Cientistas de recursos minerais propõem ferramenta para monitorizar e gerir aquíferos do Algarve

O Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos do Instituto Superior Técnico propôs montar um sistema que fornecerá “evidências científicas” para apoiar a gestão técnica das águas subterrâneas algarvias. Da reunião com a CCDRA e a APA saiu o compromisso de troca de informações e de identificação de fontes de financiamento.

O DER e a ARH Algarve -APA vão trocar informação com vista à criação de um sistema de monitorização e de ajuda à decisão dos aquíferos da região com recurso à Inteligência Artificial. Este será capaz de, “em poucos anos”, fornecer “elementos de elevada precisão” para suportar decisões técnicas sobre utilização da água que seja necessário tomar no futuro.

Assim, a proposta do DER propõe “construir um conjunto de ferramentas e de metodologias de ajuda à decisão sobre a gestão de água subterrânea” e gerir, este conjunto de ferramentas, em colaboração com as entidades regionais.

“O sistema de suporte à decisão que o DER propõe criar permitirá que, em poucos anos, a entidades responsáveis pela gestão da água possam passar a basear as suas decisões estratégicas, quer de utilização da água, quer de medidas ou intervenções que a protejam, num conjunto de evidências científicas mais alargadas e em previsões com menos incerteza sobre a sua evolução ao longo do tempo”, afirma o professor e investigador Leonardo Azevedo.

O DER comprometeu-se a enviar à ARH Algarve – APA e à CCDRA exemplos de projetos na área que tem desenvolvido em Portugal e na Europa. A APA, por seu lado, irá enviar informação sobre os instrumentos de monitorização de que já dispõe, e os que irão entrar em funcionamento, para que o DER possa identificar, com precisão, a melhor forma de acrescentar valor com novos instrumentos de apoio à decisão. As três entidades irão também estudar fontes de financiamento com fundos europeus para o projeto.

O DER e o CERENA participam em projetos europeus

Para montar um sistema de apoio à decisão técnica das entidades do Estado e à decisão política de governantes e autarcas, os engenheiros de recursos minerais do Instituto Superior Técnico propõem-se construir um conjunto de ferramentas e de metodologias computacionais. Estas começam pela instalação de sistemas de monitorização de alta resolução temporal e de transmissão de dados, assim como pela recolha e tratamento de todos os dados disponíveis sobre o comportamento do aquífero nas últimas décadas, para análise de tendências espácio-temporais.

Segundo a proposta, será feita a modelação numérica dos sistemas subterrâneos para previsão do comportamento do fluído no interior do aquífero, desenvolvendo “metodologias de aprendizagem profunda que reproduzam o comportamento espaciotemporal do aquífero para que seja possível a previsão deste comportamento com baixos custos computacionais”. A seguir será desenvolvida uma ferramenta web de suporte à decisão tendo em conta os dados reais e a resposta do sistema às alterações climáticas e modelos de gestão.

“Após os primeiros anos do projeto, as vossas entidades passarão a ter acesso a um sistema de ferramentas e a modelos computacionais, que, não só serão simples de utilizar, mas terão também capacidade para fornecer elementos de elevada precisão que irão permitir avaliar o impacto de cada medida ao longo do tempo, no contexto dos efeitos produzidos pela crise climática”, afirma a proposta do DER.

Docentes do DER e do Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA) – classificado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT como “Excelente” – têm desenvolvido com sucesso este tipo de metodologias, com destaque para a recente participação no projeto europeu InTheMed, um esforço pan-mediterrânico com outras instituições de investigação e desenvolvimento do Sul da Europa e do Norte de África. No âmbito desse projeto, foram desenvolvidos conjuntos de ferramentas para que as entidades locais de gestão de recursos hídricos possam avaliar o impacto da exploração deste recurso ao longo do tempo.