Vila Real volta a ser notícia como destino da biodiversidade. O registo fotográfico de um indivíduo adulto da espécie Thecla betulae (Linneaus, 1758), de nome vulgar castanhinha-das-bétulas, foi captado no Vale da Campeã (Vila Real) e é da autoria de José Agostinho. Tanto quanto foi possível apurar, trata-se das primeiras fotos de elevada qualidade obtidas em Portugal com recurso a uma reflex e lente macro. José Agostinho é um fotógrafo amador que se tem dedicado a registar imagens de natureza. O seu interesse por este tema nasceu sobretudo pela participação nas actividades promovidas pela Câmara Municipal de Vila Real no âmbito do Programa da Biodiversidade, programa co-financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte (ON2). Para o Vereador do Ambiente do Município, Adriano Sousa, esta é uma excelente notícia, que reflecte os resultados da aposta feita no estudo e divulgação dos valores ambientais existentes no concelho e o potencial que estas acções têm no desenvolvimento não só cultural como técnico junto dos seus munícipes. Salientou ainda que “Vila Real acaba por ter esse registo único pelo facto de ter preparado os seus cidadãos, através dos workshops e de outras iniciativas de sensibilização, para conhecer e compreender melhor a fauna e flora. Este facto, por si só, revela que os nossos cidadãos estão a saber valorizar a biodiversidade e estão atentos para a sua preservação e divulgação, estando melhor preparados por força da acção do Programa da Biodiversidade.” A espécie T. betulae é uma pequena e rara borboleta que pode ser observada em Vila Real. O adulto pode ser observado entre Agosto e Setembro em áreas onde abundem abrunheiros (Prunus spinosa L.) e sebes, normalmente entre os 600 e 800 metros de altitude (Maravalhas, 2003). Esta espécie tem um comportamento muito particular, passando o adulto grande parte do tempo nas copas das árvores, sendo raramente observado junto ao solo. Devido a esta peculiaridade o número de adultos fotografados são muito escassos ou inexistentes, o que torna este registo uma preciosa e única prova da sua beleza. Nas copas, o adulto alimenta-se de melada e nos dias mais solarengos aproveita para descansar com as asas abertas. Pontualmente desce para obter fontes de néctar e nesta altura pode ser observado com maior detalhe. Os ovos são pequenos, esbranquiçados e em forma de ouriço-do-mar. Normalmente são postos isoladamente na bifurcação de um abrunheiro jovem. A lagarta é verde com listas amarelas, o que lhe confere uma excelente camuflagem, evitando assim muitas vezes os predadores. A pupa é castanha e abriga-se na vegetação rasteira junto ao solo. Acredita-se que os micromamíferos insectívoros são os principais predadores nesta fase do seu ciclo de vida. Segundo Paula Seixas, coordenadora da equipa científica da UTAD que tem vindo a trabalhar com o Município no Programa da Biodiversidade e responsável igualmente pelas investigações desenvolvidas com a borboleta-azul-das-turfeiras (uma das espécies emblemáticas do Programa), o registo fotográfico agora divulgado é um importante contributo para o conhecimento da distribuição da espécie Thecla betulae em Portugal. “Esse registo comprova a presença desta espécie em Vila Real, algo até agora desconhecido. Esta espécie tem um comportamento atlântico, estando presente nos países do norte e centro da Europa, onde as suas populações têm sido alvo de medidas de protecção. Na Península Ibérica a sua distribuição encontra-se confinada fundamentalmente a norte, com populações em Portugal registadas na Serra da Malcata, Lousã e Montesinho. A abundância populacional tem vindo a decrescer de forma mais ou menos vertiginosa, o que a torna uma espécie alvo de medidas prioritárias para a sua conservação.”
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