Numa altura em que os incêndios são mais acentuados, importa abordar soluções e instrumentos que permitam às autoridades antever ou minimizar os impactos deste flagelo. O Ciclope é uma tecnologia desenvolvida pela INOV (Instituto de Novas Tecnologias)e foca-se na deteção e apoio à decisão operacional no combate aos incêndios rurais ou florestais.
“É um feliz exemplo de como uma solução tecnológica se enquadra nas necessidades específicas de uma estrutura operacional, permitindo potenciar as suas capacidades e melhor rentabilizar os recursos disponíveis”, diz Luís Silva, porta-voz da INOV, numa entrevista à Ambiente Magazine. A ferramenta, que surgiu em 2011 como uma nova solução de navegar num mercado inexistente, teve de criar o seu espaço à custa da sucessiva demonstração das suas mais-valias: “Durante a sua primeira década de vida, graças ao efeito de contágio criado pela operacionalização do sistema em novas áreas, o Ciclope percorreu um caminho de autoafirmação que permitiu a criação de um novo mercado, afirmando-se, naturalmente, como referência”. Aliás, nos últimos oito anos, tal como indica o responsável, foi possível verificar, de forma mais evidente, a “existência deste novo mercado através dos sucessivos procedimentos de contratação pública”, aos quais o Ciclope “respondeu com uma taxa de sucesso extremamente elevada”.
Ao contrário das câmaras que fornecem um conjunto de algoritmos para a identificação de novos focos de incêndios ser reconhecida como uma grande mais-valia na execução da missão que a GNR detém na vigilância do território e deteção de novos focos de incêndio, a ferramenta Ciclope é mais valorizada pelos agentes da Proteção Civil, como a ANEPC (Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil), os SMPCV (Serviços Municipais de Proteção Civil) ou as corporações de Bombeiros, dada a sua capacidade de fornecer informação crucial à tomada de decisão no momento de combate: “A monitorização e a georreferenciação de qualquer área num alcance até 20 km permitem agilizar de uma forma extremamente eficiente as decisões operacionais em todas as fases de gestão da ocorrência, apoiando os decisores na confirmação, localização, caracterização, acompanhamento, monitorização dos efeitos das ações de combate e o respetivo rescaldo”, explica. E os municípios envolvidos acabam por ser os “agentes de promoção” da solução ao “ambicionarem disponibilizar este conjunto de ferramentas aos operacionais desta área na proteção do seu território”, acrescenta.
Questionado sobre os aspetos principais do Ciclope, Luís Silva não tem dúvidas de que o aspeto mais valorizado é o impacto positivo que a solução tem na cadeia de gestão operacional, a responsável por dar resposta à problemática dos incêndios rurais ou florestais: “A informação disponibilizada pelas imagens geradas pelo sistema em qualquer fase da ocorrência é significativamente mais rica do que a descrição verbal recebida pelos agentes no terreno, sejam eles os populares através das comunicações efetuadas para o 117, os vigias que integram a Rede Nacional de Postos de Vigia ou, mesmo, os operacionais destacados no teatro de operações, através da sua rede de comunicações de voz”. Esta ferramenta é assim reconhecida no território nacional pela forma como “facilita e potencia as decisões operacionais nesta área”, na medida em que “disponibiliza, aos agentes responsáveis, informação visual credível e isenta sobre o estado e localização da ocorrência, permitindo uma escolha fundamentada dos meios ativados em cada instante”, precisa.
Atualmente, o Ciclope está disponível para os operacionais da GNR e da ANPEC nos distritos de Bragança, Porto, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Lisboa e Setúbal, através de uma rede composta por mais de 100 Torres de Acompanhamento Remoto e 18 Centros de Gestão e Controlo e vários Centros de Monitorização Remota, permitindo assegurar a cobertura superior a 3,5 milhões de hectares, correspondendo a 33% do território continental português. O Ciclope tem também uma instalação na montanha do Pico que complementa a videovigilância com um conjunto de dispositivos de localização GPS, permitindo à entidade responsável pelo parque e aos bombeiros locais assegurar o cumprimento da rota definida para a subida e facilitar a pronta identificação e localização dos pedidos de apoio. De acordo com Luís Silva, “uma parte significativa das 105 torres em operação no território nacional dispõe já da capacidade de deteção automática de incêndios”, sendo que “as instalações anteriores a 2018 não previram esta funcionalidade por não ter sido considerada fundamental pelos respetivos promotores, prevalecendo a funcionalidade disponibilizada como ferramenta de apoio à decisão na deteção e combate dos incêndios rurais ou florestais”.
A relação do Ciclope com a Axis, parceira da INOV, nasce naturalmente através da disponibilização da gama de dispositivos integrados com câmaras do espetro visível e infravermelhos que permitiu cumprir os requisitos técnicos e funcionais necessários à integração na plataforma de software de forma compatível com as exigências específicas dos algoritmos de deteção de incêndios desenvolvidos pelo INOV. No entanto, para além do cumprimento das especificações técnicas e do respetivo custo, a decisão sobre esta gama teve em conta a fiabilidade reconhecida da marca, sendo este um dos fatores mais determinantes no sucesso da solução integrada e, portanto, da marca Ciclope.
Quanto a perspetivas, o porta-voz da INOV refere que a evolução natural, já manifestada por alguns dos responsáveis locais, será a de “alargamento” da “cobertura no território nacional, através de novas instalações nas regiões atualmente não cobertas,” e das “funcionalidades em algumas das atuais instalações, nomeadamente através da operacionalização da ferramenta de deteção automática de incêndios ou de sensores meteorológicos, cuja informação em tempo real, quando complementada pela imagem, se torna extremamente rica na compreensão do risco associado a cada ocorrência”.
E sendo o INOV uma instituição de investigação e desenvolvimento nas tecnologias da comunicação e informação e eletrónica, o objetivo é dar continuidade ao esforço de evolução da plataforma CICLOPE, no sentido de “otimizar as ações dos operacionais” para “reduzir o impacto negativo que os incêndios florestais impõem na vida económica e social do país”, sucinta.
*FOTOGRAFIAS: Fonte – Site CICLOPE