A cimeira de Paris “tem todas as condições para ser um sucesso”, garantiu, ontem, Jean-François Blarel, embaixador francês em Portugal. “Será necessário multiplicar esforços para concretizar o nosso objetivo global antes de clamar vitória mas tenho a esperança de encontrar um acordo global e sólido que será na verdade um acordo histórico”, sublinhou.
O êxito da COP21, segundo François Blarel, dependerá de se conseguir “um acordo universal, vinculativo e diferenciado entre os 196 países para a redução global das emissões de gases com efeito de estufa para que cada um possa fazer a sua parte, de manter esse acordo ao longo do tempo e, também, de concretizar mecanismos financeiros do Fundo Verde Climático”. Isso implica, nomeadamente, a garantia de cem milhões de euros anualmente para o fundo a partir de 2020.
Jean-François Blarel, salientou, ainda, que “os sinais são positivos” para um desfecho positivo da cimeira e que o acordo de Paris “não deverá ser um fim mas o princípio de um processo”.
Filipe Duarte Santos, pioneiro na investigação das alterações climáticas em Portugal, que também esteve presente, ontem, na conferência “Alterações Climáticas. Contributo para Paris, Cimeira das Nações Unidas COP 21”, organizada pela EDP e o Diário de Notícias, lembrou que “as alterações climáticas já estão aí” e que “apesar de as suas manifestações ainda serem fracas, não há dúvidas sobre a sua realidade”, dando como exemplo a “transformação gigantesca” que se está a dar principalmente no Ártico. “A redução do gelo tem levado a um aumento do nível médio do mar muito elevado. O Ártico é uma bomba a médio e longo prazo”, alertou. Filipe Duarte Santos, que é professor catedrático na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apresentou alguns estudos, que estimam para a Península Ibérica até ao final do século o aumento de fenómenos extremos, como episódios de chuvas torrenciais e secas extremas, com efeitos negativos em atividades como a agricultura, pescas ou a ocupação do território. “Penso que vai levar muito tempo a que as pessoas percebam que já estamos em mudança”, lamentou.
No âmbito das negociações do clima para a COP21 e enquanto membro da União Europeia, Portugal já definiu a sua meta de redução de emissões que é de 40% até 2030 em relação aos valores de 1990, como adiantou Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente.
Até 2050, vai ser necessário cortar em 40% a 60% as emissões globais para se cumprir o objetivo de manter o aumento global da temperatura do planeta abaixo dos dois graus célsius, em relação à era pré-industrial – a meta considerada segura pelos cientistas para evitar um desastre climático.