A Fundação Oceano Azul e a Fundação Calouste Gulbenkian são as copromotoras do Blue Bio Value, um programa de aceleração de empresas ligadas à bioeconomia azul que já vai na sua segunda edição.
Neste segundo ano, foram apresentadas 110 candidaturas, tendo sido selecionadas 15 startups provenientes de nove países (Portugal, Espanha, Dinamarca, Suíça, Itália, Canadá, Brasil, Reino Unido e Índia). Às startups que participaram no Blue Bio Value, foram atribuídas ajudas de custo até 7.500€. Adicionalmente a este apoio financeiro, as startups vencedoras recebem um prémio de 45 mil euros para o desenvolvimento dos seus projetos. Este ano, o valor vai ser distribuído pela Ficosterra (Espanha), pela Ufraction8 (Reino Unido) e pela Biosolvit (Brasil). O Blue Bio Value é também desenvolvido em parceria com a Fábrica de Startups, a Bluebio Alliance e a Faber Ventures.
A Ambiente Magazine esteve à conversa com os responsáveis de ambas as fundações que falaram sobre a génese deste “acelerador” de startups. O papel destas instituições passa assim por “financiar” o programa e “criar toda a estrutura para que (este) se desenvolva”, começa por explicar Miguel Herédia, responsável pelo programa Blue Bio Value na Fundação Oceano Azul. Para o entrevistado, o modelo económico que “hoje assenta nas sociedades está dependente da degradação do ambiente e da utilização de recursos naturais”, pelo que é imperativo mudar. É com esta visão que o Blue Bio Value vai encontrar um potencial (a bioeconomia) para essa “transformação”. Trata-se de uma “economia que aprende com a natureza, que replica em laboratório o princípio ativo de que necessita para a matéria-prima” e, a partir daí, “produz infinitamente sem ter que retirar nada à natureza”, refere o responsável, sublinhando que a este modelo dá-se o nome de “economia sustentável”. No entanto, Miguel Herédia sublinha que ao longo deste processo de desenvolvimento se depararam com algumas limitações como, por exemplo, o número reduzido de empresas, destacando que aquelas que existem são criadas apenas por cientistas, biólogos, químicos ou investigadores que carecem de “competências de gestão” para conseguirem escalar o negócio. Também o facto de haver “muito pouco investimento a ser canalizado” para este tipo de empresas é uma barreira, atenta. O programa surge assim para “acelerar o processo de criação de novas empresas” e, sobretudo, “dar-lhes competências que lhes faltam para gerir o negócio”, permitindo-lhes continuar a investigação ao longo do tempo.
A importância deste programa serve também para Filipa Saldanha, da Fundação Calouste Gulbenkian, destacar que “vem validar e ajudar a cumprir a nossa missão de apoiar modelos de negócio alternativos à economia linear”, referindo-se à bioeconomia azul. Para a Fundação, trata-se de um modelo de negócio que “pode ajudar a impulsionar o crescimento sustentável em várias indústrias, países e cadeias de valor”, não sendo apenas importante para a “sustentabilidade do oceano e economia do mar” mas também para a “sustentabilidade da economia no geral a nível global.
Ambas as edições deixaram uma mensagem altamente positiva. Filipa Saldanha realça, desde logo, a “variedade de soluções que foram apresentadas” e que podem contribuir no “combate às alterações climáticas, à poluição ou à escassez de bens e alimentos”. Relativamente aos problemas ambientais e societais com que hoje a sociedade se depara, a responsável não tem dúvidas de que advêm dos “padrões de produção e consumo que são altamente insustentáveis”. Através deste programa, “tiramos da gaveta uma série de ideias” que podem ser “transformadas em oportunidades de negócios reais”, acrescenta.
Já Miguel Herédia destaca que, nesta segunda edição, as expectativas foram ultrapassadas. “Conseguimos mais empresas com um ‘feet’ maior na biotecnologia e na bioeconomia”, afirma, ressaltando que, no geral, a “qualidade e o desenvolvimento das empresas ficou ligeiramente acima” em relação à primeira edição.
