Associação diz máquina do Estado “não deixa fazer melhor” na recuperação da floresta
A máquina do Estado complica a recuperação da floresta, mas os incêndios de outubro de 2017 também levaram ao aumento de oferta de madeira que a indústria tem dificuldades em escoar, argumentou hoje o presidente da Centro PINUS.
Em declarações à agência Lusa, João Gonçalves, dirigente da entidade criada há 20 anos para a valorização da floresta de pinho e que reúne 24 associados, entre representantes da indústria, universidades e organismos estatais, além de outros, afirma que a associação é “uma pequena peça na engrenagem de uma máquina gigantesca” que gere a floresta portuguesa.
“Não conseguimos fazer melhor e é isso que me deixa frustrado. Se me colocassem a mim ou a si, mesmo rodeados da melhor informação técnica, entrávamos numa máquina que depois não deixa fazer melhor”, ilustrou.
“Vejo os meus colegas do ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas] serem crucificados, mas eles, às vezes, para executarem um trabalho, têm de pedir autorização ao ministério das Finanças e estar três meses à espera da decisão”, adiantou João Gonçalves.
O dirigente associativo sustenta, por outro lado, que os incêndios de outubro de 2017 na região Centro foram “a grande machadada no núcleo de pinhal de maior valor e de maior qualidade”.
“As árvores estão mortas nessas regiões e o que é necessário fazer é de facto tirar a madeira, explorar essa madeira e tirá-la de lá, para que venha a regeneração natural que nos permita ter manchas florestais novas, revitalizadas, com baixo valor de investimento”, frisa João Gonçalves.
O responsável da Centro PINUS defende a germinação das sementes de pinheiro, após o corte das árvores, pela regeneração natural, dando origem a um novo pinhal.
“O que é necessário fazer urgentemente é remover as árvores mortas, que podem ser utilizadas na indústria e aproveitar de imediato a regeneração natural que elas deixam”, reafirmou, embora admita que já passou praticamente um ano desde os incêndios e que as operações estão “um bocado” atrasadas.
“Custa-me um bocado julgar, porque sei que há complexidade na gestão dessas operações. Uma coisa é o que era desejável, desejaria eu que essas áreas estivessem já limpas e estivéssemos já à espera, porque estamos a perder tempo, de uma nova geração que nasce no pinhal”, sustentou João Gonçalves, para quem o atraso fica a dever-se à “complexidade inerente ao corte” e também à “sobreoferta conjuntural” de madeira, na sequência dos incêndios.
“O que ardeu é uma percentagem enorme do consumo. Houve um equilíbrio, porque estava deficitário, mas a indústria ficou com os parques cheios e ainda havia mais para cortar. As coisas deviam ser de outra forma, mas entendo as dificuldades que têm surgido para estarem tão atrasadas”, alegou o dirigente da Centro PINUS.
João Gonçalves aludia, nomeadamente, à situação do Pinhal de Leiria – destruído por um incêndio em cerca de 85% da sua extensão – uma área de pinheiro bravo “de qualidade altíssima”, quando comparada com as “recentes” áreas do Pinhal Interior “que são de qualidade média”.
“Faz sentido fazer referência ao pinhal de Leiria, porque era uma reserva de altíssimo valor, pinheiros daquela qualidade eventualmente no nosso país há muito poucos, não temos mais, núcleos daquela dimensão e qualidade não há mais nenhum”, observou o responsável associativo.
A Centro PINUS comemora os 20 anos de atividade com uma conferência, na sexta-feira, em Coimbra.