O projeto “Transporte a Pedido”, desenvolvido pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIM Médio Tejo), está entre os 25 finalistas dos Prémios REGIOSTARS 2021 da Comissão Europeia, concorrendo na categoria de “TOPIC OF THE YEAR: Enhancing green mobility in the regions: European Year of Rail 2021”. A Ambiente Magazine foi ao encontro de Miguel Pombeiro, secretário executivo da CIM Médio Tejo, que partilhou em “primeira mão” a satisfação e o orgulho de estar entre os possíveis vencedores de um concurso que distingue projetos inovadores e relevantes para o desenvolvimento regional, representando um importante reconhecimento do trabalho que tem sido desenvolvido.
Tudo começou com a necessidade de se encontrar novos modelos de transporte que dessem uma “resposta eficiente” às necessidades de mobilidade em zonas de povoamento mais disperso: “O Médio Tejo é um território com muitas zonas rurais de baixa densidade, que apresentam debilidades ao nível da oferta de transporte público regular e onde, simultaneamente, residem as populações mais envelhecidas e dependentes do transporte público para se deslocarem aos centros urbanos e, assim, acederem aos bens e serviços essenciais”. O Transporte a Pedido – uma solução flexível de transporte – surge em 2013, com a visão de promover “novas soluções de transporte público”, adaptadas às “zonas de baixa densidade populacional” onde as necessidades de mobilidade não conseguem ser “eficientemente satisfeitas com as redes regulares de transporte”, numa perspetiva de “assegurar o essencial direito à mobilidade, numa lógica de inclusão social”, explica. Liderado pela comunidade intermunicipal, o projeto tem vindo a ser desenvolvido em parceria com os municípios e em articulação com juntas de freguesia, associações locais, centros de saúde e outros serviços públicos e operadores de transporte locais.
Na prática, tal como indica Miguel Pombeiro, o Transporte a Pedido funciona com circuitos, paragens e horários pré-definidos: “É ativado apenas mediante reserva prévia de viagem, através do telefone para o numero verde da central de reservas (800 209 226) ou da plataforma de reservas online, indicando o nome do passageiro, data e horário da viagem e paragem pretendida para o embarque e desembarque”. Com esta plataforma de gestão de reservas assegura-se a “otimização diária das rotas, adequando tipologia de viaturas a afetar (em grande parte com viaturas de 4/8 lugares, em parceria com os táxis locais) e minimizando distâncias percorridas (as viaturas só se descolam às paragens com reservas)”, sublinha. Por outro lado, os serviços são estruturados de “forma integrada com a rede regular”, compatibilizando “horários nos terminais rodoviários e nas estações ferroviárias”, promovendo a “intermodalidade” e a “conetividade regional”.
[blockquote style=”2″]Um serviço com grande capacidade de adequação às realidades locais[/blockquote]
Desde o arranque do projeto, com uma experiência piloto de cinco circuitos no concelho de Mação, o Transporte a Pedido tem sido desde então progressivamente alargado à generalidade da sub-região do Médio Tejo, estando hoje a funcionar nos 13 concelhos (Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Sertã, Tomar, Torres Novas, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha) com mais de 70 circuitos e de 1300 paragens, servindo um universo de cerca de 214 mil habitantes. Numa primeira fase do projeto, segundo o secretário executivo da CIM do Médio Tejo, com circuitos de âmbito municipal, o Transporte a Pedido pretendeu favorecer a “mobilidade dentro do concelho”, assegurando “ligações dos lugares mais rurais às suas respetivas sedes de freguesia e à sede do concelho”. Numa fase mais recente do projeto (2019), melhorando significativamente a oferta pública existente, implementaram-se “ligações rápidas e diretas entre concelhos”, através dos “circuitos LINK (ligação entre as 13 sedes de concelho)”, que permitem ligações às “principais estações ferroviárias e viagens casa-trabalho cómodas e em horários frequentes distribuídos ao longo do dia”, facilitando também as “deslocações da população jovem e em idade ativa, de modo a incentivar a utilização do transporte público em detrimento da viatura individual nas deslocações diárias”, precisa.
