“Penas em Ação” foi o tema central do primeiro painel promovido no âmbito dos 20 anos da Proteção da Avifauna na Rede de Distribuição , uma atividade que junta a E-REDES e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Quercus, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Liga para a Proteção da Natureza (LPN). A celebração destas duas décadas de compromisso da E-REDES e dos seus parceiros com a biodiversidade foi assinalada no passado dia 10 de outubro, segunda-feira, em Lisboa.
Na primeira parte do painel, Filipa Capela, representante da E-REDES, deu a conhecer o “Penas”, o programa de investimento voluntário da empresa que é aplicado de acordo com aquilo que é definido nos Protocolos Avifauna, a parceria estabelecida entre as ONGA’s, a E-REDES e o ICNF e reconhecida a nível nacional: “Podemos ver o seu reconhecimento expresso na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 e também o compromisso com a Biodiversidade na política de ambiente da E-REDES”. O nono Protocolo da Avifauna reafirma o compromisso assumido desde 2002 e que se materializa através de um modelo de parcerias que junta vários especialistas no desenvolvimento e implementação de medidas ativas com vista à minimização do impacte das linhas elétricas na avifauna. Ao longo destes 20 anos, tal como explica a responsável, o método de trabalho tem sofrido alguma evolução: “A metodologia foi-se adaptando às ferramentas que foram surgindo”. A título de exemplo, investiu-se voluntariamente na “correção de linhas existentes” através do programa de investimento “Penas”, mas também através dos projetos cofinanciados “em cerca de 700 km de linha aéreas de média e alta tensão que estão distribuídas em áreas classificadas e fora de áreas classificadas”, havendo “630 km de linhas novas que já integram medidas de proteção de avifauna perfazendo cerca de 13% de linhas com medidas de proteção de avifauna dentro das áreas classificadas”. Neste momento, decorre o nono Protocolo de Avifauna e dois projetos: LIFE LxAquila e LIFE Safelines4birds. Este último, liderado pela Ligue pour la protection des oiseaux (LPO), visa reduzir a mortalidade das aves causada por linhas elétricas.
Foi precisamente em torno do LIFE Safelines4birds que Elise Boneau, representante da LPO, deu a conhecer os objetivos do projeto que iniciará em janeiro de 2023 e terminará em dezembro de 2028. Com um orçamento de 14.141.000 euros e com uma contribuição europeia de 67%, este é um projeto que envolve cinco países parceiros (França, Portugal, Bélgica, Alemanha e Estados Unidos da América) com o foco de reduzir o risco de “colisão, eletrocussão e perturbação” das espécies prioritárias, causado pelas linhas elétricas e pela sua manutenção. Com este projeto, pretende-se ainda adquirir e partilhar conhecimentos para avaliar e responder às interações entre as aves e linhas elétricas, sendo a participação portuguesa assegurada pela E-REDES , pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e pela Universidade do Porto.
Serão consideradas 13 espécies prioritárias alvo, destacando as que registam grande percentagem de mortes causadas por linhas elétricas, como a “águia-de-bonelli, com 55% das mortes causadas por eletrocussão, ou a cegonha-preta com 31%”, indica a responsável. Referem-se ainda as outras aves como o britango, o peneireiro-das-torres, o grou-comum, a águia-pesqueira, a cegonha-branca, a cegonha-preta, a galinhola-euroasiática, o maçarico-real ou abibe comum: “Todas estas espécies representam uma vasta gama de critérios, como o tamanho, os seus hábitos, o habitat onde vivem, a preferência por voar (dia ou noite) ou o alcance visual”, refere Elise Boneau.
Após o fim do projeto, espera-se que estejam instalados 4 mil dispositivos anticolisão, recorrendo-se a novos métodos com vista a uma melhoria de eficácia. Neste âmbito, será testado o American Avian Collision Avoidance System em dois locais em França e na Bélgica para depois replicar noutros países. Para a eletrocussão, serão equipados 825 postes com dispositivos de neutralização e dissuasão, bem como a instalação de plataformas de nidificação, especialmente para a cegonha-branca e para a águia-pesqueira. Também está prevista a alteração do design de postes de alto risco para prevenir a eletrocussão e a implementação da modificação nos postes mais perigosos, seguindo-se a instalação de poleiros em diferentes locais para evitar a eletrocussão de aves de rapina. Para a perturbação, privilegiar-se-á a utilização de veículos aéreos não tripulados, minimizar, quando possível, os trabalhos de manutenção nos períodos de nidificação, bem como a definição de áreas de grande sensibilidade para cada espécie do projeto. Por forma a potenciar o conhecimento, será desenvolvida e implementada uma app chamada “Avifauna e Linhas Elétricas”, onde serão recolhidos dados para obtenção de mais informação sobre a mortalidade e as interações entre as aves e linhas elétricas, recorrendo-se a câmaras inovadoras e de alta tecnologia para a recolha de dados. Também será criada uma plataforma europeia para partilhar conhecimentos e boas práticas, bem como uma “ferramenta específica para ajudar a escolher a melhor solução, de acordo com os seus problemas com as linhas elétricas” e ainda equipar com dispositivos GPS alguns espécimes de cegonhas-pretas.
*Ao longos dos próximos dias a Ambiente Magazine vai partilhando notícias sobre o evento que marcou os 20 anos do Programa Avifauna