Barragens do Douro estão a dizimar dezenas de espécies em vias de extinção
Um estudo da Rede Douro Vivo, projeto liderado pelo GEOTA, Grupo de Ordenamento do Território e Ambiente, em parceria com várias instituições científicas e ambientalistas, concluiu que a qualidade da água e a biodiversidade na bacia hidrográfica do Douro estão seriamente comprometidas dado o elevado número de barragens ao longo do rio.
De acordo com o documento, as mais de 1.200 barreiras identificadas, por potenciarem a deterioração da água e dos habitats ribeirinhos e quebrarem o normal ciclo do rio, estão a pôr em risco a continuidade de dezenas de espécies selvagens, algumas delas em elevado risco de extinção, tais como o mexilhão-de-rio, a lampreia, salmão e a enguia, afetando ainda o habitat de espécies emblemáticas como a águia-real e o lobo-ibérico. Além disso, das 152 barreiras visitadas no Douro, verificou-se que mais de 25% estão total ou parcialmente destruídas ou abandonadas, não tendo qualquer propósito funcional.
“Este estudo – que, na verdade, é composto por diversos estudos que se complementam – pretende ajudar a colmatar a falta de conhecimento que existe no país acerca das barragens e dos seus impactes ambientais, para que no futuro seja possível, não só garantir a integridade natural e ecológica dos rios e das espécies nativas, como também assegurar a viabilidade económica e sustentável de futuros empreendimentos. É notório o enorme impacte que as barragens têm na biodiversidade e o caso de estudo da bacia do Douro é um exemplo alarmante do que as interrupções nos rios podem causar”, explica Ricardo Próspero, representante do GEOTA.
O trabalho focou-se na bacia hidrográfica do Douro com o objetivo de a caracterizar ecológica e funcionalmente, estudando a integridade dos habitats, alguns com espécies ameaçadas, e identificando aqueles que estão ainda em boas condições ecológicas, tanto em Portugal como em Espanha.
Para fazer frente aos problemas encontrados, a Rede Douro Vivo vai propor uma série de medidas ao Estado, para que possa atuar no sentido de minimizar os impactes ambientais criados por estas estruturas e contribuir para a preservação dos ecossistemas e bem-estar das populações: “Vamos sugerir o alargamento do Parque Natural de Montesinho e o estabelecimento de Reservas Naturais Fluviais, com o objetivo de promover a resiliência destes ecossistemas e da biodiversidade. Consideramos também fundamental remover os obstáculos obsoletos ou em incumprimento ambiental, tendo já sido identificada a importância de remover pelo menos 11 barreiras em afluentes do Douro”, avança Ricardo Próspero.
A análise agora divulgada pela Rede Douro Vivo foi desenvolvida pela Associação Natureza Portugal/WWF (ANP/WWF), Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO), Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança (CIMO) e Centro de Investigação de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CITAB).