A elevada biodiversidade marinha foi o fator preponderante para que Portugal fosse o país de “origem” do Blue Bio Value. “Somos ricos em bio recursos”, destaca Filipa Saldanha, explicando que o programa se insere nessa riqueza, ou seja, aproveita os bio recursos e transforma-os em oportunidade de valor acrescentado em diferentes indústrias (cosmética, farmacêutica, agroalimentar)”. Por outro lado, o país tem também a “terceira maior zona económica exclusiva da União Europeia”, somando ainda o vasto “conhecimento acumulado nesta área”. Quanto ao facto de terem aberto o programa a várias nacionalidades, a responsável nota que “as respostas que procuramos para os problemas (alterações climáticas, instabilidade nos sistema alimentar, poluição) ou para os desafios societais são globais”. Além disso, “acreditamos que as nossas startups têm muito a aprender com as internacionais e vice-versa”, havendo aqui uma “transferência de conhecimento enorme que ultrapassa fronteiras”. Uma outra “mais-valia” é a exportação: “Ao atrairmos startups internacionais para se incubar em Portugal, estamos a exportar e a enriquecer o país”, acrescenta.
Para o futuro, Miguel Herédia deixa bem presente a vontade de “continuar a levar o programa a outros países e a outras empresas que ainda não o conhecem”, assim como reforçar a “ideação” nas universidades, “procurando projetos existentes e que tenham potencial de mercado para serem acelerados”. Neste ponto, o responsável afirma que, no próximo ano, o programa vai formar parcerias e marcar presença em quatro universidades portuguesas (Porto, Lisboa, Aveiro e São Miguel), de forma a “encontrarem ideias novas e que possam ser transformadas em negócio”.
Por seu turno, Filipa Saldanha deixa vários desejos, começando por traçar uma meta para a terceira edição: existir um “bom ecossistema de startups tecnológicas” onde “possamos relatar casos de sucesso na área da bioeconomia azul. Outros desejos centram-se em obter “respostas concretas” aos problemas ambientais gravíssimos que estão na ordem do dia, conseguindo assim que “Portugal, em cinco a 10 anos, seja reconhecido internacionalmente com um pólo de excelência na biotecnologia marinha”, declara.
Sabia que…
A primeira edição (em 2018) do programa Blue Bio Value acelerou 13 empresas de seis nacionalidades e contou com o envolvimento de mais de 40 mentores. Dos projetos participantes, foram premiadas três empresas: uma holandesa (HOEKMINE) e duas portuguesas (SEAentia e Undersee).
Nesta segunda edição (2019), o programa acelerou 15 startups provenientes de nove países (Portugal, Espanha, Dinamarca, Suíça, Itália, Canadá, Brasil, Reino Unido e Índia). Portugal foi o país mais representado, contando com cinco empresas.
Fique a conhecer as startups portuguesas …
— A BLUMAN concentra-se em biopolímeros e aplicações biomédicas desenvolvidas a partir de origens de base biológica marinha para fornecer soluções para instituições de P&D que trabalham em biomedicina, farmácia, biotecnologia e cosméticos.
— A BODYOCEAN desenvolve produtos para o cuidado da pele de forma sustentável provenientes de algas marinhas portuguesas selvagens, colhidas nos Açores, complementadas com um alto índice de ingredientes biológicos.
— A INCLITA SEAWEED SOLUTIONS é uma startup de biotecnologia marinha em estágio inicial, dedicada ao desenvolvimento sustentável, produção, valorização e comercialização de extratos funcionais de algas marinhas, adaptados às necessidades de seus clientes nas indústrias de alimentos e bebidas, nutracêuticos, pet care e cosméticos.
— A SEA4US é uma empresa biofarmacêutica focada na descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos farmacêuticos baseados em novos compostos marinhos para necessidades clínicas não atendidas.
— A VIEAQUA é uma startup de aquicultura que desenvolve o primeiro período de incubação de vieiras e fazenda offshore em Portugal.