Tem de haver mais investimento das câmaras municipais para estimular a produção agrícola local e sustentável, dizem os ambientalistas da associação Zero. Noticia esta quinta-feira o Público que, dos 308 concelhos portugueses, quase metade (135) responderam ao inquérito da associação sobre as hortas comunitárias municipais. Destes, cerca de 44% dos municípios disponibilizam os cidadãos espaços para poderem produzir alimentos. Um total de 59 concelhos e 69 hectares. Apesar dos “bons resultados, ainda não é suficiente”, diz Paulo Lucas.
O ambientalista da Zero reconhece que o estudo reflete uma “realidade limitada” mas “ilustrativa” daquilo que é o panorama de hortas criadas pelas autarquias em Portugal. Nesta amostra, há 3706 horticultores registados, mas ainda há espaço para mais de 1300.
Na maioria dos casos (58%), embora sem certificação, a produção é biológica, com uso de fertilizantes orgânicos, produzidos através da compostagem dos resíduos (95%). A esmagadora maioria daquilo que é produzido destina-se ao consumo próprio, enquanto os excedentes – um quarto da produção – são distribuídos pela comunidade ou instituições de solidariedade social.
O estudo da Zero conclui ainda que mais de metade dos talhões comunitários existentes estão completamente ocupados. “Este modelo de hortas comunitárias, ainda que seja embrionário em alguns concelhos, está a crescer”, nota Paulo Lucas. Há uma maior sensibilidade das autarquias para a necessidade de recuperar terrenos para a agricultura, apoiar a produção sustentável e os produtores locais, acredita.
Num ano de eleições autárquicas, o ambientalista defende que esta é “a altura certa para que os programas eleitorais contemplem a criação de hortas comunitárias e incentivos à pequena produção”. Esta já é uma “aposta ganha” em concelhos como Guimarães e Cascais, nota.
O município minhoto tem a maior área ocupada por hortas comunitárias, dos 59 questionados, cerca de sete hectares. Segue-se o Funchal (6 hectares), Lisboa (5,7 hectares), Porto (3,58 hectares) e Gaia (3,5 hectares). Cascais destaca-se pelo “modelo inovador de intervenção”: existem várias pequenas hortas distribuídas por todo o concelho, numa “verdadeira aposta da produção de proximidade”, defende Paulo Lucas.
Dos municípios que não têm hortas comunitárias, mais de metade manifestou interesse em investir nesse sentido. “Isto é uma estimativa otimista, mas esperemos nos próximos anos que o número de hortas municipais existentes duplique”, avançou Paulo Lucas.
O ambientalista reconhece que há “ainda um longo caminho a percorrer” que passa “fundamentalmente pela evolução da mentalidade”.
Para além do investimento direto na criação e dinamização das hortas comunitárias, reiteram a necessidade de facilitar a compra de produtos locais por parte das cantinas municipais, escolas, hospitais e instituições e a de criar bolsas de terrenos agrícolas municipais, com o objetivo de fazer aparecer novos produtores locais, valorizar a pequena produção e “evitar impates ambientais desnecessários”: