Cientista da UC estuda e monitoriza evolução de círculos de pedras na Antártida em formação há 10 mil anos
Pedro Pina, professor e investigador do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), está a estudar e a monitorizar a evolução de círculos de pedras naturais na Antártida em formação há 10 mil anos, quando os glaciares da região começaram a recuar e criar zonas livres de gelo.
Toda a informação geológica recolhida no âmbito do projeto CAMOES, financiado pelo Programa Polar Português (PROPOLAR), será compilada num mapa detalhado desta região polar.
“Nas zonas polares e de alta montanha é comum existirem padrões naturais de fragmentos rochosos que se formam, sobretudo, em regiões livres de gelo como permafrost, em que o solo, por variação sazonal de temperatura, cria à superfície círculos de pedras, que podem ter entre um a quatro metros de diâmetro. É a evolução destes círculos que estamos a estudar e monitorizar, através de imagens de satélite e, mais recentemente, de drones”, explica o investigador.
O permafrost é a camada do solo da crosta terrestre que está permanentemente congelada. No entanto, se as temperaturas atingirem zero graus ou mais, esta camada começa a descongelar e a possibilitar uma dinâmica semelhante à do solo “normal”, acabando por permitir, na Antártida, a implantação de vegetação rasteira (tipicamente líquenes e musgos).
De acordo com Pedro Pina, “estes círculos formam-se pela dinâmica sazonal do solo, que, mesmo que não descongele, sofre variações de temperatura ao longo do ano, o que faz com que se movimente, começando a expulsar primeiro as pedras maiores do subsolo para a superfície, arrumando-as depois radialmente à superfície (em forma de círculo). Este fenómeno natural é um bom indicador das características de climas passados. É aliciante estudar estes círculos de pedras que se formam ao longo de centenas de milhares de anos”.
Estes padrões ajudam a perceber o clima que existiu na região nos últimos 10 mil anos. O objetivo desta monitorização “é quantificar a densidade espacial dos círculos, se são maiores ou menores, se ainda estão ativos ou não. A sua dinâmica é sempre muito baixa (poucos milímetros por ano), por isso não os vemos a movimentar-se, mas percebe-se que estão ativos se o solo estiver húmido. Porém, se estiver coberto de vegetação, normalmente, significa que já não estão ativos”.
“Fazer a caracterização morfométrica destes círculos, identificar o tipo de rocha e de solo, e relacionar isso com expansão da vegetação é também muito importante para perceber o avanço das alterações climáticas”, conclui o investigador da Universidade de Coimbra.