Guimarães enfrentou diferentes ciclos de desenvolvimento, na transição da indústria das peles para a têxtil, que resultaram em sucessos, fracassos e resiliência. As duas indústrias dependiam da água, a primeira desde o século XIV, a segunda nos séculos XIX e XX. Isto significou uma intensa exploração da água, levando à poluição, à perda de biodiversidade e ao afastamento entre os cidadãos e os seus rios. Várias indústrias estavam localizadas no Bairro C, perto da ribeira de Costa/Couros, e tiveram impacte no seu estado ecológico.
A reabilitação do Distrito C foi um feito notável, feita através da transformação de fábricas em centros de ciência e criatividade: a Universidade das Nações Unidas — E-Gov Operational Unit, o Campus Couros, o Instituto do Design, o Centro de Arte e Arquitetura, o Centro Internacional de Artes José de Guimarães e o Laboratório da Paisagem.
Nos próximos anos, o Bairro C irá incluir as escolas de Engenharia Espacial e Ciência de Dados da UMinho, a fundação Fibrenamics e a Escola Hotel do IPCA.
Este projeto conjunto permitiu o desenvolvimento desta área, tendo a Comissão Nacional da UNESCO registado a extensão da área de Couros como Património Cultural da Humanidade na Lista Indicativa de Portugal.
O Bairro C é um laboratório vivo, um ecossistema colaborativo e uma comunidade de cocriação com processos baseados na Ciência, na Cultura e no Conhecimento e na Comunidade.
No âmbito do Programa Piloto NetZeroCities, Guimarães usará o Bairro C como um tubo de ensaio para uma séria de medidas dirigidas ao compromisso carbono zero.
O piloto consiste numa abordagem integrada às emissões oriundas da energia, da mobilidade, dos resíduos e do uso do solo, levando à mudança de comportamentos, à inovação social e cultural, a novas políticas e regulamentações, à tecnologia verde, à economia sustentável e a novos modelos de negócio.
Ao longo de dois anos (com um orçamento de um milhão de euros), este piloto irá promover uma mais rápida descarbonização e transformação sistémica do Distrito C, replicando e/ou escalando as aprendizagens pelo resto da cidade.
Todas as ações terão o forte envolvimento dos cidadãos, atores locais e stakeholders.
Segundo Sofia Ferreira, vereadora do Ambiente e da Ação Climática da Câmara Municipal de Guimarães, o concelho está cada vez mais determinado em liderar o caminho para um futuro sustentável e carbono-zero. Como parte integrante do projeto NetZeroCities, a cidade vai utilizar o projeto “District C” como um laboratório social experimental para testar um conjunto de medidas inovadoras, com o intuito de atingir a neutralidade carbónica no centro da cidade.
“A nossa seleção como uma das 100 Cidades Europeias para a iniciativa ‘100 Climate-neutral and Smart Cities by 2030’, promovida pela Comissão Europeia, reforça a nossa vontade, e responsabilidade, de liderar pelo exemplo, contribuindo ativamente para a causa global da neutralidade climática”, adianta a responsável.
O “District C – Compromisso de Carbono Zero” é apenas um dos muitos projetos importantes que estão em andamento no município. Em Guimarães já existe um projeto em implementação – “Bairro C” – que é designado como os “Caminhos da Cultura e Criatividade”, com o objetivo de ser um laboratório de ideias assente em pilares culturais, criativos, de conhecimento e científicos. Com a candidatura ao NetZeroCities surgiu a ideia de se acrescentar mais um “C” a este bairro, com o objetivo de o tornar climaticamente neutro.
Assim, este projeto, o “District C”, apresenta uma abordagem integrada, concentrada em várias áreas-chave, incluindo energia, mobilidade, resíduos e uso do solo. “É muito inovador e pretende-se que promova uma mudança comportamental, assim como potencie a inovação social e a criação de novos modelos de negócio, financiamento sustentável e tecnologias verdes, tudo em busca de um futuro mais limpo e saudável”, sublinha Sofia Ferreira.
O pacto do cidadão é, na realidade, a peça central do projeto, com um forte envolvimento dos residentes locais. Os vimaranenses serão incentivados a adotar práticas mais sustentáveis em várias áreas, como é o caso da mobilidade. Nesta vertente, serão criadas medidas para desencorajar a utilização de veículos de combustão e veículos privados, promovendo a utilização da rede de transportes públicos e a melhoria do espaço público. Neste âmbito, o município já duplicou a frota de autocarros elétricos (contando atualmente com 26 novos veículos), tendo também alargado as suas rotas.
Já no setor edificado, serão promovidas a eficiência energética e a produção local de energia renovável, com novas políticas, regulamentação, um balcão único e modelos de financiamento inovadores, além da facilitação da instalação fotovoltaica e da reabilitação energética de edifícios históricos.
No que diz respeito aos resíduos e à utilização do solo, que são também áreas importantes do projeto, serão desenvolvidas estratégias de economia circular para valorização e redução de resíduos. Pretende-se também incentivar mais jardins privados na malha urbana e reforçar o corredor verde para aumentar a capacidade de sequestro de CO2, assim como melhorar a biodiversidade e utilizar resíduos orgânicos como fertilizantes, promovendo a bioeconomia.
Haverá ainda projetos para, por exemplo, reduzir a utilização de plástico no Mercado municipal, assim como integrar logística suave de proximidade e valorizar os resíduos deste bairro de forma a encerrar o ciclo.
Recentemente, Guimarães foi distinguida pelo CDP, uma organização que gere o sistema mundial de divulgação ambiental, como única cidade portuguesa na Lista A nomeada como líder na transparência e ação ambiental. Uma distinção que se renova pelo segundo ano consecutivo pelo trabalho que o município tem desenvolvido.
*Este artigo foi publicado na edição 103 da Ambiente Magazine.