Os biocombustíveis produzidos a partir de resíduos são a energia renovável que mais contribui para a descarbonização dos transportes. Aproximadamente 78% das emissões de dióxido de carbono na mobilidade são reduzidas com recurso a esta fonte energética. Se incluídos todos os biocombustíveis, o peso da redução é ainda maior, representando uma descarbonização do setor na ordem dos 96%.
A informação foi avançada por Ana Marisa Calhôa, secretária-geral da Associação de Bioenergia Avançada (ABA), que contrastou estes dados com o contributo de outras energias renováveis, mais conhecidas mas com resultados menos expressivos. O gás natural representa apenas 1% do contributo para a descarbonização dos transportes, ao passo que a mobilidade elétrica regista somente 0,5% das reduções de CO2 na mobilidade.
“Isto demonstra que quem tem contribuído quase exclusivamente para a descarbonização dos transportes tem sido a bioenergia”, sublinhou Ana Marisa Calhôa, durante uma intervenção na conferência B+ Summit. Não obstante, a secretária-geral da ABA reconheceu dois “bloqueios” que dificultam atualmente a produção nacional de biocombustíveis.
Na sua apresentação, Ana Marisa Calhôa afirmou que a produção de biocombustíveis em Portugal é muito inferior à capacidade disponível no país. “Nós estamos a utilizar cerca de 40% da produção que fazemos, o que significa que podemos utilizar ainda muito mais”, sustentou a responsável.
Por outro lado, a mistura de biocombustíveis nos combustíveis fósseis é igualmente reduzida, tendo condições consideráveis para aumentar. Em causa está particularmente o Diesel B7, com base nas normas europeias, que prevê a incorporação de 7% de biocombustíveis no gasóleo convencional.
Ana Marisa Calhôa observou que há possibilidade para “utilizar misturas mais ricas”. Para tal, fundamentou-se num estudo da ABA, o qual concluiu que os veículos pesados de passageiros mantêm um bom desempenho com misturas B25, e os pesados de mercadorias com B33. “Isto é o potencial que nós tínhamos para ir mais além com a utilização de misturas mais ricas”, garantiu a responsável.
Reconhecendo as “misturas mais ricas” como a maior problemática, juntamente com o facto de Portugal não estar a aproveitar toda a capacidade disponível para produzir biocombustíveis, a secretária-geral da ABA debruçou-se sobre alguns projetos, previstos e em funcionamento, que poderão contribuir para combater estes bloqueios.
A conclusão de Ana Marisa Calhôa é a de que, “se utilizássemos toda a capacidade que temos de produção”, “conseguiríamos substituir os combustíveis fósseis em cerca de metade do gasóleo que é utilizado, hoje, pelos transportes pesados”. Sem os atuais entraves, Portugal seria capaz de produzir cerca de 1.250 milhões de litros de combustíveis verdes para descarbonizar a mobilidade dos transportes pesados, segundo a estimativa da responsável.
Ana Marisa Calhôa apresentou os desafios e as oportunidades que Portugal tem pela frente se quiser reduzir a pegada carbónica da mobilidade de forma mais eficaz. E isso só será possível com o contributo dos biocombustíveis.
O B+ Summit decorreu entre os dias 26 e 28 de abril, no Centro de Congressos do Estoril, em Cascais. Esta foi a primeira conferência europeia dedicada à temática dos combustíveis verdes e o contributo que eles têm para a descarbonização da mobilidade pesada.
Por: Ambiente Magazine, no B+ Summit.