Todos os centros eletroprodutores de Portugal Continental produziram, em 2022, um total de 44.253 GWh de eletricidade, proveniente em 56,9 % de fonte renovável. Este total foi maioritariamente suportado pela tecnologia eólica, que representou 29,3 %, seguido da tecnologia hídrica com 14 %, a biomassa com 7,5 % e o solar fotovoltaico com 5,7 %.
Os dados, divulgados pela APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e pela Associação ZERO, mostram que a produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis apresentou um “aumento de 4,1% face ao total de eletricidade do ano 2021”, devido aos “períodos de seca extrema que existiram durante o ano, com a produção hídrica a registar um decréscimo de 11 % face a 2021”. Verificou-se ainda um “significativo incremento na produção elétrica através do solar fotovoltaico”, resultante da “entrada em operação de novas centrais acrescentando, até ao fim de novembro, 784 MW à capacidade instalada nacional”, lê-se no comunicado, divulgado por ambas as associações.
Neste balanço de ano, as importações de eletricidade merecem, igualmente, um destaque pois, comparativamente a 2021, registou-se um “aumento do saldo importador de 4 715 GWh para 9 258 GWh”. Este valor deve-se à “acentuada seca, que reduziu a produção hídrica em 5 254 GWh face a 2021”, correspondente a uma “redução de 45 %, e do aumento do consumo face a 2021”, tornando a “importação de eletricidade mais competitiva em termos de ofertas no mercado ibérico”, apontam as Associações.
Apesar da seca extrema, o ano fechou com um “mês de elevada produtibilidade renovável”, o que assegurou “78% da geração de eletricidade, o valor mensal mais alto registado, que levou a um total de 328 horas não consecutivas de geração 100 % renovável, quando até dezembro apenas tinham sido registadas 126 horas”. Este facto resultou de uma “acentuada produtibilidade hidroelétrica e eólica”, demonstrando-se assim a “elevada resiliência do sistema elétrico nacional face a grandes níveis de integração renovável”, lê-se no mesmo comunicado.
Qual o impacte nas emissões de carbono?
Se por um lado se verificou uma “redução de quase 700 mil toneladas de dióxido de carbono associadas à inexistência do uso de carvão em 2022”, por outro verificou-se uma “menor fração de renováveis principalmente devido à menor contribuição hídrica da ordem dos 45,2% entre 2021 e 2022 e o aumento do uso da produção nas centrais térmicas de ciclo combinado a gás natural”, conduzindo a uma estabilização das emissões. A quase duplicação do saldo importador, em parte de produção não renovável e com emissões, impediu um maior impacte no valor das emissões à escala nacional, referem as Associações.
No total das emissões, englobando também a produção de eletricidade associada à cogeração e queima de resíduos urbanos, estima-se um “decréscimo de 8,3 para 6,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono”, uma “redução na ordem dos 25%, um recorde muito significativo”, sendo agora inequivocamente “o transporte rodoviário o principal responsável por emissões de dióxido de carbono em Portugal”.
Estes importantes marcos do setor renovável resultaram em inúmeros benefícios para a sociedade, economia e ambiente, dos quais se destacam:
- 8,0 Mt de emissões de CO2 evitadas;
- Uma poupança em importações de combustíveis fósseis de 4 531 M€;
- Uma poupança em importações de eletricidade de 1 053 M€;
- Uma poupança em licenças de emissão de CO2 de 557 M€[3], reflexo do preço médio anual das licenças de 80,9 €/tCO2.
Perspetivando o ano 2023, Pedro Amaral Jorge, presidente da Direção da APREN, não tem dúvidas de que “a eletricidade produzida a partir de energias renováveis, que permitirá a produção de hidrogénio verde e os combustíveis sintéticos renováveis, irá continuar a ser central no caminho rumo à independência energética europeia e na anulação da subida abruta dos preços da eletricidade”. Para tal, “será necessário continuar a incrementar a adoção de potência renovável, ultrapassando os obstáculos associados ao licenciamento dos projetos e à rede elétrica de serviço público (RESP), mantendo um ambiente regulatório estável”, defende o responsável, lembrando que, “nos últimos 20 anos Portugal instalou entre 10 e 12 GW de potência elétrica renovável. Agora é preciso instalar, no mínimo, quase o dobro para chegar aos 35 GW até 2030, sendo necessário passar das palavras à ação”.
Por seu turno, Francisco Ferreira, presidente da Associação ZERO, considera que, “2022 foi um ano extremamente desafiante pela redução da produção hidroelétrica devido à seca e pelos elevados preços do gás natural no contexto da guerra na Ucrânia, mas já com sinais positivos do aumento do peso do solar”. Para o responsável, é assim determinante que, “de forma tão acelerada e sustentável quanto possível, se torne o nosso sistema elétrico mais verde e resiliente, investindo-se na redução dos consumos de energia, assegurando maior eficiência e em fontes de energia renováveis implementadas de forma sustentável, assegurando novos e mais empregos e uma efetiva descarbonização”.