O presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros (LPB), Jaime Marta Soares, considera que as autoridades têm de analisar com urgência o número elevado de incêndios que se têm vindo a registar no continente nos últimos dias.
Nos últimos dias têm-se registado um “número elevado” de incêndios, sendo que na quarta-feira um dos fogos, na freguesia de Cerva, concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, envolveu mais de 70 bombeiros e esteve perto de habitações.
Desde o início do ano, foram registados também, segundo dados da Guarda Nacional Republicana (GNR), vários incêndios causados por queimadas, alguns deles com vítimas mortais.
“Estes incêndios têm de ser analisados caso a caso. Não nos podemos esquecer de que só este ano já houve mais de 2.500 ignições. É uma coisa incrível e, por isso, há que refletir, saber o que se passa. Há também a registar um número exagerado de vítimas mortais resultantes de queimadas”, disse à agência Lusa o presidente da LPB.
No entender de Jaime Marta Soares, os peritos policiais têm de analisar estes incêndios para alertar as pessoas, para que se consiga criar uma cultura de proteção e defesa.
“Todas as pessoas que têm vindo a morrer nas queimadas são pessoas muito idosas, com mais de 65 anos, que têm mais dificuldades e que têm um grande sentido de responsabilidade, e que talvez não tenham interiorizado ou não lhes tenham feito chegar bem a mensagem que tem a ver com a proteção das casas, sujeitando-se assim a grandes riscos”, explicou.
Na origem do elevado número de incêndios dos últimos dias poderá estar também, segundo Marta Soares, a elevada proporção de combustível na floresta e as alterações climáticas.
“Estamos em abril. Tem chovido muito, mas de repente vieram uns dias com temperaturas altas e vento e ontem [quarta-feira] houve de facto muito vento, que é o maior inimigo. As pessoas não fazem bem a análise. Antigamente nas zonas próximas das casas havia cultivos e por isso não havia uma propagação tão rápida como agora”, contou.
Jaime Marta Soares disse não ter elementos suficientes para fazer uma melhor avaliação, mas considera que “qualquer coisa de anormal se está a passar”.
Contactada pela agência Lusa, uma fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou que na quarta-feira não houve risco elevado de incêndio, mas sim moderado e só nas regiões no norte do continente.
A GNR registou entre janeiro e fevereiro deste ano 72 crimes de incêndio florestal e instaurou, no mesmo período, 83 autos de contraordenação no âmbito do Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios, devido sobretudo a queimadas ilegais.
Os 72 autos de notícia por incêndio florestal envolveram a detenção de 27 pessoas, em flagrante delito, segundo os dados disponibilizados à Lusa pela GNR.
As 83 contraordenações foram registadas “essencialmente devido à realização de queimadas sem o respetivo licenciamento”.
Em 2017, a GNR registou 21.952 ocorrências associadas à problemática dos incêndios florestais, 9.864 crimes, 65 detidos por incêndio florestal, 919 pessoas identificadas e 4.578 contraordenações.
Segundo a GNR, em 2017 arderam mais de 527 mil hectares de mato e floresta, mais 367 mil hectares do que em 2016.