Os consumidores compram hoje mais 60% de roupa do que há 20 anos, o que levou ao aumento da produção e de resíduos têxteis, com grandes impactos ambientais, alertaram esta quarta-feira os participantes numa conferência sobre resíduos têxteis, noticiou a agência Lusa.
Esses impactos, afirmaram, não existem apenas quando as peças de roupa se transformam em resíduos, mas começam na seleção das matérias-primas, como o algodão, continuam na produção, no transporte, e ainda quando as fibras libertam microplásticos nas lavagens em casa.
Numa conferência ‘online’ sobre “O desperdício têxtil em Portugal: desafios e soluções”, organizada pela plataforma Zero Desperdício, de combate ao desperdício, especialmente de alimentos, lembrou-se também que a partir de 2025 os resíduos têxteis serão reciclados, como são agora os plásticos, o vidro ou o papel.
Carmen Lima, da associação ambientalista Quercus, falou do aumento de consumo de têxteis, com as pessoas a optarem hoje por roupas mais baratas e menos duráveis, e recordou que a indústria têxtil é das mais poluentes do mundo, sendo que, disse, apenas 01% dos resíduos têxteis produzidos em Portugal são encaminhados para a reciclagem.
Susana Lopes, da LIPOR, serviço de gestão de resíduos do grande Porto, disse a este propósito que na LIPOR há um aumento da percentagem de têxteis no lixo indiferenciado, “o que equivale a 31 mil toneladas de têxteis que vão para a incineração”, muitas delas que poderiam ser reutilizadas ou encaminhadas para a reciclagem.
Carmen Lima citou também estudos para dizer que para produzir um quilo de algodão são usados 1,5 quilos de substâncias químicas, que contaminam o solo e os cursos de água, e disse ser fundamental que os consumidores não “caiam na tentação das promoções” nem comprem por ser barato, ainda que não precisem, além de que devem ser “mais exigentes” em termos de impactos ambientais dos produtos. Uma ‘t-shirt’ tem “um consumo” de 2.700 litros de água, o equivalente ao que uma pessoa bebe durante 2,5 anos.
Susana Lopes alertou para outro problema que é o do aumento exponencial das compras ‘online’, que facilita e simplifica a compra e aumenta a produção de embalagens, e salientou a importância de reduzir a percentagem de têxteis colocados no lixo comum, e incentivar a reutilização e reciclagem.
Tiago Nicholas Vallechi, ligado ao setor das vendas e das marcas de roupa, lembrou que tem de haver sustentabilidade ambiental mas também financeira, alertou que é difícil mudar hábitos e que o consumidor vai sempre “escolher o mais barato”, e defendeu taxas ecológicas e que as empresas devem fazer tecidos já preparados para reutilização.
Segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, citados pela Zero Desperdício, em 2017 foram recolhidas cerca de 200.756 toneladas de têxteis nos resíduos urbanos, o que representa cerca de 4% do total de resíduos produzidos em Portugal.
“É urgente alterar esta situação para dar uma nova vida aos têxteis e reduzir a pegada ecológica fomentando a economia circular”, diz a plataforma Zero Desperdício, explicando que para dar resposta ao problema foi criado o projeto “Share2Use”, para combater o desperdício têxtil em Portugal.