Metade do planeta deve ser conservado como “Natureza pura”, uma apólice de seguro contra os impactos humanos no planeta, defende o biogeógrafo Miguel Araújo, que estuda o mapa da vida na Terra, conta a Lusa.
“É viável e realista, com vontade política. Dezassete por cento do planeta está classificado como área protegida, em Portugal, 30% do território tem alguma figura de conservação”, disse o investigador da Universidade de Évora à agência Lusa à margem do congresso da Federação Europeia de Ecologia, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
O investigador afirma que esse esforço de “preservar uma área grande do planeta livre de atividades humanas” tem outra face: “Temos que aumentar os níveis de sustentabilidade das nossas atividades, como a pesca ou a agricultura e ter cidades mais sustentáveis, mas temos falhado nesses objetivos e estamos numa situação de emergência”, disse.
Caso os esforços de sustentabilidade continuem a falhar, haverá ao menos “parte do planeta para nos ajudar se precisarmos de recursos”, referiu. Esses refúgios de “natureza pura” serviriam como “zona tampão” onde se manteria algum equilíbrio ecológico, mas ao mesmo tempo criariam mais pressão para “produzir mais comida com menor área e menos impacto”.
“Nós somos os jardineiros do planeta. Alteramos tudo o que tocamos e mesmo o que não tocamos. Afetamos a dinâmica do planeta. Há menos espécies e uma maior homogeneização quando transportamos espécies de um continente para o outro, o que é uma coisa nova, nunca tinha ocorrido nesta dimensão”, indicou o vencedor do prémio Pessoa 2018 e do prémio Ernst Haeckel deste ano, atribuído pela Federação Europeia de Ecologia.
Esta “redistribuição e simplificação da Vida” é uma “grande responsabilidade” para a espécie humana. Ao estudar a distribuição da biodiversidade pelas zonas geográficas do mundo e a sua evolução, está-se a aprender “para não fazer disparates”.
Alterações na fauna e na flora em “ecossistemas tão sensíveis” trazem também consequências para a atividade humana, principalmente o setor primário – agricultura, pescas, florestas – e obrigam a pensar em “doenças emergentes e extinções em cascata”.
O clima é outro fator determinante a afetar a biodiversidade e o que se sabe é menos do que se ignora, afirma o cientista. “Temos um impacto muito grande mas não entendemos todas as consequências desses impactos. Temos que fazer o melhor que pudermos”, recomendou.