A bióloga marinha Olive Andrews alerta para o impacto negativo da exploração de petróleo e gás ao largo de Timor-Leste e sugere alterações sazonais, de forma a mitigar os efeitos nas atividades migratórias de cetáceos que atravessam aquela zona.
“A exploração pode causar perturbações no habitat, particularmente através do ruído causado pelos barcos e pelas plataformas necessárias para a extração”, disse Olive Andrews, responsável do programa marinho da organização não-governamental Conservation International (CI), em entrevista à agência Lusa a partir de Auckland, Nova Zelândia.
“Há certamente uma sobreposição da distribuição de animais marinhos ameaçados e as plataformas de extração de petróleo e gás, e este é um assunto que o Governo de Timor-Leste e a CI estão particularmente interessados em analisar”, acrescentou.
A bióloga acredita que a solução para minimizar os efeitos da exploração passa por alterações sazonais nas atividades de extração numa região com “alta densidade de cetáceos”. Questionada sobre que medidas podem ser tomadas para reduzir o impacto, Olive Andrews sugeriu “alterações sazonais da atividade das plataformas de exploração de petróleo e gás, para permitir o movimento destes animais”.
Para a bióloga, o ruído subaquático causado pela circulação de navios é o principal problema que os cetáceos enfrentam em Timor-Leste, e considera que a situação pode piorar com a exploração petrolífera.
“O ruído subaquático é um dos principais problemas que as baleias enfrentam. Não me refiro à exploração de recursos naturais, mas ao transporte marítimo internacional, que atravessam os estreitos vizinhos. A certa altura pode haver dez grandes cargueiros ancorados em Díli. E mesmo só com os geradores ligados, sem estarem em movimento, há uma grande quantidade de ruído produzido por essas embarcações”, expôs Andrews, que lembrou uma situação vivida durante o estudo em Timor-Leste.
“Durante o nosso estudo, estivemos perto de um grupo de 500 baleias-piloto e eu pus o hidrofone — um microfone subaquático — debaixo de água para gravar o som, e não consegui ouvir baleias. O som das baleias estava a ser mascarado pelo barulho dos navios na zona”, explicou. Para a bióloga, esta situação representa um problema para os cetáceos, que utilizam sinais sonoros para comunicar, navegar e encontrar comida.
Em 2016, a CI conduziu um estudo de cinco dias a norte de Timor-Leste que permitiu identificar 11 espécies de cetáceos e mais de 2.200 exemplares. “Muitos dos grupos que vimos continham várias espécies, com alguns a ter mais de 500 baleias”, apontou Andrews, que acredita que a observação de cetáceos pode ser algo “bastante positivo” para Timor-Leste, uma vez que é algo “único” e que acontece em poucas regiões.
Olive Andrews acredita que Timor-Leste tem a oportunidade de observar baleias e golfinhos muito perto de zonas costeiras e saudou os esforços do Governo timorense para a valorização da diversidade marinha ao largo do arquipélago e para a criação de uma “indústria de ecoturismo marinho sustentável”.
“Timor-Leste tem procurado ativamente desenvolvimentos económicos sustentáveis com base na conservação e gestão dos seus recursos naturais”, disse a bióloga, que lembrou que a CI tem colaborado com o Governo e com as comunidades de Timor-Leste desde 2010.
De forma a garantir uma promoção sustentável do ecoturismo, a CI já organizou várias iniciativas no arquipélago, incluindo um ‘workshop’ de treino dirigido para operadores turísticos locais com o objetivo de maximizar o valor educacional da observação de cetáceos, e também para transmitir informações sobre como interagir com os animais sem os perturbar.