Ao nível das vantagens ambientais associadas, Miguel Pombeiro assegura que através deste “modelo de funcionamento”, é possível assegurar uma “ampla cobertura territorial e temporal da oferta de transporte”, percorrendo com “viaturas ligeiras e adequadas às necessidades, apenas cerca de 10% dos quilómetros que seriam necessários percorrer para assegurar a mesma oferta com um serviço regular”, o que se traduz naturalmente em grandes ganhos, quer em termos do “conforto e qualidade do serviço prestado”, com menores tempos de percurso, quer seja na “sustentabilidade financeira e ambiental”. Um bom exemplo disso é que, “no ano 2020, em vez de se realizarem cerca de 1,8 milhões de km em autocarro num serviço regular, realizaram-se cerca de 190 km com viaturas ligeiras, para transportar o mesmo número de passageiros (cerca de 16 mil)”, destaca. Às vantagens ambientais, acresce a possibilidade de se assegurar a oferta de transporte público na região, com custos muito reduzidos, da ordem dos “seis a sete mil euros mensais” para a globalidade dos circuitos concelhios da região, e da ordem dos “oito mil por mês para os circuitos entre concelhos”, o que representa um “encargo bastante comportável para o erário público quando comparado com os custos normalmente associados aos transportes urbanos das cidades ou aos transportes escolares”, afinca. Por outro lado, contribui para a “rentabilidade económica da atividade de pequenos operadores de transporte locais (estão envolvidos no projeto mais de 30 operadores de taxi locais)”, assim como “possibilita a existência de um serviço de transporte público com tarifas acessíveis à população”, que para “viagens dentro do concelho são de um ou dois euros” e para “viagens entre concelhos chega no máximo aos quatro euros”. Em suma, “trata-se de um serviço de transporte com grande capacidade de adequação às realidades locais, garantindo, com encargos bastante controlados, a existência de uma oferta de transporte público em zonas de baixa densidade e para populações em risco de exclusão que, de outra forma, ficariam cada vez mais isoladas e com dificuldades acrescidas no acesso aos serviços básicos necessários para o seu dia-a-dia”.
Para além da satisfação de estar entre os 25 finalistas aos Prémios REGIOSTARS 2021, Miguel Pombeiro constata a oportunidade de, igualmente, permitir dar visibilidade ao trabalho desenvolvido, impulsionando a “partilha de experiências” e o “desenvolvimento de novas abordagens para a mitigação de problemas” que muitas vezes são comuns a vários territórios.
O que desejam para o futuro?
O caminho já percorrido com este projeto e os resultados alcançados reforçam o empenho e motivação para continuar o trabalho que se iniciou e continuar a caminhar no sentido de uma mobilidade mais sustentável na região e na busca de abordagens alternativas e inovadoras também para outros projetos e áreas de atuação da CIM Médio Tejo que contribuam para a qualidade de vida dos cidadãos e para o desenvolvimento do território.
O projeto Transporte a Pedido foi cofinanciado pelo FEDER através do Programa Operacional Regional do Centro.
[blockquote style=”1″]Processo de Votação:[/blockquote]
Os prémios REGIOSTARS são organizados anualmente desde 2008. A Comissão Europeia atribui estes prémios a projetos financiados pela União Europeia que demonstrem excelência e novas abordagens, no âmbito do desenvolvimento regional. Com o objetivo de inspirar outras regiões e gestores de projetos em toda a Europa, os projetos participantes estão em destaque nas atividades de comunicação a nível europeu. Este ano, o número de candidatos voltou a bater novo recorde com 214 candidaturas de toda a Europa. Um júri independente selecionou cinco finalistas por categoria entre as participações de elevada qualidade recebidas para chegar a uma lista final de 25 projetos, e entre os quais se encontra o Transporte a Pedido, o único projeto português a chegar à final. O passo seguinte será eleger um vencedor em cada uma cinco das categorias, o que será feito por um júri independente. Por outro lado, a Comissão Europeia privilegia a participação do público nesta iniciativa. Por isso, os prémios contam com um “Public Choice Award”, onde o público elege o vencedor. As votações já estão abertas e decorrem online até 15 de novembro. Para votar, basta aceder a – regiostarsawards – e selecionar a categoria e escolher o projeto em que se quer votar. A votação é validada, clicando sobre o coração que se encontra no canto superior direito de cada um dos projetos.
Fotografia de capa: Miguel Pombeiro – Créditos: Arlindo Homem