Blocos operatórios portugueses produzem mais de 200 toneladas de resíduos de PVC por ano
Um estudo levado a cabo no âmbito de uma tese de mestrado realizada na Faculdade de Medicina da Beira Interior estima que o lixo plástico de PVC produzido nos blocos operatórios em Portugal terá sido, em 2023, de mais de 200 toneladas. Estes resíduos estão a ser neste momento enviados para aterros sanitários, devido a uma legislação obsoleta, com mais de 24 anos.
As alterações e a degradação ambiental têm um impacto significativo na saúde pública, sendo responsáveis pela mortalidade de uma em cada quatro pessoas, a nível global. Parte desta mortalidade deve-se à exposição a poluentes, que causam ou agravam sobretudo doenças cardiovasculares e respiratórias, mas também afetam muitos outros órgãos ou sistemas.
Os cuidados de saúde em Portugal são responsáveis por cerca de 5% das emissões de gases com efeito de estufa do país, valor superior à média europeia, mas, para além deste impacto, são também responsáveis pela emissão de outros poluentes.
O estudo agora realizado incidiu num tipo particular de plástico: o PVC (policloreto de vinilo), amplamente utilizado em diversos dispositivos médicos e outros produtos usados em cuidados de saúde devido à sua versatilidade, durabilidade e custo acessível.
Apesar das vantagens do PVC, há uma crescente preocupação com os seus impactos ambientais e na saúde, especialmente devido aos aditivos que contém, tais como os ftalatos e outros. Como resultado, há um esforço para reduzir a utilização de PVC e encontrar alternativas mais seguras e sustentáveis e para fazer a reciclagem daquele que é utilizado, de forma a reduzir a poluição ambiental.
Segundo a base de dados “Our World in Data”, são atualmente produzidos mais de 450 milhões de toneladas de plástico por ano, 225 vezes mais do que em 1950, e o problema continua a agravar-se. Os plásticos representam cerca de 12% dos resíduos a nível global e demoram centenas a milhares de anos a decompor-se na natureza. Apenas 9% deste plástico é reciclado.
Os plásticos lançados no ambiente vão-se desagregando em micro e nanoplásticos e acumulando-se nos oceanos. Atualmente cerca de 75% do peixe que comemos contém microplásticos.
Os efeitos deletérios dos plásticos na saúde humana são conhecidos: toxicidade direta das partículas, aumento do stress oxidativo, da inflamação, da translocação genética e da incidência de cancro. Já este ano, um estudo realizado em doentes submetidos a endarterectomia das carótidas demonstrou que mais de 58% dos doentes com esta doença têm nanoplásticos nas placas de ateroma e que esta presença multiplica por 2,5 o risco de enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte súbita, até três anos após a operação.
Em Portugal persiste uma legislação sobre resíduos hospitalares, de 1996, que considera como contaminados materiais estéreis, o que impede a sua reciclagem e sobrecarrega os aterros, que já só têm 10% da sua capacidade disponível. O problema é agravado por um desconhecimento do tipo e quantidade de plásticos utilizados pelo setor da saúde e os seus resíduos.
A regulamentação europeia estabelece que, em 2030, a produção de certas categorias de plásticos deve utilizar como matéria-prima 30% de plástico reciclado.
Desta forma, o CPSA (Conselho Português para a Saúde e Ambiente) considera urgente que o setor da saúde reduza a utilização de plástico e incremente a sua reciclagem; que haja maior transparência na informação sobre a constituição de todos os dispositivos utilizados em saúde, possibilitando que sejam utilizados produtos mais seguros em termos ambientais; e pede uma rápida revisão da legislação portuguesa sobre a gestão de resíduos hospitalares.