“Nunca foi tão difícil falar do futuro (…) como estas semanas que estamos a viver. Os eventos ocorridos nas últimas semanas estão a dominar tudo e todos porque nenhum de nós acreditava que isto fosse possível”. As palavras pertencem a Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que falou esta sexta-feira, 4 de março, no Seminário “América Latina e União Europeia: dois parceiros estratégicos na cena mundial. O Brasil, motor da recuperação pós-Covid”, promovido pela Casa da América Latina e a Fundacíon Euroamerica.
Num cenário marcado pelas incertezas, o autarca acredita que nada daquilo que é planeado ou pensado no momento, acontecerá no futuro: “Qualquer conferência sobre o futuro é uma conferência que pode levar-nos a pensar e a discutir para, de certa forma, tentar talhar esse futuro , mas que será seguramente muito diferente daquele que imaginamos”. Ainda assim, tendo a guerra na Ucrânia como exemplo, Carlos Moedas parece ter uma certeza: “Nada pode ser visto isoladamente. Podemos falar da América Latina, de Portugal ou da Europa, mas no mundo em que vivemos nada é isolado”. E quando se perspetiva sobre o futuro, esse pertence a todos: “É a nossa capacidade de mudarmos esse futuro”, afinca.
Olhando ao tema da conferência, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa prefere não questionar o futuro, mas sim o presente: “E agora? E agora o que fazemos? Qual é o papel da Europa e o papel América Latina para definirmos em conjunto o nosso rumo? Qual vai ser o resultado desse rumo?”. Para o autarca há duas respostas que devem ser dadas no imediato: “Uma ao nível das grandes regiões na América Latina e da Europa; e outra ao nível das cidades: serão mais do que nunca as plataformas de resolução no concreto dos problemas do agora”.
No que à digitalização, às alterações climáticas ou à guerra diz respeito, Carlos Moedas defende que são as cidades as responsáveis por aquilo que deve ser feito em concreto: “Como vamos olhar para os grandes projetos ligados às alterações climáticas e atuar nas cidades?” Para o autarca, é através das respostas a este tipo de perguntas que se conseguirá a adesão das pessoas e o sucesso dos projetos.
Olhando para situação atual, Carlos Moedas apontas três objetivos para serem postos em prática no imeadiato. O primeiro assenta na “segurança” e na “defesa”: “Portugal e Espanha têm a responsabilidade de ser a ponte para a Europa de toda a nossa América Latina”. O segundo abrange a economia e tem que ver com a aposta cada vez mais forte das relações comerciais entre as regiões: “É a capacidade de ligação e conectividade entre a América Latina e a Europa que nos pode ligar. Nada é mais importante do que ter conectividade pois o mundo deixou de ser geografia e passou a ser conectividade”. O último objetivo centra-se na cultura: “A cultura está no centro do meu projeto em Lisboa”. Para Carlos Moedas, a ligação cultural entre a América Latina e Portugal é a garantia de existir mais inovação: “Nos dias de hoje, a inovação não só depende da tecnologia, mas também da coligação com a cultura”, afinca.
“São estes três pequenos exemplos, mas urgentes que podemos fazer juntos: nada pior na política do que sermos vagos”, defende.
*Foto: Twitter de Carlos Moedas