Cidades são a “única plataforma” que transmite “clareza” sobre a transição energética
“A mobilidade é aquilo que podemos ou não fazer para a transição energética que temos de fazer na Europa: é o combate às mudanças climáticas”. Este foi o ponto de partida para Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sublinhar que, na capital portuguesa, a mobilidade é uma prioridade.
O autarca, que falava na sessão de abertura da Conferência “Os desafios da mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa”, promovida pela AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, parece não ter dúvidas sobre aquele que é o grande desafio europeu e global: “Todos os anos, transmitimos e emitimos mais de 51 mil milhões [de toneladas] de gases com efeito de estufa (CO2) e a percentagem que vem da mobilidade rondam os 10 mil milhões”. Logo, “são gases e partículas que ficam connosco durante milhares de anos”, alerta.
Outra questão é que, apesar de ser reconhecido que a transição energética é uma prioridade na Europa, há a necessidade de transmitir “clareza” à sociedade: “Comunica-se facilmente ao nível macro – queremos ser neutros em carbono – mas não conseguimos comunicar no concreto”, ou seja, “não se fala na criação de emprego” que a transição energética vai originar, mas sim “nos empregos que vão deixar de existir”, lamenta. No entender de Carlos Moedas, a “única plataforma” capaz de passar essa informação são as cidades: “Somos aqueles que sofremos os maiores desafios, mas os primeiros a encontrar as soluções”. E, neste âmbito, o atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa é um defensor das “políticas públicas” e da “união” em prol do mesmo objetivo: “É muito importante trabalhar nas políticas públicas sem as politizar: carros contra bicicletas ou peões contra as trotinetes”.
É precisamente sob o mote “políticas integradas na Área Metropolitana de Lisboa” que Carlos Moedas partilha o mais recente exemplo de colocar os transportes públicos gratuitos: “Temos, atualmente, 40 mil pessoas que aderiram aos transportes públicos gratuitos. 30 mil com mais de 65 anos e 10 mil são jovens”. Com este projeto, o autarca admite que há desafios, nomeadamente garantir a mesma gratuidade aos jovens que vêm de fora: “Mas, estamos a trabalhar nisso”, assegura.
É na chamada “dimensão holística” da mobilidade onde o desafio se torna mais difícil, ou seja, é na “missão de olhar para a mobilidade como uma matriz: temos de passar de uma visão onde o operador eram quem estava no centro para uma mudança em que o cliente é quem deve ser central”. Nesta equação, só os “dados” é que podem ajudar a dar resposta, garantindo que, no futuro, o sistema de transporte seja totalmente diferente e direcionado para o cidadão: “Temos muitos dados, mas o problema é que 90% deles não conseguimos usar”. Ainda assim, Carlos Moedas é perentório: “Seja nos transportes públicos, seja na atividade da política pública, os dados são essenciais”. Apesar da mobilidade acarretar inúmeros desafios, o autarca lisboeta partilha um grande otimismo quanto ao futuro: “São (desafios) “extraordinários” para a nova geração”.
A conferência sobre “Os Desafios da Mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa” insere-se no Ciclo de Conferências promovido pela AMT.