, nomeadamente no Sul Global. Assim, a “responsabilidade histórica dos países do Norte Global é acrescida”, considera, notando que “devem ser estes a fazer o maior esforço global na redução drástica de emissões de gases com efeito de estufa”. Em Portugal, segundo a responsável, o movimento climático já conseguiu algumas “vitórias importantes”, como o “cancelamento de todos os 15 contratos de exploração de petróleo e gás”. No entanto, há ainda “planos de megaprojetos emissores de gases poluentes”, alerta, dando como exemplo o “novo aeroporto do Montijo”, a “expansão do aeroporto da Portela”, a “expansão do terminal de gás natural liquefeito em Sines” e, ainda, a “subsidiação pública de empresas poluentes”. Embora tenha sido anunciado o “encerramento das centrais termoelétricas de Sines e do Pego”, Andreia Ferreira declara que ainda “não foi apresentado qualquer compromisso para com os seus trabalhadores”.
E, nestas matérias, o “único plano real que existe” e que seja “compatível com o que a ciência diz”, ou seja, “cortar emissões de 70 a 90% até 2030”, é a campanha Empregos para o Clima que explica como cumprir tal meta através da “criação de mais de 100 mil novos postos de trabalho, públicos e dignos”, nas áreas-chave, como a “energia”, os “transportes” ou a “construção”, refere. Esta campanha criou ainda medidas concretas, das quais Andreia Ferreira destaca o destinar de “um dia por semana para requalificação profissional dos trabalhadores dos setores poluentes”; a “criação de uma empresa pública de energias renováveis” ou a “expansão da rede ferroviária nacional e internacional”.
Relativamente ao papel dos líderes políticos no combate às alterações climáticas, a responsável não tem dúvidas de que estes “deveriam agir” de acordo com o que a “ciência aponta”, no sentido de “zelar pelos interesses da população” e “garantir” que sejam “tomadas todas as medidas para evitar o caos climático” e a “agudização das crises sociais”. Andreia Ferreira é perentória: “Não podemos esperar nem até 2050 nem por mais um ciclo eleitoral”. E se tais mudanças não acontecerem o quanto antes, “vamos rapidamente chegar ao ponto de não retorno e será materialmente impossível manter a civilização como a conhecemos”, alerta. E quando as bases são puramente científicas, não há qualquer negócio: “São dados científicos e não são passíveis de ser negociados porque não conseguimos negociar com a atmosfera e com as moléculas de CO2”, reclama.
Quanto ao futuro, o grupo Climáximo apela à urgência de se “mudar radicalmente do modo de produção à distribuição de riqueza”, isto “se queremos ter alguma possibilidade de estancar a crise climática nos moldes em que já a vivemos hoje. Temos uma série de eventos desastrosos”, alerta, dando como exemplo as “150 mil mortes anuais diretamente ligadas às alterações climáticas”; as “temperaturas recorde dos polos aos 52ºC em Bagdade”; os “4,6 milhões de pessoas afetadas por cheias no Bangladesh”; os “muitos milhões de pessoas deslocadas devido a secas, colheitas perdidas e fomes”; ou os “incêndios florestais absolutamente devastadores e mortíferos na Austrália, na Califórnia e em Portugal”.
Manifestação 5 de outubro
No combate às alterações climáticas, a “mobilização” é fundamental. E, para tal, o Climáximo vai organizar a manifestação “Nós somos os Anti-corpos” no próximo dia 5 de outubro. Esta ação tem como foco uma “economia baseada nos cuidados” e uma “sociedade baseada nos serviços públicos e nos direitos básicos” e “não no lucro, na destruição, no ódio e na divisão”, destaca a responsável.
Andreia Ferreira afirma que “ações de desobediência civil não violentas” têm demonstrado ao longo da história serem uma “ferramenta importante no avanço das causas sociais”, apelando à participação de todos.
Para mais informações sobre a próxima manifestação e outras, pode consultar o site da associação.