Uma equipa de cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desenvolveu um produto à base de resíduos florestais e fungos que pode ser usado na área da construção, nomeadamente em paredes interiores de edifícios. O objetivo deste produto, desenvolvido no âmbito do projeto “Value2Prevent”, é valorizar a biomassa florestal, agregar valor às florestas e, consequentemente, possibilitar o aumento do rendimento dos produtos.
“Normalmente, os produtores florestais não têm grandes incentivos à limpeza dos terrenos, porque essa biomassa que resulta das limpezas não tem grande valor, uma vez que tem que ser transportada para locais específicos e o transporte e a recolha são muito caros. Portanto, tem de haver um retorno elevando para que tal seja compensatório para os produtores”, começa por esclarecer João Martins, investigador do Centro de Ecologia Funcional do
Departamento de Ciências da Vida da FCTUC. Nesse sentido, “desenvolvemos um produto que pode ser utilizado na construção, nomeadamente em paredes interiores, que tem um valor acrescentado muito interessante. A ideia é usarmos os tais resíduos de biomassa florestal, inocularmos com um fungo que tem a capacidade de degradar parcialmente a biomassa e criar uma espécie de cimento, agregando todas as partículas e formando um bloco. Posteriormente, este produto é seco, para inativar o fungo, e pode ser utilizado no interior de duas placas de madeira, substituindo, assim, os materiais sintéticos usados atualmente”, descreve o investigador.
Além de ser uma alternativa sustentável, este produto tem também outras vantagens que podem fazer a diferença, nomeadamente “as propriedades térmicas e acústicas, o facto de ser uma opção mais equilibrada, pois é tão sustentável como a madeira, mas tão eficiente como o revestimento sintético, e ainda, o baixo custo do produto. A biomassa é relativamente barata e conseguimos produzir estes blocos com facilidade”, conclui.
Os testes têm vindo a ser feitos à base de árvores como eucalipto, pinheiro bravo, medronheiro, e ainda uma mistura de arbustos, mas no futuro a equipa pretende testar a utilização de outros produtos com a biomassa, como por exemplo plástico reutilizado, cortiça e borracha, que podem tornar ainda mais eficazes as propriedades acústicas e térmicas deste material.