Sustentabilidade tem sido palavra de ordem no tecido empresarial, tendo em conta o cenário climático atual, e a consultoria, a par da certificação ambiental, podem ser impulsionadoras para que as empresas cumpram mais atempadamente com o seu compromisso ambiental.
A adesão a práticas ambientais e sustentáveis parece que já deixou de ser uma questão opcional para várias entidades e empresas, tornando-se cada vez mais uma parte fundamental da gestão de um negócio.
Todavia, o impacto ambiental não é uma preocupação de agora porque desde o final dos anos 90 que Portugal começou o seu “histórico de certificações ambientais”, garante Ana Cristina Simões, product manager na área de Certificação Ambiental na SGS Portugal.
A própria explica, desde um primeiro momento, a importância desta certificação para as empresas, destacando a visão que dará a partes interessadas exteriores, como os clientes, o Governo e a sociedade em geral: “uma organização certificada transmite uma imagem de comprometimento com o ambiente, demonstrando transparência e credibilidade no seu sistema de gestão ambiental”. Além disso, do ponto de vista interno, “possuir um sistema de gestão ambiental certificado pressupõe que anualmente exista a necessidade da organização demonstrar um conhecimento atualizado dos seus desafios ambientais, a manutenção das boas práticas ambientais e a melhoria do desempenho ambiental, como por exemplo, que reduções de custos de operação foram alcançadas”.
Atualmente, em Portugal, o top três de setores que têm registado maior crescimento em número de certificações compõe-se pela construção civil, o comércio e hotelaria e a restauração. A nível mundial, as indústrias mais preocupadas são novamente a construção civil e o comércio, acrescendo a metalúrgica.
“A possibilidade do recurso a consultores ambientais é encarada com cada vez mais naturalidade por parte das empresas”
Desta forma, a Ambiente Magazine questionou a responsável da SGS Portugal sobre os principais desafios que as empresas enfrentam para avançar com o processo de certificação ambiental e, em primeiro lugar, foram apontadas as “obrigações de conformidade, isto é, as necessidades das organizações em serem capazes de compreender a linguagem regulamentar e legislativa a que estão obrigadas”.
Em segundo lugar, Ana Cristina Simões afirmou que os investimentos podem ser também um desafio, sendo que a necessidade dos mesmos “pode estar relacionada com o cumprimento das obrigações de conformidade ou com a mitigação dos aspetos ambientais, designadamente dos que foram determinados como significativos”.
Um último desafio para as empresas poderão ser “as pessoas”, pois todas as que trabalharem para uma organização, independentemente do tamanho desta, “têm de demonstrar comprometimento com o Sistema de Gestão Ambiental”, sendo que o processo de certificação é “transversal a todos os departamentos, tais como as compras, a manutenção, a investigação e o desenvolvimento”.
E como é que as empresas podem obter ajuda para chegar ainda mais rápido a esta certificação ambiental? Foi o que Rui Ferreira, da AmbiPrime, veio contar, sendo que esta consultora ambiental foi fundada em 2004 por três engenheiros de ambiente, “com o propósito de apoiar entidades públicas e privadas a melhorar a sua performance ambiental e energética”.
As empresas podem procurar este serviço de consultoria para “instrução de pedidos de licenciamento industrial, ambiental e de operações de gestão de resíduos, fornecimento de legislação ambiental através de um portal online, realização de diagnósticos, auditorias e estudos de impacto ambiental, avaliação de riscos ambientais, acompanhamento ambiental em obra, implementação de sistema de gestão ambiental, cálculo de emissões de CO2 e auditorias energéticas”.
Mas o responsável da AmbiPrime destaca o portal online, sendo que “através de um questionário o mesmo identifica automaticamente a legislação aplicável às atividades desenvolvidas, apresenta os requisitos específicos a cumprir, possibilita a classificação do respetivo grau de cumprimento e a introdução de documentos, comprovativos e de notas”.
“Empresas de pequena e média dimensão podem periodicamente confrontar-se com questões ambientais que exigem recursos humanos especializados”
E como se materializam na prática os processos de consultoria? Podem pois variar em função de cada serviço, garante Rui Ferreira, mas “normalmente, o serviço de consultoria é iniciado com um diagnóstico da situação ou da organização, principalmente do contexto legal, mas também a nível das boas práticas ambientais”. Depois desta análise, é elaborado um plano para a resolução das questões que não estão em conformidade, sendo posteriormente apresentado ao cliente, “e caso seja aprovado, a fase seguinte será o acompanhamento da implementação do mesmo”.
A verdade é que o conhecimento e a experiência por parte dos consultores ambientais “permite a resolução mais célere e eficaz”, e por isso mesmo a adesão das empresas portuguesa à consultoria ambiental “tem crescido de forma contínua e sustentada”, e a AmbiPrime acredita que a tendência seja continuar assim nas próximas décadas.
Todavia, esta adesão também se deve, em parte, à legislação ambiental que “está a tornar-se cada vez mais restritiva e que implica por parte dos agentes económicos um maior investimento”, mas também à sociedade e às organizações que “começam a aperceber-se que investimentos amigos do ambiente podem significar uma redução de custos”.
Desta forma, a AmbiPrime acaba por funcionar como um departamento de ambiente externo à empresa, “garantindo o cumprimento dos procedimentos técnicos e burocráticos, periódicos e pontuais exigidos pela legislação ambiental nacional e comunitária”.
“Esta consciencialização está a permitir que a nossa sociedade entre num novo paradigma, em que se compreende que uma economia saudável depende de um ambiente saudável”
Os dados de 2021, disponibilizados pela ISO, e citados por Ana Cristina Simões da SGS Portugal, dão conta que a nível mundial houve um incremento de mais de 45 mil certificados ambientais, ou seja, mais 13%. No entanto, Portugal registou uma variação de -4%, em período homólogo, a par de países como Japão, Israel, Kuwait, Mali e Angola. Em termos absolutos, 51% dos certificados ambientais emitidos são da China, seguido do Japão, com apenas 5,2%.
A nível europeu, o país mais certificado ambientalmente é a Itália, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial, com 4,3%. Nesta visão, Portugal contribui só com 0,25%, ficando atrás de países do centro da Europa, como Grécia, Finlândia, Suíça e Áustria.
Mesmo assim, a responsável da SGS Portugal aponta o desempenho gradual crescente da certificação ambiental em território nacional, confirmando que a própria entidade teve uma variação de mais 3,4%, face ao ano anterior.
Este artigo foi incluído na edição 100 da Ambiente Magazine