BEI: 2/3 dos portugueses consideram que adaptação às alterações climáticas é prioridade nacional

De acordo com o inquérito anual sobre o clima encomendado pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), mais de três quartos dos portugueses reconhecem a necessidade de mudar e adaptar o seu estilo de vida aos efeitos das alterações climáticas. Embora os inquiridos tenham classificado as alterações climáticas como a quinta prioridade que o seu país tem pela frente, uma grande maioria acredita que investir na adaptação agora evitará custos mais elevados no futuro.

À medida que a frequência e a gravidade das catástrofes naturais se intensificam, o custo económico das alterações climáticas aumenta. Os cientistas alertam para o facto de estas catástrofes se tornarem cada vez mais onerosas. De acordo com um relatório da Agência Europeia do Ambiente, a Europa é, atualmente, o continente que regista o aquecimento mais rápido e prevê-se que os fenómenos meteorológicos extremos se intensifiquem à medida que as temperaturas mundiais aumentam. Esta escalada coloca desafios significativos em matéria de infraestruturas e ameaça a estabilidade do abastecimento mundial de água e alimentos, o que evidencia a necessidade urgente de estratégias globais de adaptação às alterações climáticas.

“As pessoas sabem que temos de agir agora para nos adaptarmos e atenuarmos os efeitos das alterações climáticas, mas uma transição bem planeada é também a que faz mais sentido do ponto de vista económico. Cada euro investido na prevenção e na resiliência permite poupar entre cinco e sete euros na reparação dos danos”, afirmou a presidente do BEI, Nadia Calviño.

O BEI publicou hoje a sétima edição do seu inquérito anual sobre o clima, que recolheu as opiniões de mais de 24 000 inquiridos na UE e nos EUA sobre as alterações climáticas. O inquérito foi realizado em agosto de 2024 e, em Portugal, contou com a participação de 1009 pessoas.

Uma prioridade nacional

Os inquiridos portugueses colocam as alterações climáticas entre os cinco maiores desafios que o país enfrenta, a par da instabilidade política e a seguir ao aumento do custo de vida, ao acesso aos cuidados de saúde, à migração em grande escala e ao desemprego.

Embora não as considerem o maior desafio quando lhes é dada a possibilidade de as classificarem, uma grande maioria dos portugueses reconhece a necessidade de adaptação às alterações climáticas e considera-a mesmo uma prioridade: 99 % dos inquiridos reconhecem a necessidade de adaptação às alterações climáticas (em comparação com a média da UE de 94 %). Mais especificamente, dois terços (66 %, 16 pontos acima da média da UE de 50 %) consideram que essa adaptação é uma prioridade em Portugal nos próximos anos e 33 % consideram-na importante.

A adaptação às alterações climáticas é também encarada como uma oportunidade económica e um investimento a longo prazo para o país:

  • 95 % dos inquiridos afirmam que o investimento na adaptação às alterações climáticas pode ajudar a criar emprego e a estimular a economia local (em comparação com 86 % na UE).
  • 95 % consideram que essa adaptação exige investimentos no presente para evitar custos mais elevados no futuro (em comparação com 85 % na UE).

 

Impacto das alterações climáticas e mudança dos estilos de vida

Embora os inquiridos portugueses reconheçam as oportunidades económicas das medidas de adaptação aos impactos das alterações climáticas, a sua experiência pessoal relativamente a fenómenos meteorológicos extremos aumenta o sentimento de que é urgente agir:

  • 86 % dos portugueses (6 pontos acima da média da UE) foram afetados por, pelo menos, um fenómeno meteorológico extremo nos últimos cinco anos. Mais especificamente, 63 % (8 pontos acima da média da UE) foram atingidos por calor extremo e ondas de calor, 48 % (27 pontos acima da média da UE) enfrentaram incêndios florestais e 43 % (8 pontos acima da média da UE) foram afetados por secas.
  • As consequências dos fenómenos meteorológicos extremos são simultaneamente tangíveis e variadas.
  • 71 % dos inquiridos portugueses mencionaram ter sofrido, pelo menos, uma consequência direta de fenómenos meteorológicos extremos, 28 % tiveram florestas ou espaços naturais destruídos perto das suas habitações (9 pontos acima da média da UE), 24 % sofreram problemas de saúde (como insolação ou problemas respiratórios) e 19 % enfrentaram perturbações dos transportes.

Neste contexto, os portugueses estão cientes da necessidade de se adaptarem:

  • 77 % dos inquiridos (em comparação com 72 % na UE) reconhecem que terão de mudar e adaptar o seu estilo de vida devido às alterações climáticas.
  • 37 % pensam que terão de mudar-se para um local menos vulnerável ao clima, mesmo que seja mesma região (para evitar inundações, incêndios florestais ou outros fenómenos meteorológicos extremos).
  • 30 % afirmam que terão de mudar-se para uma região ou para um país mais fresco.

A adaptação individual às alterações climáticas exige um bom nível de informação. A maioria dos portugueses (77 %, 6 pontos acima da média da UE de 71 %) afirma estar informada sobre as medidas que pode adotar para adaptar eficazmente os seus lares e estilos de vida. No entanto, a maior parte destes (53 %, em comparação com a média da UE de 60 %) continua a desconhecer a existência de subvenções públicas ou incentivos financeiros para apoiar esses esforços.

Prioridades em matéria de medidas de adaptação

Os inquiridos portugueses identificaram as seguintes prioridades essenciais para a adaptação às alterações climáticas a nível local:

  • Educar os cidadãos no sentido de adotarem comportamentos para prevenir e enfrentar fenómenos meteorológicos extremos (52 %, 14 pontos acima da média da UE de 38 %).
  • Arrefecimento das cidades (38 %).
  • Melhoria das infraestruturas (37 %).

Quanto à questão de quem deve pagar a adaptação às alterações climáticas:

  • Metade dos inquiridos (49 %, 14 pontos acima da média da UE) considera que os custos devem ser suportados pelas empresas e indústrias que mais contribuem para as alterações climáticas.
  • Quase um terço (30 %) considera que todos devem pagar o mesmo.
  • 8 % afirmam que as pessoas mais ricas devem suportar os custos através de impostos mais elevados.

Quanto à questão de quem deve beneficiar primeiro da ajuda à adaptação:

  • 38 % consideram que todos devem beneficiar de igual modo.
  • 32 % pensam que deve ser dada prioridade aos idosos.
  • 25% afirmam que os primeiros beneficiários devem ser as pessoas que vivem em zonas de alto risco.

 

A preocupação sobre quem deve beneficiar da ajuda à adaptação vai para além das prioridades locais. A maioria dos portugueses (67 %, 10 pontos acima da média da UE) reconhece a necessidade de apoiar os esforços de adaptação a nível mundial e considera que o seu país deve fazer mais para ajudar os países em desenvolvimento mais vulneráveis a adaptarem-se aos impactos crescentes das alterações climáticas.