Empresas precisam de reformular-se para incluírem a sustentabilidade na sua prática
As empresas têm na sua lógica a rentabilidade da própria atividade, tentando dar resposta ao máximo de clientes que conseguirem. No entanto, num universo de população crescente, as necessidades da humanidade também aumentaram, sendo por isso necessário gerir os recursos da melhor forma.
James Vaccaro, senior advisor no Club of Rome, uma organização cujo objetivo é o debate crítico das maiores questões da atualidade, defende o modelo da reformulação regenerativa, para aplicar na área dos negócios uma consciência mais sustentável no que toca à preservação do meio ambiente. A ela está intrinsecamente associada a subsistência financeira.
“Porque é que nos enganamos tanto em relação ao futuro?”, questionou-se James Vaccaro, numa intervenção feita na Conferência Systemic, realizada dia 19 de maio nos Montes Claros, em Lisboa. O orador respondeu, de seguida, que, “em grande parte, continuamos a ver o futuro na perspetiva do velho paradigma”. Escapar à nova realidade é, por isso, inevitável, sendo preciso encontrar novas estratégias.
“O que sabemos é que os investidores estão a pagar de forma substancial investimentos com impacto. Mas, de acordo com uma nova pesquisa, não estão a pagar substancialmente mais por investimentos com mais impacto”, confirmou entretanto James Vaccaro.
Por outras palavras, o orador explicou que “não se está a receber crédito extra por se procurar as abordagens mais regenerativas”, sendo cada vez mais importante, segundo o próprio, pensar para além do mínimo de sustentabilidade. “Precisamos de ir mais além do simples ‘do no significant harm’”, defendeu.
James Vaccaro mencionou vários exemplos desta urgência, como a perda da biodiversidade, a degradação dos ecossistemas ou a falta de habitabilidade no planeta, para as gerações futuras, e sugeriu que se refletisse numa “Regenerative Redesign” (reformulação regenerativa, do inglês, em tradução livre).
Conhecer o ciclo dos produtos em que uma empresa está envolvida é essencial, especificamente procurando conhecer as intenções dos outros ‘stakeholders’ na cadeia de valor.
Neste conceito, é preciso primeiro avaliar os impactos múltiplos das atividades no meio ambiente. James Vaccaro mencionou, por exemplo, o aumento da diversidade e a mitigação das emissões, quando, num processo, são considerada todas as ações realizadas.
O orador falou, por exemplo, do ‘upcycling’ e da circularidade, que têm isso mesmo em conta: adquirir os recursos e produzir produtos conhecendo a cadeia que lhes está associada, nomeadamente em que circunstâncias eles foram obtidos.
De seguida falou sobre a “manufatura que restaura a natureza”. Por exemplo, na construção, investiga-se por edifícios que englobem caraterísticas – e que sejam erguidos com materiais – que respeitam princípios mais sustentáveis, para o ambiente e para a sociedade.
Estas medidas devem ter em conta o ciclo de vida dos produtos, evitando um olhar superficial do seu impacto no meio ambiente. Conhecer o ciclo dos produtos em que uma empresa está envolvida é essencial, especificamente procurando conhecer as intenções dos outros ‘stakeholders’ na cadeia de valor.
“Estes são alguns princípios que podemos usar como caso de teste no nosso próprio negócio, para que o possamos tornar mais regenerativo”, disse James Vaccaro. “E sermos capazes de ajustar o nosso ‘design’”, complementou.
é preciso pensar no nosso propósito: começa-se por perguntar o porquê? Como é que mudamos de objetivo? O que é que queremos realmente fazer?”
Com a crença de que os recursos são infinitos, vários desafios foram criados e agora é preciso resolvê-los; isto pode ser um problema, se continuamente olharmos numa base diária sem fazermos um esforço para pensar no que virá a longo prazo.
Assim, primeiramente, é preciso “pensar no nosso propósito”, referiu James Vaccaro: começa-se por perguntar o “porquê?”. “Como é que mudamos de objetivo? O que é que queremos realmente fazer? Como é que nos sentimos neste novo cenário quando ouvimos outras histórias”, explicou o orador. Depois, importa analisar aquilo que é alcançável no longo prazo: que diferentes recursos, sociais e ecológicos, vão ser preciso, em que circunstâncias e de que forma. Só assim, vamos ser capazes de conceber o nosso próprio modelo de negócio, para podermos fazê-lo funcionar no dia-a-dia”, terminou.
Na Conferência Systemic, falou antes Pedro Matos Soares, investigador na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Na vertente climática para 2050, “a água é a maior e mais relevante ameaça, porque se liga com os outros aspetos”, afirmou o investigador.
Por: Redação da Ambiente Magazine, na Conferência Systemic.