Em fevereiro de 2000, Paul J. Crutzen, vencedor do Prémio Nobel da Química 1995, e o biólogo Eugene Stoermer, declararam que vivemos desde 1784, ano em que James Watt patenteou a locomotiva a vapor, na época geológica do Antropoceno. Ao conter o prefixo anthropos, que significa “ser humano”, o termo define um período marcado pela ação humana com efeito profundo sobre o meio ambiente. A nossa capacidade para salvar o mundo equipara-se ao poder que temos para o destruir. A escolha do tema para o Boom Festival 2020 é, deste modo, um convite à reflexão e ação sobre o mundo em que vivemos, ao impacto que temos sobre ele e como podemos mudar os hábitos que o estão a ameaçar, revela a organização, em comunicado. “O Antropoceno” é o tema da 13ª edição que, na lua cheia de 28 de julho a 4 de agosto do próximo ano, tomará conta da Boomland, na margem direita da Barragem de Idanha, em Idanha-a-Nova.
A organização do evento que, de dois em dois anos, recebe no Interior do país participantes de cerca de 150 nacionalidades, encoraja: “Mais de duas décadas após a fundação do Boom Festival, séculos após a invenção da máquina a vapor, em plena ebulição de um planeta maravilhosos e inconstante, onde as possibilidade luminosas se entrecruzam com previsões fatalistas, chamamos o ativista em ti, o ser imaginador, apelamos à natureza construtiva do ser humano para um impacto regenerativo, para a vivência num bom Antropoceno”.
O poder que está em cada ser humano
A Terra existe há cerca de 4,5 mil milhões de anos, mas este é um momento histórico e decisivo. Afinal, nunca fomos tão numerosos, ao ponto de determos o poder de despojar o planeta ao ponto de o tornar num mundo estéril para as gerações futuras. Há 50 anos, a população era de 3.500 milhões. Hoje, somos 7.600 milhões. As previsões apontam para que sejamos 9.800 milhões em 2050. Como poderão os recursos atuais alimentar tantas pessoas se continuarmos a consumir energia, água, carne e peixe como atualmente? Como se, para produzirmos apenas um quilo de cereais, precisamos de uma a três toneladas de água?
Paradoxalmente, nunca como antes o conhecimento e as tecnologias ao acesso do ser humano foram tão poderosos para ajudar a reverter a situação. Há sinais que indiciam vontade em mudar o paradigma: cresce o movimento biológico, cada vez mais empresas lançam motes como “performance with a purpose”, proliferam as forças pró-ambiente, aumenta a evidência científica sobre os benefícios do contacto dos seres humanos com a natureza, espécies em risco de extinção são salvas, e o buraco do ozono decresce aparentemente como consequência da proibição do uso de substâncias químicas nocivas.
“O Boom não é um festival escapista nem pode ser um local onde o hedonismo se sobrepõe à consciência, a passividade ganha sobre o pensamento crítico, a profundidade do sentir sucumbe aos desafios de um mundo em mudança quando deixamos o festival e regressamos a nossas casas”, afirma a organização, que acrescenta ainda: “Ser um visionário hoje – no Antropoceno – é sentir com o coração o que está à nossa volta. É mudar hábitos. É fazer algo. É imaginar ação constante, militante, individual e coletiva, nas pequenas escolhas e nas grandes causas”.
Distinguido em 2008, 2010, 2012, 2014, 2016 e 2018 com o “Outstanding Greener Festival Award”, o prémio mundial mais importante de eventos sustentáveis atribuído por “A Greener Festival”, o Boom é, desde 2010, a convite da UNEP – United Nations Environment Programme, organismo pertencente à ONU, membro da iniciativa “United Nations Music & Environment Stakeholder”.
De regresso em 2020 aos 150 hectares da Boomland, o Boom Festival é um evento bienal de cultura independente e sustentável que, desde 1997, se realiza durante lua cheia de julho ou agosto, sendo uma referência internacional.