Cerca de 70% dos 62 hectares da Mata Nacional da Margaraça que arderam nos fogos de outubro de 2017, em Arganil, já recuperaram e a Câmara Municipal congratula-se e considera esta área protegida um exemplo vivo da resiliência da floresta nativa, avança a Lusa.
Um ano após o incêndio, a Mata Nacional da Margaraça, classificada como Reserva Biogenética do Conselho da Europa, “apresenta sinais evidentes de resiliência”, disse à agência Lusa o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), numa resposta enviada por escrito.
Segundo esta entidade, dos cerca de 62 hectares da mata inserida em plena Área Protegida da Serra do Açor, “aproximadamente 70% da área teve recuperação dos carvalhos, castanheiros e de algumas espécies arbustivas, embora estas tenham sido as mais fustigadas”.
O fogo também não gerou grandes alterações ao nível da fauna existente naquela zona, continuando a observar-se “pica-paus, gaios, águias de asa redonda, corsos, javalis e esquilos”, bem como “salamandras, rãs, sapos e lagartos de água”, entre outras espécies, refere o ICNF.
Neste momento, esclareceu a entidade, o trabalho “incide no controlo da regeneração de espécies exóticas invasoras e na preparação do terreno para plantação de espécies autóctones, provenientes de sementes” da própria mata, como de carvalhos, castanheiros, azereiros, azevinhos e medronheiros, entre outros. De acordo com o ICNF, prevê-se que sejam plantadas 18 mil “plantas autóctones entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019, procurando-se deste modo recuperar os habitats mais importantes”.
Para o presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa, a Mata Nacional da Margaraça “tem sido quase uma experiência laboratorial”, que permite demonstrar “que, com este tipo de floresta, é possível estar-se mais seguro e, por outro lado, acautelar a regeneração do espaço florestal”.
Segundo o autarca, o comportamento do fogo na mata foi “muito diferente do resto do território”, com a floresta nativa a obrigar o incêndio a passar rasteiro “e muito menos violento”, enquanto em pinhal e eucaliptal as chamas andaram a grande velocidade “e pelas copas”.
Um ano depois, o cenário que encontra na Mata da Margaraça “é muito diferente do restante território”, onde se assiste a “uma regeneração natural e selvagem do eucalipto”, que está a ter um comportamento “de planta invasora, aparecendo em locais onde nunca existiu”.
De momento, a Câmara de Arganil, está a finalizar um plano de reflorestação que vai abranger cinco mil hectares do concelho (mais de 20% da área florestal), que deverá ser apresentado em breve.
O Ministério do Ambiente também informou à agência Lusa que o projeto-piloto para a remuneração de serviços de ecossistemas na Serra do Açor e no Parque Natural do Tejo devem arrancar ainda em 2019, estando já uma verba prevista para essa intervenção na proposta de Orçamento do Estado.
Na Serra do Açor, o instrumento prevê um alargamento da área de espécies nativas na Área de Paisagem Protegida, com o objetivo de reconverter áreas de eucaliptal, pinhal ou dominadas por espécies exóticas invasoras “para ocupações dominadas por folhosas autóctones, dando maior expressão territorial aos valores existentes na Mata da Margaraça”, referiu à agência Lusa o Ministério do Ambiente, em resposta por escrito.