O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, questionou na semana passada as estimativas oficiais que revelaram “um aumento de 88% da desflorestação na Amazónia, face ao mesmo período de 2018, criticando os países que querem interferir na política ambiental brasileira”, noticiou a Lusa.
“Não acredito que os dados que saíram no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sejam verdadeiros. Eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão”, afirmou o chefe de Estado durante uma reunião com a imprensa estrangeira em Brasília, chegando a insinuar que o presidente daquele instituto poderia estar “ao serviço de alguma ONG” (organização não-governamental).
O Inpe é uma instituição pública federal, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. “Em primeiro lugar, a Amazónia é do Brasil, e quem tem de saber dela somos nós, e não vocês”, acrescentou o presidente, dirigindo-se a jornalistas estrangeiros que o questionaram sobre a sua política ambiental.
A instituição anunciou no início do mês que “o desmatamento na Amazónia Legal brasileira atingiu 920,4 quilómetros quadrados em junho, um aumento de 88% em comparação com o período homólogo do ano passado”. Dados divulgados pelo Inpe ainda esta semana mostram que “o desmatamento na Amazónia disparou na primeira metade de julho e superou toda a taxa registada no mesmo mês no ano passado”.
A Amazónia Legal corresponde à área delimitada na Amazónia brasileira em que são permitidas algumas atividades de exploração humana. Confrontado com os números, o chefe de Estado brasileiro declarou que existe uma “psicose ambiental” no país sul-americano.
“Se formos somar o desmatamento que dizem que existiu nos últimos 10 anos, a Amazónia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo. (…) Somos o país que mais preserva”, declarou Bolsonaro. O mandatário acusou ainda os últimos presidentes, referindo diretamente Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, de “fracos”, “antipatriotas” e “corruptos”. “Vocês de fora estão com saudades dos Governos corruptos e descomprometidos com o Brasil. É isso que vocês querem aqui. Se fosse outro presidente, depois de Osaka, já teria mais 50 reservas indígenas demarcadas de forma subserviente. Isso mudou, têm que entender que isso mudou”, acrescentou o governante, referindo-se à cimeira do G20 que se realizou no Japão, no mês passado.
Antes de embarcar para o fórum do G20, que ocorreu no final de junho, no Japão, a política ambiental adotada pelo Governo liderado por Bolsonaro no Brasil foi criticada publicamente por líderes da Alemanha e da França. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse no parlamento alemão que falaria com o chefe de Estado brasileiro sobre o aumento da deflorestação da Amazónia. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, colocou em causa a assinatura de um acordo económico entre o Mercosul (bloco fundado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia (UE).
Na reunião com jornalistas, em que a agência Lusa esteve presente, Jair Bolsonaro foi ainda questionado sobre a pobreza e o aumento da desigualdade no país. Bolsonaro foi firme ao responder que no Brasil “não se passa fome.Não vemos pessoas esqueléticas nas ruas, como se vê em outros países do mundo, e dizer que se passa fome no Brasil é um discurso populista. É uma grande mentira. Passa-se mal, não se come bem, aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, defendeu. Dados do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), citados pela imprensa brasileira, apontam que em 2017 5,2 milhões de pessoas passavam fome no Brasil.